domingo, 2 de dezembro de 2012

No Médico

Eu estava em um posto de saúde, esperando para ser atendida. Havia bastante gente ali, também esperando. Uma enfermeira apareceu chamando:
-- Carolina.
Ninguém se manifestou. Ela chamou novamente:
-- Carolina Oliveira!
Nada. Uma das mulheres que esperava disse que havia uma garotinha ali chamada Carolina, mas que ela havia saído. A enfermeira foi até a outra ponta do corredor e chamou de novo:
-- Tem alguma Carolina Oliveira aí? Carolina Oliveira!
Nada. Ela acabou por desistir e chamou outra pessoa para ser atendida.
Depois de quase quinze minutos, apareceu uma mulher com uma menina - a tal Carolina. As mulheres que estavam por ali disseram:
-- O nome dela é Carolina?
-- Sim...
-- Já chamaram ela.
-- Já!? Quando!?
-- Faz um tempinho já. A enfermeira chamou um monte de vezes, mas você não estava aqui...
Um pouco desesperada, a mulher foi até o lugar onde a enfermeira estava e conversou com ela, mas a enfermeira disse que, como outra pessoa já havia sido chamada e a sala estava lotada, eles teriam que remarcar a consulta. A mulher ficou simplesmente revoltada, e começou a discutir com a enfermeira (eu estava longe e não consegui ouvir o que diziam). Até que a mulher deu as costas para a outra e saiu, xingando baixinho. A enfermeira ainda foi atrás:
-- Espera, senhora... A gente chamou várias vezes, mas a senhora não estava aqui, por isso...
-- É claro que eu não estava aqui! Você queria o que? Que eu ficasse com a bunda na cadeira esperando vocês me chamarem? É claro que eu não ia ficara aqui sentada esperando vocês me chamarem, até porque eu tinha acabado de chegar!
Eu e as outras pessoas na sala nos olhamos, dizendo telepaticamente "é, você tinha que ficar sentadinha aqui esperando, minha filha". A mulher não quis ouvir os pedidos de desculpa da enfermeira: deu as costas e foi embora, arrastando a menina.

Moral da história:
Ser atendido rápido em um posto de saúde é ruim;
Ficar sentado cinco minutos esperando atendimento é intolerável;
Se você está aguardando atendimento, não há nada de errado em sair passeando pela rua e voltar meia hora depois;
Se você estiver com a sua filha de sete anos, seja o mais grosso possível com as pessoas e xingue bastante, para que ela aprenda como se comportar no futuro.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Teorias Dimensionais, Cosmológicas e Temporais

Uma série de teorias e pensamentos loucos que estão na minha cabeça nesse momento, apresentados sem muita ordem e talvez sem muita lógica:

Nós sabemos que somos seres que existem em três dimensões que chamamos de dimensões espaciais (altura, largura e profundidade), além de existirmos de alguma forma em mais uma, que chamamos de dimensão temporal ou tempo. Mas existem mais dimensões, dimensões que não podemos perceber, que nossos sentidos não permitem perceber. Só porque não percebemos algo, não quer dizer que não exista.
Uma coisa que me intrigou muito quando era criança foi descobrir que certos animais enxergavam cores que os humanos não enxergam, como o infra-vermelho e o ultra-violeta. Uma coisa é imaginar um cachorro ouvindo um som tão alto que não podemos escutar (porque, conforme o som se torna mais agudo, realmente parece que ele vai sumindo); outra é tentar fazer o mesmo com cores. As cores não vão "sumindo" conforme vamos seguindo o espectro. É bem estranho tentar imaginar uma cor tão viva quanto um vermelho ou azul, e que não podemos enxergar. Algo parecido me vem à cabeça quando tento imaginar dimensões tão sólidas quanto essas em que existimos, mas que não podemos ver.
O próprio tempo pode ser uma dimensão na qual só existimos parcialmente. É uma conclusão a que chego sempre que penso nisso. Não é algo estranho o tempo? Uma dimensão pela qual passamos o tempo todo, mas sem nunca enxergarmos nada além do ponto em que estamos naquele exato momento. Como... Como um ser unidimensional passando por uma reta. Ele sabe que a reta está lá, de alguma forma aquela bidimensão exerce influência sobre seu ser unidimensional, mas não pode ver nada além do ponto em que está, e que muda incessantemente. É difícil definir se ele existe naquela dimensão, ou se é apenas influenciado por ela. As vezes eu acho que não existimos na dimensão que chamamos de "tempo", é apenas uma dimensão que percorremos.
Não sei se vocês entendem o que estou tentando dizer. É um conceito estranho para ser explicado assim.
Imaginem, então, que o tempo seja uma quarta dimensão, e que existam seres que existam nessa quarta dimensão - existam de verdade, e não apenas "passem" por ela. Consequentemente, o que chamamos de "tempo" não existiria para esses seres; como seria um universo sem esse tempo? A teoria antiga do Big Bang diz que, sendo a explosão o princípio de tudo, não havia o tempo antes dela, e já é bem difícil imaginar a ausência de tempo em um universo vazio; imaginem em um universo povoado, com seres como nós. Seriam seres realmente eternos, ou haveria uma quinta (ou sexta, ou sétima) dimensão pela qual eles passariam, e que serviria como uma espécie de dimensão temporal para eles? E como seria enxergar um mundo em que passado, presente e futuro tem o mesmo significado de altura e comprimento?
Mais estranho ainda: como esses seres, que vivem na quarta dimensão, enxergariam a nós, que estamos o tempo todo passando por ela? Ou seja, como a reta enxerga o ponto? E como o ponto enxerga a reta? Ele não tem capacidade para ver nada além de outros pontos. Se há um ser que vive todo o tempo ao mesmo tempo (isso está ficando confuso), nós o enxergaríamos ao redor de nós, o enxergaríamos como parcialmente sendo parte de nós, ou simplesmente não o enxergaríamos?
Seriam esses seres que vivem na dimensão tempo, aquilo que definimos como seres sobrenaturais?
Vamos aumentar o número de dimensões; vamos supor que exista um número muito grande (porque "infinito" não é matematicamente bem vindo) de dimensões, das quais existimos completamente em três e parcialmente em uma. Se existem seres que vivem nas outras dimensões, e somente naquelas em que não existimos, jamais um terá como saber da existência do outro (a não ser por algum ser que sirva de ponte). Mas se existem seres que existem, pelo menos em parte, também na nossa dimensão, como os veríamos? Por exemplo, vamos supor seres que, além de altura, largura, comprimento e tempo, também vivenciem mais duas ou três dimensões. Eles existem plenamente nas nossas dimensões, podemos vê-los, toca-los, medi-los. Mas não podemos vê-los por completo, não podemos vê-los como realmente são. Talvez o que eu veja como um corpo seja muito mais do que isso, mas não existe em nosso plano físico - o que, pensando agora, faz com que esses outros seres nos vejam de uma forma bem bizarra. Não consigo imaginar seres que existem em menos dimensões do que nós, pois mesmo os menores seres possuem três dimensões, e existem no tempo. Seria como nos depararmos, de repente, como um ser com comprimento e largura, mas sem profundidade - uma folha de papel, mas não apenas algo "fino", e sim algo que realmente não existisse na dimensão "profundidade".
E se nós mesmos existirmos em mais dimensões do que supomos? Se o que chamamos de "alma" de fato existe, ela só pode estar em uma dimensão a que não temos acesso. Quando dizemos que a alma esta "dentro" do corpo, é apenas uma metáfora - na verdade ela ocupa uma dimensão à qual não temos acesso. E se ela existe por completo na dimensão tempo - e não apenas "passa" por ela - então ela seria realmente imortal; não no sentido de que dura para sempre, mas no sentido de que o tempo não passa, apenas existe assim como o espaço. Não seria algo que dura para sempre, e sim algo que sempre existiu, sem começo nem fim.
E se o que chamamos de alienígenas - se é que existem - também forem seres que ocupam outras dimensões? Nesse caso, eles também ocupam a nossa - se os relatos forem verdadeiros, nós podemos vê-los, tocá-los - mas diversas coisas que são misteriosas em relação a eles talvez indiquem não o domínio de uma tecnologia superior, mas sim a existência em uma realidade além da nossa. Não há nada de sobrenatural nisso; pode acontecer. Isso poderia explicar o fato de seres de mundos muito distantes conseguirem viajar até nós; talvez o sentido de tempo não exista para eles, ou talvez eles peguem atalhos por dimensões que para nós são desconhecidas.
E que poderes teriam sobre nós aqueles que ocupam dimensões que nós nunca poderemos sequer imaginar?
Basta pensar um pouco no universo, e fica fácil perceber o quão limitados e frágeis nós somos, pelo menos em nossos corpos. Talvez a libertação da alma nos faça mais fortes, mas em um sentido que essa existência jamais conseguirá entender em sua plenitude.
Existem evidências de que os animais, e talvez até nós, têm algo que costumamos chamar de sexto sentido. De fato, observando alguns acontecimentos, parece realmente haver uma espécie de "conexão sobrenatural" entre as coisas. A mãe que pressente algo em relação ao filho, o cachorro que adivinha a hora em que seu dono vai voltar para casa, animais que pressentem catástrofes, entre outras coisas estranhas. Talvez essas coisas não tenham nada de místico; apenas sejam coisas que aconteçam em uma dimensão que os sentidos do nosso corpo não consigam captar. Talvez a alma consiga, e é por isso que temos leves experiências desse tipo esporadicamente; talvez os animais tenham uma vivência ainda maior dessa dimensão, e por isso é mais comum que observemos esses comportamentos "estranhos" neles. Talvez exista realmente algo que liga tudo, uma espécie de corda, ou talvez estejamos todos mergulhados em algo, e possamos sentir as reverberações que acontecimentos causam nesse "algo", mesmo separados nas dimensões que nos são visíveis.

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Esse texto termina meio abruptamente porque, como eu disse no início, não passa de uma série de pensamentos que de vez em quando rondam a minha cabeça e sobre os quais gosto muito de conversar, mas que não têm uma forma bem definida. Acabei de assistir dois episódios de Ancient Aliens (History Channel) e um documentário chamado What Happened Before the Big Bang (BBC) que deixaram minha cabeça tão cheia dessas ideias que eu tive que escrever em algum lugar.

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Se esse texto que escrevi está minimamente inteligível, é graças aos meus pais, à Le, ao Glaucio e ao Brenno, com quem eu posso conversar sobre esse tipo de coisa sem parecer louca, e graças aos quais consigo organizar meus pensamentos.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A Descendência de Adão e Eva

Mesmo quem não lê a Bíblia já ouviu a história: Deus criou o primeiro homem, Adão, a partir do barro, e criou Eva, a primeira mulher, usando uma costela de Adão. Os dois moravam no Jardim do Éden, mas desobedeceram a Deus e foram expulsos de lá. Uma vez saídos do Jardim do Éden, eles perderam sua imortalidade e tiveram a obrigação de se reproduzir. Tiveram dois filhos, Caim e Abel, mas Abel foi morto por Caim. Caim foi obrigado a ir embora para terras desconhecidas, onde se casou e gerou toda a descendência humana. E é aí que começa uma série de equívocos, relatos duvidosos, erros de interpretação e possivelmente manipulação dos escritos originais, que tornam essa história bíblica algo ininteligível.
Antes de prosseguir, aviso novamente que sou atéia (como o nome do blog sugere), logo a intepretação que farei aqui não é religiosa. Mas leio a bíblia há muito tempo, acho um livro interessante com relatos interessantes, que permite interpretações diversas, mesmo se levarmos em conta apenas a questão do registro histórico. Tento aqui apenas fazer uma interpretação da história que é contada, independente de ter acontecido ou não (eu não acredito nela, mas isso não interfere em nada).
Vamos à história. Logo no início do Gênesis (Gn 3.22-24) Deus expulsa Adão e Eva do Éden, e Eva dá a luz a Caim e Abel (Gn 4.1-2). Não é dito, em nenhum momento, em que lugar isso ocorre, nem onde a família está instalada. Por uma razão fútil, Caim mata Abel e Deus o expulsa (Gn 4.8-16). E aí já existe algo errado. Lembrando que estamos lidando aqui com a ideia cristã de um Deus oniciente e onipresente, e que Adão, Eva, Caim e Abel ainda eram os únicos habitantes da Terra, esse trecho não faz sentido. O Gênesis 4.14-16 diz: "Eis que hoje me lanças da face da terra, e da tua face me esconderei; e serei fugitivo e errante na terra, e será que todo aquele que me achar me matará. O Senhor, porém, disse-lhe: Portanto, qualquer que matar a Caim sete vezes será castigado. E pôs o Senhor um sinal em Caim, para que não o ferisse qualquer que o achasse. E saiu Caim de diante da face do Senhor e habitou na terra de Node, da banda do oriente do Éden".
Há duas coisas estranhas com esse relato. Primeiramente, a ideia de que Caim "saiu de diante da face do Senhor" e se exilou em uma terra distante. Mas se Deus é onipresente, seria impossível para alguém "fugir" dele, e a ideia de ir para uma terra distante para se esconder seria absurda. Mas esse não é, nem de longe, a coisa mais incoerente aqui. Lembrando de novo que não havia outros seres humanos além da família de Adão, o que Caim quer dizer quando diz que "aquele que me achar me matará"? Afirmação essa que é corroborada por Deus, ao marcar Caim para que ele não seja morto. Essa afirmação nos leva a duas possibilidades: ou Adão e Eva não foram os primeiros seres humanos, ou não foram os únicos. De fato, continuando a leitura da bíblia, em vários momentos - e não só no Gênesis - podemos concluir que havia outras pessoas, até mesmo outros povos, existentes na Terra, sem nenhuma relação com Adão e Eva.
Continuando a leitura, vemos que em seu exílio, Caim se casou (com uma mulher não identificada) e teve filhos. Já vi algumas interpretações que dizem que essa mulher era na verdade irmã de Caim, mas isso não só não faz nenhum sentido no contexto, como não é citado pela bíblia. A bíblia cita, posteriormente, que Adão e Eva tiveram outros filhos e filhas, e embora algumas interpretações digam que esses filhos nasceram antes da expulsão de Caim, eu não acho isso coerente; principalmente porque ela dá ênfase ao nascimento de Caim e Abel, parecendo querer indicar que eles tinham idades próximas e eram os únicos até o ocorrido. Não é comum que na bíblia se cite um fato para depois se citar o nascimento da pessoa (pelo menos foi o que eu percebi; me corrijam se estiver errada).
Vamos parar de seguir a descendencia de Adão por aqui, porque já cheguei aonde pretendia, e vamos discutir sobre essa questão. A bíblia realmente se propõe a contar a história da criação do ser humano? Ou não seria a história de uma família, uma descendência, de um homem e uma mulher "criados" - não vamos discutir aqui o significado desse termo - por Deus, mas de forma alguma os primeiros, muito menos os únicos seres humanos?
Em várias outras partes da bíblia encontramos relatos que corroboram a segunda hipótese. No Êxodo, é afirmado que o povo de Israel é o povo de Deus (Êx 3.10, entre outros). Teria Deus renegado parte de sua próprias criação? Eu não interpreto dessa forma. Me parece muito mais crível que apenas o povo de Israel representasse realmente a descendência de Adão e Eva; o resto da humanidade (que, me parece, era a maioria da população da época) não havia sido criada por Deus, ou não descendia de Adão e Eva. Se pensarmos que todo o relato da bíblia se passa aproximadamente na mesma região (não são citados, por exemplo, o continente americano ou a Oceania, que eram habitados), isso fica ainda mais claro. Por uma simples questão temporal e geografica, a própria bíblia nos faz deduzir que esses povos, e diversos outros, não pertenciam ao povo de Deus, seja por não terem sido criados por ele, seja por não descenderem de Adão e Eva.
É óbvio que, para aqueles que enxergam a bíblia como uma fonte de verdade, tal afirmação soaria absurda. Deus criou tudo o que existe e Adão e Eva foram os primeiros seres humanos, tendo toda a humanidade descendido deles. Mas uma vez que aqui estou considerando que a bíblia não é mais do que um relato ficcional (ou, no máximo, "levemente baseado em fatos reais"), a hipótese de que a intenção do livro não é relatar a história da humanidade, mas sim a história de um povo - o povo descendente de Adão e Eva - me parece muito crível, e trechos que corroboram isso estão espalhados por todo o livro. É interessante, para quem ficou curioso sobre a questão, pesquisar sobre o assunto. Uma vez que a bíblia é praticamente escrita em código, essa é uma questão que pode nos tomar longas horas de pesquisa e gerar diversas teorias bastante interessantes.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Solidão

Existem pessoas que nasceram para ser sozinhas.
Pessoas que estarão sozinhas mesmo que todas as pessoas do mundo estejam ao seu lado.
Pessoas que estarão sozinhas mesmo que tenham amigos, mesmo que tenham alguém que as ame, mesmo que amem alguém.
Essas pessoas, de certa forma, precisam da solidão.
Algumas vezes essas pessoas podem ter família, ou podem viver vom outras, mas elas não desejam isso. Essas pessoas precisam de uma casa solitária na qual serão o único morador. Elas precisam estar a sós com elas mesmas. Elas precisam sentir que sua solidão tem uma razão de ser, mesmo que não o tenha.
Essas pessoas sentem uma tristeza doce. Sentem um vazio dentro delas que é como o vazio do universo. Essas pessoas olham para as luzes da noite e elas lhe dão recordações de coisas que nunca viram.
O vazio que essas pessoas sentem faz parte delas, e é impossível preenche-lo. Há certa doçura nisso. Há certa beleza em se olhar o céu da noite e sentir o vento te atravessar como se você não existisse.
Normalmente, esse vazio quase não é sentido. É uma dor permanente com a qual essas pessoas aprenderam a conviver desde que nasceram. Esse vazio faz parte delas, é parte essencial de sua existência, sem ele elas não seriam quem são. Mas quando acontece algo e esse vazio é momentaneamente preenchido - existem muitas coisas que podem preenche-lo momentaneamente - a dor se torna muito maior, muito mais perceptível, o vazio se torna ainda mais vazio. Como se o nada pudesse se tornar maior.

Existem pessoas que nasceram para ser sozinhas.
Nada pode preencher de verdade, para sempre, o vazio que existe na alma dessas pessoas.
Mas há uma certa doçura nisso.
Como a doçura de se olhar um céu vazio e ver apenas estrelas distantes nele.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Homens Inteligentes

Existem muitas coisas que são essenciais para que eu me apaixone por alguém. Mas talvez a mais essecial de todas, aquela que eu realmente nunca abri mão, é que a pessoa seja inteligente.
Eu tenho o meu "tipo", claro. Gosto de homens muito altos, brancos, com pêlos (não gosto dos "lisinhos"), com barba, de olhos claros, e magros ou fortes (nunca gordos). Porém, já me apaixonei por morenos, por homens não tão altos (até menores do que eu!), que tinham menos pêlos no corpo do que uma mulher. Mas nunca me apaixonei, nem acho que teria o menor interesse, em um homem burro.
A inteligência é algo extremamente atraente em um homem. O saber demonstrar essa inteligência também. Se um homem é inteligente e sabe demonstrar isso de uma forma que não seja arrogante, ele pode se tornar mais atraente do que alguém muito mais bonito do que ele. Chego a afirmar que a inteligência torna dispensável quase todos os outros atributos físicos.
Quando eu era adolescente, por volta dos dezesseis anos, me apaixonei pelo meu professor. Ele não era bonito (embora também não fosse feio) e tinha o dobro da minha idade, mas era inteligente, romântico, e falava coisas que me deixavam simplesmente fascinada. Nós trocávamos textos filosóficos, de autoria própria ou de autores consagrados. Tínhamos conversas sobre o sentido da vida, sobre literatura, sobre o ser humano, sobre crenças, sobre amor. Além de inteligente, ele era carinhoso, gentil... Vou parar de falar nele antes que me apaixone de novo.
O fato de a maioria das garotas se apaixonarem por um professor ao menos uma vez na vida é a prova de que um homem inteligente vale mais para uma mulher do que qualquer moleque bonito e gostoso mas sem nada na cabeça. Entre os quinze e os dezessete anos estamos cercadas de adolescentes, muitos no auge da beleza, mas sem nada a oferecer além disso. Um homem menos atraente, mas inteligente, culto, nos enriquece muito mais, nos ajuda a crescer, a amadurecer, a ver novos sentidos na vida.
Outra coisa que torna a inteligência mais valiosa do que a beleza é a efemeridade desta. Por mais que um homem seja incrivelmente bonito, nós sabemos, por instinto, que uma hora aquela beleza começará a decair, até desaparecer. Alguns homens atingem o auge da beleza por volta dos quarenta anos; mas pouquíssimos são os que permanecem atraentes depois dos sessenta. Depois dos setenta, nem se fala. Já com a inteligência acontece o contrário: ela se aprimora com o tempo, se refina, aumenta, está em constante evolução. Se você está com um homem inteligente de vinte e poucos anos, tem  certeza de que daqui a quarenta anos ele será tão ou mais inteligente do que agora. Já com a beleza, não há nada garantido.
Mais uma coisa valiosa na inteligência: ela se espalha. Se estamos com um homem bonito, a única coisa que ganhamos com essa beleza é a satisfação pessoal. Já se estamos com um homem inteligente, um homem que nos proporciona conversas profundas e momentos de reflexão, nós mesmas vamos evoluindo, crescendo, melhorando.
Estar com alguém que nos proporciona conversas interessantes, que tem conhecimentos acima da média, que aprecia a cultura, que sabe se expressar e que sabe usar isso a seu favor é muito mais interessante do que estar com uma pessoa atraente fisicamente, mas incapaz de manter uma conversa de nível, ou incapaz de apreciar nosso próprio nível intelectual. Afirmo mais uma vez, e tenho certeza de que muitas concordarão comigo: homens inteligentes são melhores. Sempre.

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Comecei a pensar em alguns homens inteligentes que conheço, e acho que estou momentaneamente apaixonada por eles.

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Se além de inteligente, o homem também for bonito, as coisas ficam ainda melhores.

sábado, 27 de outubro de 2012

Em Busca dos Desenhos Perdidos - Atualizado em 17-03-2013

Quando eu era criança, eu assisti um desenho simplesmente maravilhoso. O desenho me deixou tão fascinada que, mesmo só tendo visto ele uma vez, me lembro de muitas coisas da história, inclusive cenas e falas. Eu não sei em que época foi isso, mas algo me diz que foi quando eu morei em Minas, entre 1994 e 1998.
Não haveria nada de impressionante no fato de uma criança de apaixonar por um desenho aleatório, se não fosse o fato de que eu não conheço ninguém, absolutamente ninguém, que tenha visto o tal desenho. Por mais que procure no Google não encontro nem sinal dele. Eu não me lembro do nome, mas lembro a história, e isso deveria bastar para encontrar, nem que fosse nos recantos mais remotos da internet, pelo menos uma pessoa que tenha ouvido falar nesse desenho. Mas eu não encontro. Como se ele nunca tivesse existido.
Vou deixar aqui o que eu lembro sobre esse desenho, para provar que não sou louca, ou que minha imaginação infantil merecia um oscar caso eu tenha inventado o que acho que lembro:

A história fala sobre uma menina que ganha de presente um pote mágico de mingau. Pelo que me lembro, quem dá esse pote para ela são seres mágicos (pequenas fadas ou duendes talvez), mas não tenho certeza. Esse pote produz sozinho o melhor mingau do mundo, e para que ele faça isso, basta que alguém diga "cozinhe, pote". Para que ele pare de fazer o mingau, a pessoa deve dizer "pare de cozinhar, pote". A menina começa a usar o pote para produzir o mingau para ela e seus amigos.
Só que um homem mau de alguma forma (que eu não me lembro) descobre como o pote funciona e o rouba. E passa a vender o mingau que o pote produz, e a cidade inteira faz fila para comprar, afinal aquele é o mingau mais gostoso do mundo. Só que são muitas pessoas querendo o mingau e o homem, ganancioso, começa a mandar o pote produzir mais e mais. O pote acaba produzindo mingau demais, o mingau transborda, inunda a casa toda e depois a cidade toda (a cena é bem surreal). A menina que era a dona do pote começa a procurar por ele, navegando pelo mar de mingau numa canoazinha (e com a ajuda de mais gente, eu não me lembro bem). Para que o pote pare de inundar a cidade com mingau, a menina fica falando sem parar "pare de cozinhar, pote", enquanto o procura.
Eu não lembro exatamente do que acontece depois, mas sei que a menina encontra o pote e faz com que ele pare de cozinhar o mingau. A inundação acaba, e ela entrega o pote de volta para quem havia dado para ela. Esses seres então entregam o pote para o irmãozinho dela, que se não me engano, vivia com as fadas na floresta (mostra uma cena dele recebendo o pote, sentado em uma planta se não me engano). Acho que acaba aí.

De tudo isso, a cena que mais me fascinou foi a da inundação de mingau e a frase "pare de cozinhar, pote". Se alguém já ouviu falar desse desenho, sabe o nome ou lembra de qualquer informação a mais, por favor compartilhe.

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Existe um outro desenho, que devo ter visto mais ou menos na mesma época, que eu também me apaixonei embora não me lembre tão bem, e sobre o qual eu também não encontro nenhuma informação ou pessoa que tenha visto. O que eu me lembro dele é o seguinte:

O desenho começa com duas crianças, um menino e uma menina, que são vizinhos e muito amigos (namorados?). Há uma espécie de marquise que liga as casas deles, e logo nas primeiras cenas mostra os dois sentados ali, conversando, até que as respectivas mães os chamam e os dois voltam para casa, se arrastando pela marquise e entrando pela janela.
Depois disso, eu não tenho a menor ideia do que acontece. Só sei que uma bruxa má que mora em um castelo de gelo, em um lugar cheio de neve, congela o coração do menino e o faz ir até ela. A menina vai atrás, tentando salva-lo, acontecem várias coisas, mas quando ela encontra o menino ele já teve o coração congelado, logo está frio com ela e não a quer. Eu acho que a menina chega a entrar no castelo de gelo, mas não me lembro o que acontece depois ou qual é o final.


O que mais me impressionou quando vi esse desenho foi a metáfora do coração congelado. O fato do menino, que amava tanto a menina, se tornar completamente frio e indiferente a ela, se tornar uma pessoa má como a bruxa. É um tema bastante pesado, nos limites do universo infantil. Mais uma vez, se alguém tiver qualquer informação sobre esse desenho, por favor compartilhe.

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ATUALIZADO EM 17-03-2013

E a internet mostra o seu poder! Graças aos leitores do blog, consegui localizar os dois desenhos. O primeiro é uma animação russa e se chama O Pote de Mingau (o título original russo é Gorshochek Kashi). Não consegui muitas informações a respeito nem o vídeo em português, mas no YouTube tem o desenho no original em russo e dublado para o inglês (links abaixo).

The Pot of Porridge (O Pote de Mingau - dublagem em inglês):



Gorshochek Kashi (O Pote de Mingau - original em russo):




O segundo desenho também é russo (Rússia dominando os desenhos da nossa infância!) e se chama A Rainha da Neve (ou Snezhnaya Koroleva no original russo). O desenho tem nada menos do que 56 anos! Foi produzido em 1957 por Lev Atamanov, baseado no conto do grande Hans Christian Andersen. Existem vários desenhos, filmes e peças que contam essa mesma história, mas na minha opinião nenhuma supera a versão de Lev Atamanov. Novamente não encontrei o desenho com a dublagem em português, mas achei o original russo com legendas em inglês, e também a dublagem em inglês (links abaixo).

Snezhnaya Koroleva (A Rainha da Neve, original russo, legendas em inglês):



The Snow Queen (A Rainha da Neve, dublado em inglês):




Recomendo a quem gosta das histórias que faça o download, pois nunca se sabe quando um vídeo do YouTube irá sumir (mesmo quando não há problemas com direitos autorais, se o usuário que postou deletar a conta, o vídeo é excluído).

Por fim, deixo aqui meus agradecimentos a todos os leitores que me ajudaram a encontrar esses desenhos (ou melhor, ajudaram a todos nós!). Agradecimentos especiais à Karoline, que sabia os nomes dos desenhos (o que me possibilitou encontrar A Rainha da Neve no YouTube) e ao leitor ou leitora anônimo que deixou o link para O Pote de Mingau dublado em inglês. Adoro vocês seus lindos =)

domingo, 21 de outubro de 2012

Correndo

Eu costumava gostar de correr.
Mais do que isso. Além de gostar de correr, eu costumava correr mesmo.
A maioria das pessoas, quando diz "eu vou correr", está se referindo a fazer uma corrida controlada, sob uma velocidade constante e um tempo pré-definido, seguindo algumas regras básicas de postura e respiração, com o objetivo de praticar algum tipo de atividade física e perder alguns preciosos quilos.
Não é a isso que eu me refiro, quando digo que costumava correr.
Eu costumava correr mesmo.
Para mim, correr era aquilo que fazíamos quando precisávamos pensar, ou quando queríamos fugir do mundo, ou quando simplesmente havia uma reta enorme na nossa frente. Eu corria loucamente, desesperadamente, como se fugisse da morte - ou como se a perseguisse. Não havia um ambiente controlado: eu corria mais rápido se aguentasse, mais devagar se não aguentasse, respirava conforme meus pulmões pediam ar, engolia vento e tinha que parar com dores na barriga, voltava a correr antes do corpo se recuperar, corria em subidas sem ir mais devagar, em descidas sem nenhum metódo que dificultasse uma queda, tropeçava e caía e levantava e voltava a correr, e normalmente chegava ao destino encharcada de suor, com os joelhos e as mãos sangrando, com os pés em brasa caso corresse descalça - e muitas vezes com cacos de vidro e outras coisas pontudas fincadas neles - com o coração descompassado e com a respiração totalmente irregular. Além, é claro, das dores e pontadas em todo o corpo.
Era delicioso.
Eu corria até estar tão exausta que o corpo simplesmente parava de funcionar. Já caí de cansaço no meio de uma corrida e fiquei deitada no chão, sem conseguir mover um músculo, até que alguém de bicicleta caiu em cima de mim ao tentar não me atropelar e acabamos tendo uma briga física violenta. Já tropecei no meio de uma corrida e voei por vários metros até atingir o chão de asfalto, que ficou com metade do sangue das minhas mãos. Já corri por horas, praticamente sem parar, e no final me sentia a pessoa mais feliz do mundo simplesmente por correr.
Devo acrescentar aqui que, apesar dos tombos (foram muitos), eu nunca quebrei nenhum osso, e nunca bati a cabeça. Uma criança de verdade, uma criança que corre mesmo, nunca bate a cabeça e dificilmente quebra ossos. Somos mais fortes do que isso.
Poucas coisas eram capazes de me parar no meio de uma corrida. Nem mesmo carros. Só por milagre nunca fui atropelada (por carros; por bicicletas, fui várias vezes). As coisas que me paravam eram árvores de fruta no meio do caminho, minha mãe ou meu pai me gritando ou correndo atrás de mim (eu nunca fui de fugir, sempre deixava eles me pegarem), cachorros soltos, e a sede maldita que mandava uma ordem para que todos os músculos entrassem em greve imediata. Fora isso, nada me parava. Nada.
Tudo isso é para que vocês entendam a minha revolta, o meu desespero, por não aguentar correr por dois minutos hoje. Com dois minutos de corrida, eu sinto hoje o mesmo que sentia na minha infância, após horas de corrida intensa. Eu lembro de correr subindo um morro íngreme enorme, e hoje se tentar correr naquele ritmo, mesmo que seja em uma descida, o mais provável é que eu tenha um treco e morra.
Eu lembro de um dia estar correndo loucamente em volta do carro (parado) dos meus pais, e ouvi minha mãe dizendo para o meu pai algo como "como é que pode criança aguentar correr desse jeito". Ao ouvir isso, a primeira coisa que pensei foi que isso era absurdo, pois se eu aguentava correr naquele momento, aguentaria correr durante a minha vida toda no mesmo ritmo. Não entendia as limitações de uma pessoa adulta.
Pobre criança.
Eu duvido que mesmo o maior maratonista do mundo consiga correr como uma criança. Parece que gastamos todas as nossas energias na infância, e quando chegamos a idade adulta, só nos resta delas o suficiente para nos matermos vivos, e olhe lá. Do jeito que as coisas são, não me surpreende que algumas pessoas da minha idade passem o dia todo dentro de casa, sem fazer nada. É tudo o que podem fazer para se manterem vivas mais alguns anos, antes que suas baterias expirem de vez e elas não consigam sequer respirar.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Aquilo que Falta na História - Linhas de Nazca

Antes de qualquer coisa, recomendo que quem não saiba do que se trata as linhas de Nazca leia o artigo da Wikipedia. Existem também diversos outros sites sobre o assunto, basta pesquisar no Google.
Quem conhece o assunto sabe que a explicação mais comum que os historiadores dão para a sua existência é a seguinte: um povo relativamente primitivo, habitante do deserto de Nazca, criou as linhas e desenhos por motivos religiosos, provavelmente como uma forma de atrair a chuva, e a dimensão dos desenhos deveria ser para que os deuses os vissem do céu. Muito bem. Antes de falar qualquer coisa além, deixo aqui algumas fotinhas legais desse lindos e inocentes desenhos:






Rapaz... Coitados dos historiadores. Eu sei que eles não têm muitas opções. Mas alguém me diz o que que uma aranha, um beija-flor, um macaco e um cara esquisito podem ter em comum com trazer a chuva? Apareciam macacos em Nazca quando chovia? O deserto florescia e surgiam beija-flores, é isso? Eu acho que não, meus queridos.
Vamos tentar ir pela mesma linha e melhorar a explicação dos historiadores? Vamos pensar um pouquinho. O povo de Nazca morava em Nazca (não diga...) e lá não chove muito mais do que 15 minutos por ano. Assim, para conseguir água, eles tinham que implorar aos deuses para que chovesse. Por isso, resolveram fazer, no chão do deserto, desenhos tão gigantescos que só poderiam ser vistos a muitos quilômetros de altura. Por que tão grandes? Porque os deuses moravam no céu, é óbvio. E então eles resolveram fazer desenhos. digamos assim, tropicais - desenhos de animais que só existiam na floresta, como macaquinhos e aranhas (?). Por que não árvores? Ah rapaz, sei lá, deixa de ser chato.
A verdade é que a explicação oficial dos historiadores para esses desenhos é tão pobre e superficial quanto qualquer outra teoria alternativa - e existem muitas. Não é culpa dos historiadores não saberem o que realmente aconteceu. Mas é culpa deles a negação e a ridicularização de teorias que deveriam ser tão válidas quanto a dos deuses da chuva.
Uma das teorias alternativas mais populares sobre o assunto é a dos astronautas antigos. De acordo com essa teoria, os desenhos de Nazca foram feitos por alienígenas que vieram à Terra há muitos milhares de anos, e serviriam como identificações e pista de pouso (existem linhas perfeitamente retas que se estendem por muitos quilômetros, como uma pista de pouso moderna). Após a partida desses alienígenas, o povo do deserto começou a fazer seus próprios desenhos (que só poderiam ser vistos de cima porque, afinal, os astronautas vieram do espaço), na esperança de trazer esses alienígenas (para eles, deuses) de volta.
É uma boa teoria. Tão válida quanto a "oficial", muito mais emocionante e - na minha humilde opinião - muito mais coerente. Descarta-la porque "alienígenas nunca visitaram a terra" ou porque "alienigenas não existem" é arrogância. Ainda mais quando vemos as hipóteses oficiais e percebemos que elas são muito ruins.
Eu não posso dizer que "acredite" em uma ou outra teoria, mas simpatizo muito com a dos alienígenas. O que podemos ter certeza observando as linhas de Nazca é que alguma coisa - alguma coisa significativa - está faltando nos livros de história. Se os historiadores não sabem dizer o que é, eu não vejo nenhuma razão para que eles possam dizer o que não é. As teorias dos alienígenas, dos deuses da chuva, de gigantes desenhando no deserto ou mesmo de um artista plástico primitivo estão todas no mesmo nível - não passam de teorias sem nenhuma evidência.
Teorias são interessantes. Pense nisso. Crie a sua. Estará tão certa e bem fundamentada quanto qualquer outra.

* * * * *

Maaaaas Vitoria, se todas as teorias estão no mesmo nível de credibilidade, por que você simpatiza mais com a dos et's?
Pode parecer bobagem, mas é por causa do desenho que eu acho o mais intrigante de todos: o do ser humanóide desenhado na encosta de uma montanha (o terceiro que eu coloquei ali em cima). Esse desenho me perturbou muito, por dois motivos: o primeiro é que a maioria dos outros desenhos têm linhas retas ou quase retas, formas bem angulares, e esse desenho parece, digamos assim, um desenho feito por um destro usando a mão esquerda. O segundo motivo é que nos outros desenhos você percebe uma precisão e uma perfeição muito grandes nas formas - dá para identificar de primeira o que está desenhado - enquanto neste... O que está desenhado? Um ser humano? De jeito nenhum. Um... Ahm... Um o que? Aquilo, além de "mal desenhado", não se parece com nada existente na Terra. Se a teoria dos alienígenas estiver certa (ou aproximadamente certa), aquele desenho faz muito sentido. Acompanhem:
Um povo extraterrestre chega à Terra e resolve ficar aqui por uns tempos. Eles constroem toda uma estrutura para o pouso e a decolagem de suas naves em um lugar com clima e temperatura ideias (Nazca), enchem o lugar de sinalizações e outras coisas mais que precisam para orientação, e provavelmente também têm algum tipo de base ou acampamento. Eles começam a conviver com o povo nativo, provavelmente de forma amigável, repassa conhecimento e talvez até alguns itens de sobrevivência para eles; e depois, como era inevitável, vão embora. O povo, ainda muito primitivo, sempre achara que aqueles seres do espaço eram "deuses"; em seu desejo de que voltassem (para trazer mais conhecimento e mais comidinhas gostosas), eles tentam reproduzir os desenhos feitos pelos astronautas (cujo significado desconheciam), para chama-los de volta (afinal, onde havia desenhos, os astronautas apareciam). Obviamente, esses desenhos seriam muito menos precisos e significativamente diferentes dos originais. E, em uma tentativa desesperada, desenharam aquilo que eles queriam que voltasse - os próprios alienígenas.
Essa é uma teoria muito boa aos meus olhos, o que não quer dizer, claro, que seja verdadeira. Pode ser que eu só queira que tenha sido assim. Pode ser que eu só tenha visto Arquivo X demais durante a minha vida.

* * * * *

Estou vendo uma série muito boa sobre esse assunto, chamada Ancient Aliens (Alienígenas do Passado em português). É do History Channel e atualmente possui 4 temporadas. Achei muito boa porque odeio quando esse assunto é abordado de forma sensacionalista ou com fanatismo, e essa série consegue ser bem equilibrada e razoável (apesar da evidente empolgação dos apresentadores). Além disso, na maior parte das vezes eles escutam os dois lados, algo que eu acho muito importante. Você encontra as duas primeiras temporadas completas no YouTube.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O Fantasma de Boné Branco

O que conto abaixo realmente aconteceu, mas deixo claro aqui que eu não acredito que o ocorrido tenha a ver com fantasmas. O título é só pra efeito mesmo.

* * * * *

Eu estava voltando para casa, pouco depois do meio-dia. Quando estava chegando no meu prédio, já dentro do condomínio, vi sentado em um dos banquinhos da varanda, de costas para mim, um homem de boné branco. As únicas coisas sobre ele que minhas mente registrou foi que usava esse boné branco, comum, que era alto mas não muito, e estava com uma camisa de cor clara também. Eu fui andando em direção ao prédio, e no caminho passei ao lado de uma pilastra grande que tem na entrada da varanda, que tirou minha visão do homem por um segundo. Quando o banco reapareceu no meu campo de visão, olhei por pura curiosidade (mentira, é porque detesto ficar de costas para uma pessoa que eu sei que pode estar me observando sem que eu saiba). E quem estava sentado ali?
Ninguém. O banco estava vazio.
Fiquei tão desnorteada que parei e olhei ao redor. Não vou descrever como era o lugar em que eu estava, mas garanto que era completamente amplo e aberto, não dava para ninguém ter saído dali e sumido de vista em menos de dois segundos. Mas não havia ninguém por perto.
Um pouco intrigada (não muito, confesso), fui abrir a porta de entrada do meu prédio. É uma porta de vidro escuro. Como já disse, era meio-dia, estava muito sol e a luz batia em cheio na porta e na parede. Eu sempre me enrolo para abrir aquela porta, e nos segundos que levei para encaixar a chave, vi pelo reflexo alguém passando atrás de mim, aparentemente um homem de boné, e quando saiu do reflexo eu vi a sombra da pessoa na parede, claramente uma figura um pouco mais alta do que eu, de boné e passando perto de mim. Sorri e pensei "ahá, aí está, o cara existe", e me virei para confirmar a existência. E adivinha quem eu vi?
Ninguém.
Dessa vez eu fiquei confusa pra valer. Não havia ninguém ao redor num raio de muitos metros, e a sombra de alguém bem perto acabara de passar pela parede na minha frente. Eu posso imaginar um vulto (embora não tenha tanta certeza de que ver um homem sentado durante um tempo relativamente prolongado seja um vulto), posso imaginar um reflexo duvidoso em um vidro escuro, mas imaginar uma sombra muito bem definida passando pela parede à centímetros dos meus olhos? Fiquei completamente perdida. entrei no prédio, e enquanto esperava o elevado fiquei olhando para fora, para ver se a pessoa inexistente aparecia de novo. Não apareceu, e eu fui para casa, convencida de que finalmente estou ficando louca.

* * * * *

Só pra constar, eu não fiquei com medo. Era meio-dia, estava claro e o dia estava bonito, eu estava agitada e em um ótimo estado de espírito. Fantasma ou não, se a ideia era me assustar, escolheu o momento errado.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Um Anel

Eu tinha seis anos e estava na escolinha, como acontecia todas as tardes. Naquela época, eu cursava o terceiro pré (não sei se é esse o nome que dão hoje em dia). A professora havia saído da sala durante um segundo, e obviamente todas as crianças começaram a fazer uma bagunça enorme. Eu fiquei conversando com algumas crianças enquanto balançava minha cadeira para frente e para trás, alegremente. Tão alegremente, mas tão alegremente mesmo, que dei um impulso muito forte, perdi o equilíbrio e caí com tudo no chão.
Só esse fato já seria trágico o suficiente. Para piorar minha situação, ao invés de cair de costas eu caí de lado (não me pergunte como), e a cadeira caiu em cima da minha mão direita, quase esmagando meus dedos. Quase esmagando meus dedos e esmagando efetivamente o anel que eu usava em um deles.
A pancada da cadeira contra minha mão foi tão forte, que o anel ficou completamente retorcido e esmagado, afundando no meu dedo de uma forma que não sei como não me cortou. Meu dedo ficou azul, e a dor foi tanta que fiz um escândalo enorme, chorando desesperadamente (ok, eu faria um escãndalo mesmo que não tivesse doído, mas juro que doeu). As outras crianças vieram correndo me ajudar a levantar, e do nada surgiu a professora, mais desesperada que eu, sem saber se gritava comigo ou perguntava se eu estava bem. Ela me levou para a cozinha, para tentar me acalmar.
Só para constar, a cozinha era uma cozinha mesmo. Essa escola (chamava-se Pépe Legal e ainda existe) funcionava em uma casa comum. Os quartos e a sala eram as salas de aula, a cozinha era uma cozinha mesmo e no quintal tinha um parquinho onde passávamos o recreio.
Enfim, ela me levou para a cozinha e, após muitos copos de água com açúcar, muitos mimos e muito me pegarem no colo, eu parei um pouco de chorar. E então elas foram tirar o anel do meu dedo, pois estava me machucando e prendendo minha circulação.
Antes elas não tivessem nem tentado. Só de encostar no anel, meu dedo doía. Quando tentaram puxar, o anel afundava na carne e estava prestes a me cortar. Tentaram molhar, passar sabão, passar óleo de cozinha, e nada, o anel sequer se mexia. Eu entrei em desespero, achando que ia ficar com aquilo no dedo para sempre, e comecei a chorar tudo de novo.
Então, uma das professoras se lembrou de que havia uma serralheria perto da escola, e teve a ideia genial (genial mesmo, sem ironia) de me levar lá para cortarem o anel. Quando eu ouvi a palavra "cortar", olhei de uma professora para a outra com uma cara de "vocês estão de sacanagem comigo, né?". Foi preciso mais meia hora para me convencer 1) a parar de chorar novamente; 2) de que iam cortar só o anel, não meu dedo; 3) a aceitar ir até a serralheria com a professora; 3) a aceitar ir até a serralheria com a professora sem fazer um enorme escândalo no meio da rua. Após muita psicologia infantil e um suborno com chocolates, elas conseguiram.
Lembro de caminhar de mãos dadas com a professora em direção à serralheria no mesmo estado de espírito que alguém caminharia para a guilhotina. Por outro lado, tentava acalmar a mim mesma, dizendo que tudo daria certo, afinal eles eram adultos e adultos sempre sabem o que fazer nessas horas desesperadoras. Chegamos na serralheria e um homem alto com alguma ferramenta assustadora na mão veio em nossa direção. Ele e a professora conversaram, enquanto eu olhava curiosa para tudo ao redor (a oficina era enorme, cheia de coisas estranhas penduradas nas paredes e máquinas misteriosas espalhadas ao redor). Por fim ele se dirigiu a mim.
-- E então - ele passou a mão na minha cabeça - qual é o seu nome?
-- Vitoria...
-- Deixa eu ver seu dedo. - mostrei o dedo com o anel amassado - Ixi, vou ter que cortar seu dedo fora.
Disse isso e riu. Eu fiquei olhando para ele com um misto de dúvida e horror. Não era possível que ele estivesse falando sério. Não é? Olhei para a professora, e ela riu, passando a mão na minha cabeça. Ok, acho que eles não ririam de forma tão tranquila se fossem realmente cortar meu dedo. Acho.
O homem saiu por alguns segundos e voltou com uma pequena serrinha.
-- Você gosta muito do seu dedo?
-- Gosto.
-- Mas você nem vai sentir falta dele, você tem outros nove.
-- Mas eu gosto dele mesmo assim.
-- Tudo bem, vou cortar só o anel então. Me dá sua mão.
Estendi a mão para ele, tremendo como nunca tinha tremido antes. Quando ele aproximou aquela serrinha maligna do meu dedo, fechei os olhos e virei o rosto. E então, depois de um segundo, ele disse:
-- Prontinho.
Abri os olhos e olhei para o meu dedo. Ele ainda estava preso à minha mão, intacto, e sem o anel. Onde o anel estivera, havia uma marca roxa, mas o dedo começava a perder a cor azul.
Fiquei admirando meu dedo, segurando ele com a outra mão, embora ainda doesse. A professora me cutucou.
-- Agradece o moço, Vitoria.
Olhei para ele com o sorriso mais caloroso que uma criança é capaz de dar, daqueles que dão vontade de pegar ela no colo e apertar até a morte.
-- Brigada!
Ele riu, bagunçou meus cabelos de novo e eu e a professora fomos embora, cantarolando pela rua.

sábado, 22 de setembro de 2012

Política

Eu sempre digo que existem alguns lugares que são perfeitos para se jogar uma bomba atômica: micaretas, carnavais de rua, passeatas gays (nada contra gays, o problema é a zona mesmo), bailes funk...
Pois acabo de acrescentar mais um lugar à essa lista: passeatas políticas.
Eu gostaria de saber quem já conseguiu algum voto graças a uma passeata. Gostaria também de saber quantas pessoas participam dessas "caminhadas" por puro idealismo político, sem ganhar um centavo. Em noventa por cento dos casos, eu posso afirmar com certeza que a resposta é ninguém. Ninguém vota em um político porque veio um bando de gente balançando bandeiras e quase enfiando um panfleto dentro da sua boca.
E os carros de som? Será que eles acham que ganha a eleição quem tiver o som mais alto? Acaba de passar pela minha rua uma passeata de um candidato a prefeito com nada menos do que CINCO CARROS DE SOM! O melhor: cada um tocando uma música, alguns tocando a mesma música mas em tempos diferentes. Melhor ainda: no meio do caminho, essa passeata se encontrou com outra, de outro político, e parecia que estava tendo na rua um desfile de carnaval seguido por evangélicos fanáticos, pessoas enlouquecidas e fogos de artifício. Se eu votasse aqui, teria anotado o nome de todos os políticos envolvidos nessa zona para não votar em nenhum deles.
E os panfletos? É impressionante a cara de pau que alguns políticos têm para mentir ou manipular a verdade nos panfletos. "Sou Fulano de Tal e aprovei mais de um milhão de projetos nos meus oito anos como vereador...". Só que o Fulano de Tal esquece de falar que metade desses projetos eram coisas como "Oficialização do feriado do Dia dos Vereadores". Esquece também de dizer que ele votou a favor de aumentar seu próprio salário em mais de sessenta por cento. Aliás, uma boa parte dos atuais candidatos a vereador eram os mesmos que riram da cara do povo que protestava contra esse aumento absurdo de salário, na frente das câmeras e sem dar a menor atenção à opinião pública.
E quando os políticos inventam de enfiar religião no meio da campanha? Um candidato daqui tem uma propaganda que diz "quando for votar, feche os olhos e escute as palavras do Senhor Jesus". Aham, claro, tenho certeza de que Jesus já escolheu seu candidato para cada cargo em cada município. Sem contar aqueles candidatos que mudam de religião dependendo da igreja que estão visitando no momento, e mudam suas opiniões políticas para atender à parcela religiosa da população.
A coisa está tão feia, o desprezo dos candidatos pela inteligência da população chegou a tal ponto, que aqui na minha cidade, o tema da campanha de um dos principais candidatos a prefeito é "Vamos fazer uma cidade mais viva". Rapaz, alguém me diz o que significa isso? Por acaso a cidade está cheia de mortos? Estamos no meio de um apocalipse zumbi e o cara quer liderar a resistência, é isso? Ou eu moro no meio de um cemitério e não estou sabendo? Gente, esse slogan de campanha não faz sentido nenhum! Pelo menos disfarça cara, finge que você tem algum projeto, faz um slogan do tipo "Vamos fazer uma cidade com mais saúde", "mais educação", ou qualquer coisa que realmente falte na cidade! Vida não falta não. Aliás, se faltasse vida, não ia ter eleitores para votar nele, certo? Pensa.
Esse é só o que eu considero pior, mas tem muitos outros que me fazem pôr a mão na cabeça e pensar "o que estou fazendo aqui?".
E o que é pior não é nem a existência desses políticos. O pior é que eles ganham. O que pensa uma pessoa que vota em um cara desses, eu não sei. Ah, claro, não pensa. É a única explicação.
E em toda eleição é a mesma coisa: depois que sai o resultado, o único pensamento que me vem é "o povo tem o governo que merece". Bem feito, é tudo o que posso dizer. Que morram todos, depois que eu for embora pra Marte.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Afinidades

Antigamente, meus amigos eram pessoas que tinham coisas em comum comigo. Fosse o que fosse. Podia ser um gosto musical, gosto por filmes, jeito de pensar, opiniões políticas, comidas preferidas... Ou até algo mais específico, como a paixão por determinada música ou filme. Claro que nenhuma pessoa é cem porcento compatível com a outra, mas para ser amigos deveria necessariamente haver afinidades.
Hoje, por algum motivo, percebo que não é mais assim.
Percebo, hoje, que tenho muitos amigos que não têm absolutamente nada a ver comigo. Pelo contrário, alguns amigos têm gostos tão radicalmente diferentes dos meus que, se não fossem meus amigos, seriam pessoas que eu veria com um sentimento de quase desprezo. Alguns são justificados pelo tempo: quando nos conhecemos éramos muito jovens, e nós mudamos desde então mas continuamos a ser amigos, o que é perfeitamente natural. Mas alguns desses são amigos de pouco tempo, e o mais absurdo é que gosto deles. Por quê?
Nesse mesmo pensamento me vem outro assunto semelhante: por que certas pessoas arrumam namorados/as que não tem absolutamente nada a ver com o círculo de amizade da pessoa? Tenho vários exemplos de amigos e amigas que hoje namoram ou são casados com pessoas que não só não se dão bem comigo, como não suportam ninguém do círculo social do outro. Eu não gosto de namoros, mas se arrumasse um namorado, imagino que seria alguém que se daria bem com o meu círculo social. Afinal, se a pessoa tem afinidades comigo, deve ter também com meus amigos, pressupondo que eles sejam parecidos comigo, certo?
Mas com isso voltamos à questão inicial. Meus amigos não são parecidos comigo. Pelo menos, não todos.
Isso é estranho. Se eu não tenho nada em comum com uma pessoa, como podemos ser amigos? Já me peguei várias vezes catalogando meus amigos em grupos com etiquetas do tipo "vale a pena", "não vale a pena", "duvidoso". Por outro lado, são pessoas com quem, quase involuntariamente, acabo tendo contato constante e não consigo ficar muito tempo longe. Alguns desses me irritam tanto com seus gostos e pensamentos radicalmente diferentes, que às vezes desejo que acontecesse alguma coisa que justificasse um rompimento da amizade. Mas felizmente, isso nunca aconteceu.
Felizmente porque, estranhamente e contra toda a lógica, algumas dessas pessoas estão entre os amigos que mais gosto.
Isso não faz o menor sentido.

* * * * *

Esse texto ficou mais parecendo um trecho de diário. Prevejo perguntas do tipo "você tava falando de mim nesse post?". Vou responder que sim para qualquer um que me perguntar isso, para evitar polêmicas.

domingo, 16 de setembro de 2012

Quando Éramos Puros

"Um outro agora vive minha vida
Sei o que ele sonha, pensa e sente
Não é coincidência nem é indiferença
Sou uma cópia do que faço
O que temos é o que nos resta
E estamos querendo demais"
(Legião Urbana - A Montanha Mágica)
    
A cada dia que passa, eu sinto que perdemos parte do que nos fazia ser nós mesmos. Como se fossemos nos despedaçando aos poucos. Como se o preço de cada dia a mais no mundo fosse uma parte da nossa alma.
Aquela pureza, aquela calma, aquela certeza de que tudo daria certo sempre, onde está? Por que se foi? Às vezes penso que são tantas desilusões, tantos sonhos destruídos, que jogar fora a nossa alma é a única defesa que temos. Mas algumas vezes penso se não será simplesmente o desejo de ser igual ao resto, mesmo que o resto seja pior, mesmo que o resto seja impuro e sujo.
Me lembro de, aos nove anos, jurar para mim mesma que nunca iria me preocupar com os problemas dos adultos. Sem saber, eu estava jurando que jamais venderia minha alma. Mas quando abri os olhos estava na outra margem do rio sem saber como havia ido parar ali, e vi do outro lado, inalcançáveis, todas as minhas resoluções, todas as minhas melhores qualidades.
Um dia eu vi alguém que eu amava triste, e disse, sem saber o que dizia, que minha existência no mundo servia para fazer as pessoas sorrirem. Muitos anos depois, eu vi alguém sem lágrimas chorar, e eu jurei, sem entender as consequências disso, que minha razão de viver seria fazer as pessoas felizes, nem que fosse uma felicidade passageira. E eu cumpri meu juramento, seguindo uma missão que eu mesma designara, e o mundo usou disso da forma mais violenta que seria capaz, e sugou todas as minhas forças, e fez os meus próprios sorrisos se partirem, mas eu continuei a ser aquela que carrega a felicidade do mundo dentro de si.
E se a adolescência pode ser um poço negro e vazio, ao menos em seu fundo você pode se manter intocado. Mas vieram as tempestades do início de uma maturidade forçada, e arrancaram a fé e o carinho, a certeza do amor puro, a esperança, as expectativas. E com isso nos tornamos finalmente adultos, e as pessoas nos deram parabéns por sermos agora como todos, sem nada de especial, sem nada de bom para partilhar.
Mas essas coisas que foram arrancadas permaneceram do outro lado do rio, um rio que é possível atravessar novamente. Um rio que para travessar temos que voltar a acreditar nas pessoas, temos que voltar a sofrer quando nos machucam, a dar nosso sangue por um sorriso, a contar as estrelas do céu e ver além do sol, sem precisarmos de nada além de nós mesmos para isso. Porque quando éramos puros éramos capazes de sermos felizes por nós mesmos, mas hoje só podemos ser feliz pelos outros.

* * * * *

Esse texto foi escrito baseado em uma conversa com Brenno. A ideia original é toda dele, mas eu a modifiquei um pouco. Meus agradecimentos eternos a ele, por me proporcionar conversas que me fazem pensar em coisas como a vida, o universo e tudo o mais.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

O Gato Preto

Eu tinha apenas dez anos. Era apenas uma doce, meiga e inocente garotinha, que gostava de frequentar a biblioteca e ler livros complicados que as outras crianças não liam. E lá estava eu, olhando as prateleiras reservadas para ivros "Adequados para 1ª a 4ª série".
A professora havia pedido para escolhermos um livro e fazermos um resumo dele, dizendo se gostamos ou não. A maioria das crianças estava escolhendo livros bem simples, mas eu, claro, queria um livro que eu nunca tivesse lido e que fosse o mais diferente e impactante possível. Após rodar as prateleiras várias vezes e não achar nada interessante, eu afinal vi um livro grosso, de capa preta, que estava caído ao lado de outros mais finos, e que tinha uma capa muito bonita (não lembro como era). Tinha até um fitinha vermelha no meio para servir de marcador. Peguei o livro e li o que estava escrito na capa: Histórias Extraordinárias. O autor era um tal de Edgar Allan Poe.
Folheei o livro. Não tinha gravuras, o que era ótimo. Era pesado e parecia antigo ou muito usado. Aparentemente as histórias eram de terror, e eu sempre gostei desse tipo de coisa. Sem pensar muito, e empolgada pelo aspecto do livro, eu o aluguei.
Foi o começo.
Eu não sabia, mas aquele livro estava na prateleira errada. Ele deveria estar na estante destinada às crianças de quinta à oitava série, se não me engano. Naquele mesmo dia, assim que cheguei em casa, comecei a ler.
Era um livro de contos. Eu o li todo, mas não me lembro da maioria dos contos (até porque, depois disso já reli Edgar Allan Poe tantas vezes que é difícil lembrar qual conto está em qual livro). Só lembro de um, o que eu mais gostei, e o que eu escolhi para fazer o meu resumo: O Gato Preto.
No dia marcado, a professora foi pedindo aos alunos, um por um, que fossem lá na frente e contassem a história do livro que tinham lido. Quando ela me chamou, eu fui, feliz e contente, para a frente da sala, levando na mão o meu livro. A professora disse:
-- Nossa Vitoria, que livro grande!
-- É um livro de contos, tia!
-- Ah sim, e qual o nome e o autor do conto que você escolheu ?
-- É O Gato Preto, de Edgar Allan Poe!
-- E você gostou da história?
-- Gostei!
-- Então conte o seu resumo.
E eu comecei a contar, mais ou menos assim (SPOILERS!):
"O conto fala de um moço que tinha um gato, e ele gostava muito do gato, e esse gato era preto. Mas aí ele começou a beber muito e começou a fazer um monte de coisas erradas, e um dia ele arrancou o olho do gato com um canivete. Aí depois ele ficou se sentindo culpado, mas como ele continuava a beber, ele voltou a ficar com raiva do gato e um dia enforcou ele numa árvore. Só que aí a casa dele pegou fogo, e o fogo destruiu a casa toda, e a única parede que sobrou ficou com a imagem do gato enforcado, e o moço ficou morrendo de medo disso. Aí depois de algum tempo ele encontrou outro gato muito parecido com o que ele tinha antes, só que esse tinha uma mancha branca no pêlo, e pegou esse gato pra ele, pra deixar de se sentir culpado por ter matado o outro. Só que só depois ele percebeu que esse gato também não tinha um olho e que a mancha branca tinha o formato de uma forca, e por isso ele passou a odiar esse gato e a ter medo dele. Aí um dia, quando ele estava com a mulher dele no porão da casa, o gato passou correndo por ele e quase derrubou ele, e ele ficou com tanta raiva que tentou matar o gato com um machado, mas a mulher dele tentou impedir, aí ele deu uma machadada na cabeça dela e ela morreu. Aí ele escondeu o corpo dela dentro da parede, e quando foi procurar o gato pra matar ele também, descobriu que ele tinha sumido. Aí vários dias se passaram e o gato não apareceu, e o moço estava muito feliz com isso. Aí a polícia foi na casa dele e revistou a casa mas não achou nada nem no porão, e quando eles já estavam indo embora o moço estava tão feliz por não ter sido descoberto, que bateu na parede, e da parede saiu um grito horrível que parecia de um fantasma, e os policiais levaram um susto mas correram para ver o que tinha ali e quebraram a parede, e encontraram o cadáver da mulher, e o gato estava em cima da cabeça dela, porque o moço tinha emparedado ele junto sem perceber."
Durante a minha narrativa, várias meninas da sala murmuravam "credo", "que horrível" e coisas parecidas. Quando acabei, a professora me olhava completamente chocada, com a mão tapando a boca, e demorou alguns segundos para dizer alguma coisa.
-- Onde você pegou esse livro, Vitoria?
-- Na biblioteca...
-- E a tia da biblioteca deixou você pegar?
-- Claro.
-- Esse livro não é pra sua idade... Que história horrorosa...
-- Ah tia, horrorosa nada, eu gostei!
-- Gostou!?
-- Gostei, achei tão legal! Podia ter mais livros assim na biblioteca!
Todos os alunos me olharam em silêncio por alguns minutos. Nesse momento o sinal que indicava o fim da aula tocou, salvando-me do olhar de horror da professora e das outras crianças. Depois desse dia, aquela professora nunca mais conversou normalmente comigo. E as histórias que eu escrevia nunca mais foram as mesmas.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Livros

Eu gosto muito de ler. Desde antes de saber ler eu já gostava. O primeiro livro de verdade que eu li foi O Menino no Espelho, quando eu tinha quatro anos. Eu tinha certo orgulho de conseguir ler livros "grandes" (com mais de cem páginas na época), entender a história e ainda gostar disso.
Isso é ótimo para uma criança, ainda mais uma criança extremamente agitada como eu sou era. Ler me proporcionava longos momentos de paz. E pela lógica, quanto mais velha eu ficasse, mais eu leria, certo?
Errado!
Minha taxa de leitura hoje é ridícula. Desde que entrei na UFES, não ultrapasso os dez livros por ano! É simplesmente uma vergonha para alguém que no ensino médio lia quase essa quantidade por mês. Ok, no ensino médio eu não fazia nada da vida, mas isso não é desculpa. Dez livros por ano é menos de um livro por mês! O que acontece?
O que acontece é que quando não estou na UFES, estou estudando. Quando não estou estudando, estou trabalhando. Quando não estou trabalhando, estou fazendo algo (importante!) na internet. Quando não estou na internet, estou comendo. Quando não estou comendo, estou vendo filme. E quando não estou fazendo nada disso, provavelmente estou na rua ou na casa de amigos.
A tudo isso, some-se o detalhe de que eu sou extremamente lerda para fazer qualquer coisa e perco a concentração muito facilmente.
Estou tentando melhorar, tentando voltar a ler como lia antes. Lembro de quando li Edgar Allan Poe pela primeira vez (um dia ainda escrevo sobre isso). Ou de quando li praticamente todos os livros de Fernando Sabino, um atrás do outro. O Grande Mentecapto foi um dos livros que mais marcou minha vida, assim como Encontro Marcado. E Harry Potter? Que falta sinto de uma série que me empogue como Harry Potter, que consiga me acompanhar durante dez anos como fez Harry Potter.
Nem vou comentar sobre os livros de Fernando Veríssimo. Ganhei livros dele em vários natais e aniversários, e eram os melhores presentes que alguém poderia me dar. Ganhei livros do Harry Potter também. Meus pais compravam muitos livros para mim.
Hoje, pouquíssimas pessoas me dão presentes, e mesmo entre esses, pouquíssimos me dão livros. Fico muito triste com isso. Um livro ganhado sempre tem um gostinho mais especial do que um livro escolhido.
Estou tentando voltar a ler. Minha meta de leitura para esse ano ainda está longe de ser alcançada, mas tenho esperanças. Voltarei a ser a menina que deixa de fazer qualquer coisa para ler. É uma promessa.

* * * * *

Eu ia chegar a uma conclusão quando comecei a escrever este post, mas demorei para terminar e acabei esquecendo que conclusão seria essa.
Aproveitando o tema, tenho agradecimentos especiais a fazer à Aline T., minha companheira de leituras e escritas; à Alinezinha, pelos maravilhosos livros emprestados e por também ser minha companheira de leituras; à Jo-chan, por me prometer emprestar os livros legais dela (eu quero ler igual a você, Jo!); e por fim aos meus pais, que cultivaram os livros em mim desde que eu era pequena demais para segurar um sozinha.

domingo, 2 de setembro de 2012

Confusões Mentais

As vezes a lua certa vista no momento errado é o suficiente para nos deixar tristes. Aquele momento em que você entende que as coisas que aconteceram nunca poderão ser apagadas. Quando o que é construído hoje tem como base os alicerces do passado, sejam eles sólidos ou não.
Aquele momento, o estranho momento, em que você percebe que você deseja para você aquilo que não deseja para mais ninguém.
O momento em que você sabe que o que você sente é errado mas você não pode controlar.
Não sou a única a querer arrancar sentimentos do peito. Não sou a única a ter motivos para não querer ver a lua quando ela está cheia, nem querer ver as estrelas quando elas brilham.
Malditas são as estrelas, que iluminam a dor de um céu vazio.
Quando o problema não é mais a falta de lembranças, mas o excesso delas.
E quando agimos como se a felicidade fosse um vício insaciável.
Feliz daquele que nunca foi feliz e nunca amou, pois não sentirá falta do que não teve.
Eu compartilharia da sua dor se isso a fizesse diminuir. Eu lhe daria minha felicidade se isso lhe fizesse feliz. Eu o acolheria em meus braços se isso lhe aquecesse. Eu morreria de fome se isso lhe alimentasse. Eu lhe daria meu ar para que você pudesse respirar. Eu lhe daria minha alegria para que seus dias não fossem tristes. Eu lhe daria cada segundo da minha vida se isso pudesse lhe salvar. Eu lhe daria meu coração para que o seu não sofresse.
Mas a verdade é que tudo isso só serve para tentar faze-lo meu.
Eu mataria todas as pessoas do mundo para que você não amasse nenhuma mais do que a mim. Eu o trancaria em uma cela para que ninguém mais o visse. Eu apagaria todo o seu passado para que apenas eu existisse em sua vida. Eu faria com que você nunca nascesse, se soubesse que você não poderia ser meu.
Pobre daquele que acha que o amor é um sentimento puro.
Pobre daquele que acha que o que sente é amor quando não o é.
Maldito daquele que criou nomes para coisas que não existem.
Naqueles tristes momentos em que o vento sopra sem trazer mensagem alguma, eu mando uma flor que você rejeita, mando uma carta que você não lê, mando uma lágrima que você não seca.
Mas ainda assim, existem aqueles que eu enterro nas profundezas de um abismo sem fim.
E mesmo quando todas as estrelas estão em mim, saber que o dia surgirá torna o brilho delas quase fosco.
Felizes daqueles que não tem medo de mergulhar em águas escuras; esse jamais serão encontrados pelo medo.

* * * * *

Eu comecei este post falando de uma coisa, no meio mudei de assunto e no final falei de outra completamente diferente. Portanto se você acha que entendeu alguma coisa, você está errado.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Ignorância Sem Fim

Eu conheço uma variedade enorme de pessoas. Pessoas cultas e pessoas sem estudo. Pessoas inteligentes. Pessoas com gostos de todos os tipos. Pessoas de várias religiões e que torcem para diferentes times. Pessoas muito jovens e pessoas muito velhas.
Sou bastante flexível em relação a pessoas. Sei me adaptar de forma a seguir a linha de raciocínio e de comportamento de quem quer que seja. E mesmo assim, as vezes fico chocada com as atitudes que o ser humano é capaz de ter em determinadas situações.
De vez em quando, nas redes sociais, surgem boatos. Normal, fofocar é parte da essência do ser humano. Dar palpites no que não lhe diz respeito também. Eu achava que isso parava aí, mas não. Percebi que a arte de se ofender com o que não lhe foi dirigido e ofender aqueles a quem não têm direito também fazem parte disso que chamam de humanidade.
Primeiro, aconteceu comigo mesma, aqui nesse blog. Como todos sabem e como o título diz, eu sou atéia e este é um lugar onde tenho todo o direito de escrever sobre ateísmo como bem entender. Se eu quisesse realmente dizer o que penso sobre religião e religiosos, eu teria todo o direito. Só que eu não faço isso, porque seria muito agressivo. E mesmo assim, as pessoas não medem palavras para criticar aquilo que elas chamam de "desrespeito".
Houve uma vez que eu recebi quinze, nada menos do que QUINZE emails relativos a essa postagem, inclusive de pessoas que conheço pessoalmente; e suspeito que posso ainda receber mais. Pessoas já me fizeram ameaças de que eu iria sofrer eternamente no inferno se não acreditasse em deus. Já falaram inúmeras atrocidades tão inventivas que nem me lembro mais. Já disseram que o fato de eu ser atéia era "uma afronta intolerável a todos os cristãos, que seguem as leis de Nosso Senhor Jesus Cristo".
A maioria eu não respondi nem permiti que fosse publicado aqui.
Eu não tolero ignorantes.
Outro exemplo, esse muito recente, é relativo aquele boato imbecil duvidoso sobre o novo filme de Renato Aragão (informações aqui). As reações foram dignas dos famosos fanáticos do Oriente Médio, e não duvido nada de que, se não houve nenhum atentado contra o pobre homem, foi porque ele tem se cuidado muito bem. Vi pessoas normais e supostamente boas dizerem coisas como "com Cristo não se brinca, pois a vingança do Senhor será terrível", "tinham que prender alguém que sonha em fazer algo assim", e outras bobagens do gênero.
Renato Aragão respondeu.
Ele ainda consegue tolerar ignorantes.
Outra coisa absurda que presenciei recentemente: diversas brigas, via facebook, por causa do resultado de um jogo de futebol. Briga online por causa de futebol. Coisas do nível de "ofendeu o flamengo ofendeu minha família", "flamenguista bom é flamenguista morto", e por aí vai. Não eram apenas uma brincadeira entre amigos: testemunhei uma pessoa quase ir às lágrimas de ódio devido a um comentário sobre o time dela.
Eu não disse nada a respeito.
Eu não converso com ignorantes.
Há algum tempo, eu tentava muito conversar sobre religião com pessoas conhecidas. É algo que sempre gostei. Tentava explicar meu ponto de vista, e entender o do outro. Quando a pessoa começava a se alterar, mesmo sem eu ter dito nada que justificasse isso, eu ficava muito espantada.
Hoje não me espanto mais.
Eu não me espanto com nada que venha de uma pessoa ignorante.

* * * * *

Eu poderia continuar este post eternamente, mas acho que o recado já foi entendido. Se não foi, eu não me importo; não há argumentos contra o pensamento obstinado de uma pessoa ignorante.
Estou escrevendo isso porque vi diversas coisas recentemente que deixaram minha fé nas pessoas ainda mais abalada. E volto a repetir o que disse naquele polêmico post: se existir um deus e ele for como essas pessoas falam - vingativo, mesquinho, mau - eu não o quero. Mas eu não acredito nesse deus nem em deus algum.
Ameaças como "você vai para o inferno" não têm significado para mim, já que não acredito em céu e muito menos em inferno.
E perguntas como "você consegue ser feliz sem deus?" não fazem sentido seu imbecil querida pessoa. Você consegue ser feliz sem Buda? Sem Iemanjá? Sem o Mostro de Espaguete Voador? Então por que eu não conseguiria ser feliz sem o deus cristão? Pense.
Se bem que se quem estiver lendo isso for uma pessoa ignorante, a palavra "pensar" não vai fazer muito sentido.

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O melhor time do mundo é o Fluminense.

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A religião mais próxima da verdade que já vi é esta aqui.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Uma Questão de Tamanho

Eu sempre fui relativamente alta. Como conheço muitas meninas mais altas do que eu, hoje eu não tenho tanto a sensação de ter uma altura privilegiada; mas nem sempre foi assim.
Quando eu era bem pequena, por volta dos três anos, eu era a mais alta das meninas e talvez mais alta do que os meninos também. Tinha a altura de uma criança dois anos mais velha do que eu, o que é muita coisa. Naquela época isso era muito bom: eu podia bater nos meninos, podia humilhar os menores, e o único comentário sobre a minha altura que já tinha ouvido era "olha que menina alta". Mas os anos foram passando e meu tamanho foi aumentando, e os comentários passaram a ser bem diferentes.
Dos seis aos nove anos eu me mudei muito, então não consigo me lembrar exatamente dos meus amigos da época, e nem sei se havia algum comentário negativo sobre o fato de ser alta. Sei que continuava a ser a mais alta da turma. Inclusive, eu tinha várias amigas mais velhas, e eu também era mais alta do que elas. Mas a partir dos dez anos nós finalmente nos fixamos em um lugar (mais ou menos), e as coisas começaram a ficar claras para mim: eu era alta demais e isso não era necessariamente algo bom.
E não era bom mesmo. Para começar, eu sempre tinha sido violenta, e na pré-adolescência piorei. Minha altura me dava uma grande vantagem em relação às outras crianças. Pra completar, além de alta eu era muito inteligente (isso não é um auto-elogio, é uma constatação), e coloque altura + inteligência em uma criança com uma personalidade difícil e ela inevitavelmente se achará superior a todo o resto da humanidade.
Me lembro de que, quando eu tinha doze anos, a professora mediu todas as crianças na aula de educação física, e ia falando em voz alta as alturas conforme media. Foi mais ou menos assim:
-- Maria, um metro e trinta e cinco; Ana, um metro e quarenta; Gabriela, um metro e quarenta e dois. - e isso se seguiu, mantendo mais ou menos esse padrão de altura, até chegar a mim - Vitoria, um metro e cinquenta e três.
Isso eu tinha doze anos. Lembro dos "ooooo's" de espanto quando a professora revelou minha altura. Na turma inteira só havia uma pessoa - um menino - que também tinha essa altura, e ninguém era maior do que eu. Confesso que eu fiquei rindo bobamente por uma semana, de pura felicidade: eu sempre tinha desejado ser a pessoa mais alta do mundo, e meu sonho estava se realizando. Isso compensava até mesmo...
Até mesmo os comentários imbecis que eu era obrigada a ouvir desde os dez anos, de pessoas que achavam que eu era bem mais velha do que eu realmente era. Uma vez, aos dez ou onze anos, eu estava brincando em um parquinho quando uma mulher veio até mim e disse: "você não se acha grande demais pra brincar igual a uma criança? Vai ajudar sua mãe em casa!". Outra vez eu estava pulando e cantando com uma amiga minha pela rua, quando ouvi umas pessoas comentando "que ridículo, uma moça agindo igual a uma criança". Sem contar que eu só sabia andar correndo, e ria e falava muito alto (como uma criança mesmo, afinal eu ainda era criança), e as pessoas ficavam me olhando e murmurando coisas possivelmente negativas.
Tudo isso era muito irritante, mas eu continuava querendo ser alta. Um dia seria maior e mais forte do que todos os meninos do mundo e poderia bater em todos eles.
Aí um ano se passou, e eu mudei de escola. Eu tinha treze anos agora, e novamente nós fomos medidos durante a educação física. O procedimento se repetiu:
-- Joana, um metro e cinquenta; Paula, um metro e sessenta e dois. - dessa vez havia uma variação maior de alturas, mas se eu não me engano, a maior das meninas não tinha mais do que um metro e sessenta e cinco - Vitoria, um metro e setenta e três.
Minha reação foi gritar um "O que????", acompanhada em coro por metade dos alunos. Era impossível! Nenhum ser humano cresce vinte centímetros em menos de um ano! Mas eu tinha crescido. E por um lado fiquei muito feliz, mas por outro lado...
Por outro lado...
Por outro lado, eu já não queria tanto poder bater em todos os meninos. Na verdade, quando eu via um menino bonito e menor do que eu, me dava uma certa melancolia. De repente, eu me peguei murmurando para o nada coisas como "ok, já tá bom, não preciso crescer mais não". Mas já era tarde. Pouquíssimas amigas minhas chegaram perto de ficar tão altas quanto eu (fora a Luli, que já tem dois metros e as vezes acho que ainda está crescendo).
Para o meu consolo, eu parei de crescer nessa idade e hoje ainda tenho mais ou menos um metro e setenta e três (ou setenta e dois, depende da régua). E um fenômeno curioso ocorreu: na mesma época em que atingi minha altura máxima, as pessoas pararam de me achar mais velha e passaram a achar que eu tinha menos do que a minha idade. Isso porque eu cresci mas não criei corpo nenhum, então parecia uma criança comprida (ou um cabo de vassoura, se acharem a definição mais clara). Não melhorei muito nessa questão e acho que já perdi as esperanças de ter mais curvas do que uma régua.
Mas pelo menos eu não preciso de um banquinho pra alcançar a prateleira mais alta.

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Sim, eu faço bullying com os baixinhos até hoje.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Abre a Porta, Motorista!

Eu estava com minha família no ponto em frente ao shopping. Estávamos conversando sobre a vida, o universo e tudo o mais, quando meu pai reclamou que não vendiam algum tipo de comida no shopping (acho que era caldo de cana ou algo parecido). Eu argumentei:
-- Claro que não vão vender esse tipo de coisa aqui. O shopping é voltado para pessoas de uma classe mais alta, e mesmo que vendesse isso aqui, seria um preço bem maior do que o normal.
Mal eu terminara de falar isso, e um ônibus parou do nosso lado. Pessoas começaram a descer, e antes que todas saíssem, o motorista fechou a porta, bem na hora que uma mulher saía com uma criança. A porta bateu em cheio na criança, que começou a chorar loucamente. Todas as pessoas do ônibus começaram a gritar para que o motorista abrisse a porta, e ele, obediente, abriu. Abriu e fechou de novo assim que a mulher desceu, prendendo outra mulher que descia logo atrás. Os gritos recomeçaram, com redobrada força, e quando o motorista voltou a abrir a porta, uma mulher desceu gritando para quem quisesse ouvir: "abre a porta, seu filho da p..." e daí começou uma sequência de xingamentos que devem ter exigido uma imaginação fantástica, e que não reproduzirei aqui porque meu pai lê este blog. Além de xingar o motorista, ela xingou também as pessoas que olhavam a cena, xingou o mundo por existir, e concluiu com um "esse motorista tinha era que levar uma bala no meio da cara", seguido de mais uma série de palavrões. E seguiu para o shopping, sob os olhares disfarçados (ou nem tanto) de todas as pessoas na rua.
-- Realmente - disse meu pai - o shopping é frequentado por pessoas de uma classe mais elevada.
E eu não tive o que dizer.

* * * * *

Eu havia pegado um ônibus expresso, que não parava em nenhum ponto depois do aeroporto. O ônibus estava lotado, e havia um grupo de estudantes fazendo uma bagunça enorme. Todo mundo estava um pouco incomodado, mas uma mulher se exaltou e levantou do seu banco (que foi imediatamente tomado por outra pessoa), indo até o motorista. Seguiu-se um breve diálogo:
-- Motorista, esses estudantes estão me incomodando!
-- E o que a senhora quer que eu faça?
-- Eu não sei, chama a atenção deles!
-- Eles não vão me ouvir.
-- Se você não for fazer nada, então abre essa porta que eu quero descer!
-- Eu não posso abrir a porta, esse ônibus só para no terminal.
-- Não me interessa! Abre essa porta que eu quero descer! Para esse ônibus! Motorista, para esse ônibus!
E começou a fazer um escândalo tão grande que até os estudantes pararam para olhar. O motorista, depois de uns cinco minutos ouvindo os gritos histéricos da mulher, parou o ônibus. Mas não em um ponto de ônibus, e sim na esquina de uma rua escura onde havia vários travestis fazendo programa. A mulher olhou para o motorista, incrédula:
-- Eu não quero descer aqui, eu quero descer num ponto de ônibus!
-- Ou desce aqui, ou desce só no terminal.
Hesitante, a mulher saiu do ônibus, bem no meio de um grupo de travestis. Em volta, havia alguns homens muito suspeitos, que a olharam de forma ainda mais suspeita. Alguns passageiros riam da mulher, e um estudante colocou a cabeça para fora da janela, gritando:
-- Aê dona, tu não queria descer num ponto? Então, tu desceu! Desceu num ponto de prostituição!
Todos no ônibus começaram a rir. A mulher seguiu pela rua, assustada, e obviamente arrependida de ter descido. Alguns travestis mexiam com ela, e então o ônibus seguiu e eu não a vi mais. Não sei se conseguiu chegar viva em casa.

* * * * *

Novamente, eu havia pegado um ônibus expresso. E no meio do caminho, uma mulher se deu conta de que havia pegado o ônibus errado, e quis descer.
-- Eu não posso parar aqui. - disse o cobrador - Você vai até o terminal e lá pega outro ônibus.
Mas a mulher parecia não conseguir entender esse raciocínio, porque entrou em desespero total:
-- Mas motorista, eu tenho que descer aqui! Eu não posso ir pra Jacaraípe, é muito longe! Me deixa descer motorista! Por favor, me deixa descer!
E começou a chorar e espernear como uma criança de cinco anos. O motorista e o cobrador trocaram um olhar e, provavelmente com medo de que a mulher se matasse ali por causa dele e ele fosse demitido, o motorista disse:
-- Tá bom, tá bom, eu vou deixar você naquele ponto ali.
-- Mesmo? - a mulher ainda chorava - Obrigada motorista, você é muito bom, Deus te abençoe, muito obrigada...
O motorista parou o ônibus, e ela ficou repetindo agradecimentos enquanto descia, e continuou agradecendo até que o ônibus fosse embora e ela sumisse de vista.

* * * * *

Quando o ônibus parou no ponto antes do que eu iria descer, eu já me levantei, como sempre fazia. Assim que ele começou a andar novamente, eu dei sinal para descer. Outro rapaz também se levantou, e ficamos na beira da porta, esperando que o ônibus parasse. Mas o ônibus passou direto pelo ponto, e eu e o rapaz gritamos:
-- Ei motorista, eu dei sinal! Para aí, abre a porta!
O motorista parou, mas ao invés de abrir a porta, começou a discutir:
-- Po, vocês dão sinal em cima do ponto, como é que vocês querem que eu pare assim?
-- Mas eu dei sinal lá atrás! - eu disse, convencida de que aquele motorista bebera alguma coisa antes de entrar no ônibus - Você que não viu.
-- Deu nada!
-- Deu sim. - disse o rapaz que estava comigo - E abre logo essa porta!
Reclamando, o motorista abriu a porta. E o cobrador disse, enquanto a gente descia:
-- Pessoal nervosinho, credo.
Me deu vontade de voltar e dizer que a única pessoa que se alterara ali fora o motorista, que afinal era um idiota por não conseguir nem ver que alguém apertara a campainha do ônibus, e que se ele não parasse naquele ponto, ele só pararia muito mais para a frente e eu teria que andar quase trinta minutos para voltar. Mas não voltei, apenas segui para a aula, pensando naquilo.

* * * * *

O ônibus virou na rua que ia para o terminal de Carapina, como sempre, e imediatamente uma senhora bem velhinha se levantou, desesperada:
-- Ah, motorista, eu peguei o ônibus errado! Ah, meu Deus! Abre a porta, motorista, eu peguei o ônibus errado! Onde eu estou, que lugar é esse? Eu não conheço isso aqui, ah, meu Deus!
-- Calma, senhora. - disse o motorista - A senhora pode descer no terminal de Carapina e lá pegar o ônibus para o lugar certo.
-- Não, motorista, eu não conheço esse terminal, não conheço nada aqui, ah meu Deus, e agora? Estou perdida, e agora? Abre a porta, motorista!
-- Mas senhora - disse o cobrador - se você não conhece esse lugar, se descer agora vai se perder. Se a senhora for até o terminal de Carapina, é só a senhora falar com o fiscal para aonde você quer ir, e ele vai...
-- Não, não, eu não conheço esse lugar, abre a porta, abre a porta...
Nisso a mulher já estava na beira da porta, só faltava começar a bater nela com a bengalinha que usava. Os outros passageiros também tentavam convencer a mulher de que era mais seguro que ela fosse para o terminal, mas não adiantava. Então o motorista, sem ter outra opção, abriu a porta, e a mulher desceu.
-- Ah meu Deus... - ela dizia enquanto descia - Que lugar é esse, eu não conheço esse lugar, o que que eu faço agora...
E foi andando sem rumo, até entrar em uma rua mais para a frente e sumir de vista.