segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Coisas antigas e sonhos estranhos

Hoje eu tive um sonho estranho.
Pra começar, parecia que o sonho se passava no futuro, talvez uns dez anos no futuro. Por outro lado, eu parecia ser mais nova do que sou hoje. Estávamos eu, meus pais e minha irmã visitando o antigo lugar em que eu morava, e lá tudo estava completamente diferente. Era tudo muito colorido e cheio de luzes, como se estivéssemos no centro de uma cidade às vésperas do Natal. Havia muita gente nas ruas, e as lojas eram outras. Uma delas, que existe mesmo e é uma lanchonete, estava totalmente diferente: ao invés de um trailer com mesinhas na frente, haviam construido uma loja mesmo, só que as paredes eram todas de vidro, de forma que dava para ver tudo lá dentro. Eu ficava fascinada com aquilo, porque as luzes das outras lojas ficavam refletindo no vidro, dando um efeito muito bonito.
Nós atravessamos a rua e fomos para uma loja que, na vida real, é uma loja de bijuterias, mas que no sonho eu não sei dizer o que era. Então chegou um dos meus tios, acompanhado de várias pessoas, trazendo um carrinho de neném muito maior do que um carrinho normal. Dentro havia dois bebês, e no sonho eu sabia quem eram os pais deles, mas quando acordei já não conseguia me lembrar. Um dos bebês devia ter uns oito ou nove meses, e o outro tinha oito dias. Eu peguei o bebê maior no colo, mas ele era muito pesado para mim, então o entreguei para meu tio. Detalhe: como em todos os meus sonhos, os "adultos" eram muito maiores do que eu, como se eu fosse uma criancinha de quatro anos. Mas eu não era criança, era eu mesma.Todos os meus sonhos são assim.
Depois de entregar o bebê para o meu tio, eu peguei o outro bebê, de oito dias. Ele era igual a um bebê mais velho, só que em miniatura. Era tão pequeno que parecia que ia quebrar só de eu encostar nele. Eu fiquei segurando ele, brincando com ele, e meu pai falou que eu tinha que segurar de um jeito certo, fazendo a cabeça dele ficar deitada no meu ombro. Eu tentei, mas não consegui de jeito nenhum (mesmo na vida real, não tenho muito jeito com bebês). Então o coloquei de volta no carrinho, e eu e meus pais decidimos ir ver outras lojas, mais para a frente.
Nesse ponto, o sonho mudou completamente. Eu não estava mais no lugar em que morava; agora, eu estava em frente à UFES, prestes a atravessar a rua. Estava esperando o sinal abrir, quando olhei para o lado e vi um rapaz que tive a impressão de conhecer, mas que não conseguia lembrar quem era (mais um absurdo: no sonho ele era exatamente igual a quando o conheci e eu com certeza o reconheceria). Ele me viu e também me reconheceu, e começou a conversar comigo, mas eu ainda não tinha certeza de quem ele era. Ele falou "Você não lembra de mim? A gente estudou juntos no terceiro ano", e eu lembrei. É claro! Na vida real, ele era um dos meus melhores amigos naquela época, como eu poderia esquecer? Nós nos abraçamos, e no sonho eu sentia uma felicidade quase absurda por reencontrá-lo. Ficamos conversando por bastante tempo, e uma hora ele falou "Olha quem está ali". Quando olhei, atrás de nós estavam três garotas que também estudaram com a gente naquela época. Todos nós ficamos nos abraçando e conversando, e eu estava feliz como se tivesse finalmente encontrado algo que havia procurado a minha vida inteira. Nós atravessamos a rua e fomos até uma sorveteria enorme do outro lado (e que não existe na vida real), para tomar sorvete e comemorar o reencontro. Na sorveteria era tudo multi-colorido, havia sorvetes de todos os sabores imagináveis, e havia tortas de sorvete, bolos de sorvete, e uma infinidade de coisas que eu adoraria ter em casa todos os dias. Nós ficamos tomando sorvete e conversando, e então eu acordei.

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Agora, alguém por favor me explique: como é que alguém sonha com pessoas que não vê há uns cinco anos? Claro que não tinha apagado essas pessoas da cabeça, até porque éramos muito amigos, mas com o tempo a gente devia ir esquecendo, não é? Já fazia um tempo que não pensava neles, e agora esse sonho. Droga. Acordei morrendo de saudades deles. Com saudades daquela época, quando as coisas pareciam ser mais simples, nós estávamos sempre juntos e entrar na UFES ainda parecia um sonho impossível. Foi uma boa época. E olha que odeio nostalgia.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Como escolher um candidato

Eu não sei se vocês sabem, mas temos eleição esse ano. Iremos eleger senadores, deputados, governadores e o presidente da República. Se você não sabe, fique sabendo agora.
Muita gente ainda não tem a menor idéia de em quem vai votar. Eu tenho algumas idéias, mas nada definido. Já sei em quem não vou votar, mas é só. Muita gente também não sabe como escolher um candidato. Eu sei. Me interesso por política desde antes de poder votar. Que eu me lembre, me interesso por política desde os meus sete ou oito anos, embora nessa época não tivesse a menor idéia do que realmente fosse política. Mas sempre soube que era algo importante, que nossas vidas eram dirigidas pelos políticos, e assim que aprendi a ser gente, comecei a estudar o assunto. Virem gente também, crianças.
Certa vez li a seguinte frase: "não há nada de errado com aqueles que não se interessam por política; eles apenas serão dominados pelos que se interessam". É verdade. Se você não gosta de política, se não sabe em quem votar, ok, mas então abaixe a cabeça e não reclame. Agora, se você se interessa por política, está preocupado com isso, mas ainda não sabe como selecionar os candidatos, eu tenho algumas dicas para você.
  • Esqueça os preconceitos: muita gente não vota em um determinado candidato por ele ser de uma religião diferente, de uma classe diferente, ou simplesmente por não gostar da cara dele. Eu mesma fiz isso durante muito tempo. Essa é a pior forma de escolher um candidato: baseando-se em compatibilidades pessoais. Quando olhamos para um político, em certo grau temos que esquecer a pessoa, e olhar apenas (ou principalmente) para a figura pública. Exemplos não faltam por aí. Eleger um homossexual não é garantia de que ele irá defender os homossexuais; se um candidato evangélico for eleito, nada garante que ele dará prioridade aos evangélicos ou obrigará o ensino de religião nas escolas. Um bom político jamais permite que opiniões pessoais interfiram em seu trabalho. O que deve ser analisado é o histórico do candidato, não sua vida particular.
  • Verifique o histórico político: esse talvez seja o passo mais importante. Se o candidato tem uma carreira política, pesquise sobre ele. Ele cumpriu as promessas que fez em campanha? Existem justificativas aceitáveis para o não cumprimento de alguma promessa? Existem processos ou acusações graves contra ele? Se existem mas ele ainda não foi condenado, faça uma avaliação pessoal e decida você mesmo se ele parece ser culpado ou não. Quem vota em um candidato com passado sujo está pedindo para ser enganado. Não se esqueça de que aquelas dezenas de impostos que nos custam uma fortuna vão parar nas mãos dos políticos que elegemos. Eu não pediria para um ladrão segurar a minha carteira nem por cinco minutos, muito menos por quatro anos.
  • Verifique a veracidade das promessas atuais: todo candidato faz promessas e propostas. É esperado que ele cumpra essas promessas caso seja eleito. Uma forma de descobrir se o candidato pretende realmente fazer o que disse é perguntando como e com quais recursos ele pretende fazer. Por exemplo, digamos que um candidato tenha prometido construir determinada estrada. De onde virá o dinheiro para as obras? Quando ele pretende iniciar? Quando pretende concluir? Qual sua expectativa de qualidade para a obra? Caso não seja possível conseguir os recursos, quais as alternativas? Como serão contornados os possíveis impactos negativos que aquela obra terá? Se o candidato não conseguir responder com segurança e de forma satisfatória a essas perguntas, existe uma grande chance de que ele não tenha condições de cumprir a promessa, ou até mesmo que não esteja sendo sincero ao fazê-la.
  • Propostas para os problemas atuais: por melhor que tenha sido uma administração, sempre restam problemas a serem resolvidos. Verifique se o candidato tem consciência desses problemas e propostas para resolvê-los. Não adianta criar benefícios sem resolver os problemas. Para essas propostas, também é preciso verificar sua veracidade e a condição que o candidato terá de cumprí-las. E atenção: verifique se o problema que o candidato se propõe a resolver é da alçada do cargo que ele está disputando. Em um exemplo simples, um governador não pode prometer mudar uma lei federal, porque não tem poder para isso.
  • Desconfie do excesso de críticas à atual administração: como eu disse anteriormente, toda administração, por melhor que tenha sido, deixa problemas e comete erros. Mas em geral, também existem alguns acertos. Se o candidato ignora ou irreleva benefícios deixados pela administração anterior, ele pode "andar para trás" quando assumir o cargo. Por exemplo, se o governo atual criou algum benefício para determinada classe social e durante a campanha o cadidato age como se tais benefícios não existissem ou fossem insignificantes, isso mostra uma forte tendência a que ele acabe com esse benefício caso eleito. Também pode indicar insegurança política e falta de um plano de governo: um candidato com objetivos bem estabelecidos e segurança em suas propostas não precisa passar a campanha inteira atacando o governo atual nem os outros candidatos. Não esqueça que o que importa em um candidato são as propostas e suas condições de cumprí-las, e não o quanto ele acha que a administração atual errou.
  • Confie nas indicações e nas alianças: embora muitas vezes algumas alianças e indicações feitas por políticos pareçam estranhas, existe uma boa razão para que elas sejam feitas. Se você está satisfeito com o atual governante, considere com especial atenção a possibilidade de votar no candidato que ele está indicando. O mesmo vale para o caso em que o candidato apóia a atual administração. Nesses casos, existe uma boa chance de que todos os benefícios alcançados sejam mantidos e a administração continue na mesma linha de evolução. Por outro lado, se você não gosta do atual governo, não descarte imediatamente o candidato indicado por ele. Siga os outros passos e pense friamente se ele pode ou não ser um bom governante.
  • Assista aos debates, comícios e propagandas políticas: eu sei que é chato. Sei que o excesso de propaganda política as vezes é um pouco insuportável. Por outro lado, propagandas, comícios e debates são a melhor forma de você conhecer bem os candidatos e analisar cuidadosamente suas propostas. Assista pelo menos a alguns, e não vá pela maioria. Nem sempre a maioria sabe o que está fazendo.
  • Não confie plenamente nos meios de comunicação: outra boa forma de conhecer os candidatos são as entrevistas e matérias jornalísticas, mas cuidado com o jornalismo tendencioso. Muitas vezes ele é feito de forma quase imperceptível. Desconfie quando um meio de comunicação elogia ou critíca demais um candidato, e parece ignorar os erros/acertos dos outros. Desconfie também de debates para o quais apenas os "principais" candidatos são convidados. Não existem "principais" candidatos. Mesmo um candidato com pouquíssimas chances pode ter um aumento considerável de popularidade após aparecer mais na mídia e participar de debates.
  • Não se baseie em favores ou benefícios pessoais: esse talvez seja o melhor de todos os conselhos que tenho a dar. Quanto mais um candidato beneficia alguém em particular para que a pessoa vote nele, maiores as chances de que ele seja um péssimo governante. Lembre-se que na política, o que vale é o coletivo, e não o individual. Se um candidato precisa oferecer favores para que eleitores votem nele, é porque suas propostas são inconsistentes e ele não tem comprometimento político. Todos sabem (ou deveriam saber) o quanto a ética é fundamental para uma boa administração.
  • Dê uma chance aos novatos: só porque um candidato não tem passado político, não significa que ele não tem competência para administrar. Verifique seu passado público e seu histórico familiar. Se ele gerencia uma empresa de sucesso e é bem visto pelos funcionários, existem boas chances de que também será um bom administrador público. Se, por outro lado, a empresa não anda bem ou seus funcionários estão insatisfeitos, provavelmente essas características vão ser refletidas para o cargo público que ele assumir. Caso ele nunca tenha sido um dirigente, procure conhecer sua história: se conseguiu seus bens de forma justa, se lutou por onta própria ou precisou de indicações. Pessoalmente, não confio em candidatos que seguem a tradição familiar. Por exemplo: se um candidato é médico e toda a sua família é de médicos, pode ser que ele tenha conseguido seu diploma e seu cargo atual apenas por influência da família; consequentemente, é uma pessoa que não está acostumada a lutar por seus objetivos e não terá força política. Mas isso é uma opinião pessoal e posso estar enganada.
  • Não escute seus pais: nem seus avós, tios, irmãos, marido, esposa, amigos, etc. Não se deixe influenciar pelas opiniões alheias, embora também não deva ignorá-las. Escute opiniões, analise-as, veja se elas se enquadram à sua realidade e se fazem sentido para você. Não vá pela maioria, nem vote em alguém apenas porque um familiar indicou. Lembre-se que vocês podem ser da mesma família e terem visões e opiniões diferentes sobre os mais diversos assuntos. Um exemplo pessoal, mas genérico: eu sou a favor do aborto, meus pais não. Logo, eles jamais votariam em um candidato que fosse a favor do aborto, enquanto para mim seria um ponto positivo.
Eu não digo que os conselho acima estejam todos indiscutívelmente corretos, mas na minha visão são uma boa forma de avaliar de forma relativamente fria um candidato. Seja sempre o mais frio que puder, e não se agarre cegamente a nenhuma opinião nem a nenhum lado político. Pense bem, pense muito, antes de votar. E se não consegue escolher um candidato, se não conhece os candidatos ou não está satisfeito com nenhum deles, vote em branco. Dessa forma, você evita eleger acidentalmente um mau político.

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Eu não tenho posição política, nem defendo nenhuma ideologia ou candidato. Como disse anteriormente, não escolhi meus candidatos ainda. Estou pensando.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Coleções

Acho que todo mundo, em algum momento da vida, colecionou alguma coisa.
Quando eu era pequena, de vez em sempre fazia alguma coleção de figurinhas. Comprava o álbum, um monte de figurinhas, colava as que não tinha e tentava trocar as repetidas. Me lembro de um álbum do Garfield que era fantástico. Tive também das Chiquititas, da Sandy e do junior quando ainda eram crianças, do Pokémon, e devo ter tido outros que já não me lembro. Isso foi quando eu era muito pequena.
Uma coleção que semprei quis ter mas nunca consegui era a de bolinhas de gude. Eu até tive uma quantidade razoável, durante um curto tempo, mas algumas perdi jogando, outras perdi em algum buraco negro dentro de casa. Eu tinha muitas daquelas verdes, comuns, mas tinha duas azuis, muito diferentes de qualquer outra que já tivesse visto, que muito me orgulhavam. Não sei aonde elas foram parar.
Mas algumas pessoas colecionam coisas estranhas, coisas que ninguém mais coleciona. Eu sou uma dessas pessoas. Depois que deixei de ser criança (ia escrever "virei adolescente", mas lembrei que nunca fui adolescente), eu passei a colecionar letras de música. Meu pai tinha uma banca de revistas, então eu pegava as revistinhas de música e copiava as letras em um caderninho. Não precisava ser nenhuma música específica, de nenhum gênero, eu não precisava nem mesmo gostar da música. O que importava era que eu tivesse a letra.
Eu nunca pude aprender a tocar nenhum instrumento. Aliás, para não dizer "nenhum", eu sabia tocar flauta. Não aquelas profissionais, porque custam dinheiro e dinheiro é algo que nunca tive. Falo daquelas flautinhas que são vendidas em lojas de um e noventa e nove. Mas não podia tocar nenhum instrumento "legal". Também nunca aprendi a cantar, embora isso na prática nunca tenha me impedido de cantar a qualquer dia, qualquer hora, em qualquer lugar. Mas eu pegava essas revistinhas de música e passava horas lendo as letras e vendo os acordes, tentando entender o que significavam. Descobri coisas legais, como, por exemplo, que cada nota é representada por uma letra. Nunca pude fazer nada com esse conhecimento, mas gostava de saber e dizer essas coisas para os meus amiguinhos.
Mas voltando ao assunto (antes que eu comece a divagar sobre meus sonhos frustrados de aprender a tocar qualquer coisa, e sobre como meus pais nunca deram importância a me proporcionar uma formação musical porque "música não dá dinheiro"), eu colecionava letras de música. Essa foi a única coleção em que me especializei, e hoje me considero uma "colecionadora profissional", seja isso o que for. Com o tempo, minha coleção começou a ficar mais "refinada": ao invés de caderninhos (eu já tinha uns cinco), passei a escrever as letras no computador. Depois, passei a selecionar quais músicas queria na coleção, deixando só as que eu gostava. Mais tarde, passei a incluir músicas estrangeiras, pois antes só copiava as em português. Bem depois, quando já tinha dezoito anos, passei a traduzir as músicas em inglês (normalmente confio mais nas minhas traduções do que nas traduções "oficiais"). Aos dezenove anos, tinha uma coleção de quase duzentas letras de música.
Eu disse tinha. Tinha, porque a perdi. Meu computador morreu, eu não fazia backup nessa época, e só consegui salvar algumas coisas. As letras de música não foram uma delas. Tive que reiniciar minha coleção, do zero. Hoje, ela está crescendo novamente. Um dia serei a maior colecionadora de letras de música do mundo.
Minha irmã coleciona recortes de revistas e de jornais. Pode ser figuras de homens bonitos, de artistas, de paisagens, de crianças. Ela também coleciona desenhos feitos por ela mesma. Por um tempo, comecei a colecionar artigos de revistas, geralmente revistas científicas, mas papéis juntam poeira, e eu e a poeira nunca nos demos muito bem. Deixo as coleções de papéis por conta da minha irmã.
Lembro que praticamente todas as meninas da minha idade colecionavam papéis de carta. Isso era um tipo de coleção que eu não conseguia entender. Não via graça nenhuma em juntar papéis de carta. Por exemplo, eu brincava com minhas bolinhas de gude, com minhas figurinhas, cantava lendo minhas letras de músicas. Mas as meninas não escreviam nos papéis de carta. Para que serviam, então?
Sempre quis ter uma coleção de livros. Até tenho uma coleção razoável, uns vinte livros, talvez um pouco mais. Mas coleção de verdade, nunca tive. Primeiro, porque livro é caro. Segundo, porque minha casa é tão pequenininha, mas tão pequenininha, que mal cabe a gente aqui dentro, quanto mais uma estante cheia de livros. Tentei começar uma coleção de cd's, mas os cd's bons são caros também. A única coleção que deu certo na minha vida foi a de letras de músicas, porque não custa dinheiro.
Ah, eu tenho uma coleção de fotos do U2 no computador. Mas isso não pode ser considerado uma "coleção". Mesmo que sejam mais de duas mil fotos.
Uma vez li uma reportagem sobre um cara que colecionava carros de verdade. Tinha modelos desde o início do século até modelos novos. De todos os tipos, todas as cores e formatos. Ele guardava a coleção dele em uma mansão enorme, com uma garagem maior ainda. Eu tinha amiguinhos que colecionavam carros também, mas os deles não eram de verdade.
Quando minha coleção de letras de músicas cresceu, eu comecei a escrever minhas próprias letras. Eu não sei compor, mas escrevo letras e invento uma melodia. Inventei um número razoável de músicas, e as vezes fico cantarolando elas por aí.
Mas isso é assunto para outro texto.

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Esse foi o texto mais "de improviso" que já escrevi em toda a minha vida, eu acho. Estou testando minha capacidade de escrever sobre pressão.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

A aids, o governo, o câncer e a hipocrisia

Eu nunca gostei das campanhas do governo contra a AIDS. A do último verão gostei menos ainda. O slogan que escolheram - Use camisinha com amor, paixão, ou só sexo mesmo - é, na minha opinião, horrível. Não que eu seja uma moralista que acha que sexo só deve ser feito depois do casamento ou que quem faz sexo por sexo está errado. Não sou hipócrita e acho que cada um faz o que bem entender. Mas o slogan, do ponto de vista publicitário, para mim ficou horrível.
Mas não era isso que eu ia falar. O que eu queria dizer é que existe uma enorme hipocrisia no governo com relação a campanhas de prevenção de uma forma geral. A AIDS é uma doença gravíssima, claro. Mas sua causa é comportamental; quem não fizer sexo, ou quem usar camisinha, ou quem não sair transando com meio mundo, não vai pegar. Mas o que dizer de uma doença como o câncer? Gravíssima, certo? E pode ser considerada bem mais grave do que a AIDS, porque sua cura é dificílima e sua prevenção também. Mas onde estão as campanhas do governo com relação á prevenção do câncer?
Para ser mais claro, vou falar do câncer de pele, que de todos é o de mais fácil prevenção (eu acho, talvez esteja errada). Use filtro solar e não pegue sol entre as dez e as dezesseis horas. Todo mundo sabe disso. A gente vê uma ou outra campanha do governo falando sobre. Mas alguém me explique porque a campanha contra a AIDS é muito mais intensa e agressiva do que a contra o câncer de pele? Câncer de pele tem cura, AIDS não. Mais ou menos. Depois de um certo estágio, curar um câncer é o mesmo que tentar curar um paciente com HIV. Além disso, é muito mais simples você não fazer sexo - ou fazer direito - do que não pegar sol nos horários de maior risco. Pra completar, a parte da população que mais se expõe aos riscos de ter um câncer é justamente aquela que não pode pagar um hospital particular. No SUS, você só vai descobrir que tem câncer quando já estiver quase morrendo, e olhe lá. E falando das formas de prevenção, entra outro ponto que mostra a hipocrisia governamental em seu auge: os preservativos e o filtro solar.
Quer fazer sexo sem pegar AIDS? Use camisinha. Até uma criança de três anos sabe disso, dada a intensa campanha do governo. Quer sair no sol sem ter um câncer? Use filtro solar. Também está nas campanhas. Só que, ops, temos um problema: é muito mais fácil comprar uma camisinha do que protetor solar.
Camisinhas são distribuídas gratuitamente em postos de saúde. Durante o verão, o governo distribui camisinhas em blitz de conscientização nas estradas. Se você for em uma farmácia, você compra camisinhas por um real, dois reais. Certa vez ganhei quinze camisinhas de uma amiga minha, que recebera por engano cinquenta no posto de saúde. Até meu primo de um ano conseguiria camisinhas se quisesse. Isso é ótimo. Agora alguém me explica, pelo amor de Deus, por que o governo não faz o mesmo com protetor solar (ia escrever "protetor solar" no plural mas fiquei com medo de escrever errado)? Um protetor solar fator trinta - que é pouco - custa no mínimo quase trinta reais. Um fator cinquenta é quarenta, quarenta e poucos. E isso porque estamos falando das marcas mais populares, e não daqueles protetores recomendados pelos dermatologistas. Não existe "distribuição gratuita" de filtro solar nas estradas. Não existe blitz de conscientização sobre o uso do filtro solar. Filtro solar não é distribuído gratuitamente nos postos de saúde. Se você for pobre e precisar sair no sol, você vai morrer de câncer, porque provavelmente não vai ter condição de comprar um protetor adequado.
Agora, onde está a preocupação do governo com a saúde da população? Estamos falando de uma doença séria, que mata mais do que a AIDS no Brasil (li isso em algum lugar que não me lembro), que tem uma prevenção mais difícil, que atinge pessoas de todo o tipo em todas as faixas etárias... E que não recebe a menor atenção do governo. É muito fácil colocar um outdoor dizendo "Nesse verão, use filtro solar". Ok, senhores, mas como usar um filtro solar que não podemos comprar? Por que, ao invés de me entregar camisinhas, vocês não me entregam embalagens individuais de filtro solar? Por que, ao invés de mandar as crianças da quarta série fazerem pesquisas sobre a gravidade da AIDS e a importância de usar camisinha, com direito a demonstrações de como colocar uma - isso aconteceu de verdade, e suspeito que aconteça com frequência nas escolas públicas - vocês não as mandam fazer uma intensa pesquisa sobre os perigos do sol e da radiação ultravioleta, com direito a um gráfico mostrando as chances de cura dependendo do grau do cãncer e o número de pessoas que morrem de câncer de pele, comparado com o número de pessoas que se curam e a incidência de outros cânceres e outras doenças perigosas?
Fico me perguntando qual é o verdadeiro interesse do governo ao realizar campanhas de conscientização sobre a AIDS. Não é - NÃO É - por preocupação com a saúde pública. Se fosse, haveria o mesmo tipo de campanha para o uso de filtro solar. Tento encontrar explicações razoáveis, mas não encontro. Então minha mente perturbada e paranóica começa a viajar por explicações bem menos razoáveis: o objetivo do governo é distrair a população. O que eles estão fazendo não é incentivar o uso de camisinha, é incentivar as pessoas a fazerem sexo. Principalmente os pobres, que são o público-alvo dessas campanhas. É a velha política do pão e circo.
Pode parecer loucura, mas não é. Pense bem: você é pobre. Pode ser muito pobre, ou simplesmente classe média baixa (estou em algum lugar entre esses dois níveis). Sua vida é difícil, você tem que trabalhar o dia inteiro e não tem tempo para se divertir. Ou você é muito jovem, mas sem perspectivas de futuro, sem condições de ter aquilo que quer, e sem ninguém para te orientar e fazer você descobrir que qualquer um pode, sim, ter uma vida melhor. E você começa a ficar com raiva do governo. Fica revoltado, começa a perceber o descaso com que as autoridades tratam os pobres, começa a conversar sobre isso com seus amigos e colegas de escola/trabalho, as pessoas começam a formar uma massa organizada de revolta. Afinal, está claro que o governo não se importa com eles. Mas aí vem aquela incrível campanha de combate à AIDS. Você recebe camisinhas na porta da escola. Os agentes de saúde vão até a sua casa! Uau! O governo é até bonzinho, no final das contas. E olha só, eles estão dizendo que a gente pode fazer sexo com qualquer um, ao contrário do que mamãe diz! Que legal. Gostei daquele cara. Esquece a revolta, gente, olha como o governo se importa com a nossa saúde. Vamos voltar para as nossas vidas medíocres, vamos voltar a comer a nossa grama, porque afinal o governo está fazendo tudo o que pode para que a população fique bem. E acabou-se uma revolução.
E por que camisinhas e não filtro solar? Porque chama mais atenção. Porque é mais legal fazer sexo do que ir trabalhar. Fazer sexo é melhor até do que ir na praia. Sério. Então as pessoas ficam muito mais felizes se alguém diz que elas podem fazer, e ainda dá as ferramentas necessárias para que façam isso de forma segura. Filtro solar fará efeito a longo prazo, e até lá, o mandato dos atuais governantes já vai ter acabado mesmo. AIDS não. AIDS a gente descobre logo. E é mais legal dizer "eu uso camisinha" do que "eu uso protetor solar".

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As eleições estão chegando. Deixem de ser idiotas e pelo menos tentem fazer uma escolha consciente. E se você não sabe em quem votar, vote em branco. Mas pare de ser enganado por qualquer um que te ofereça uma cesta básica.