quinta-feira, 26 de julho de 2007

Para Alguém que Mora Longe

O que te faz ser você não é a roupa que você usa. Não é o seu carro. Também não é a sua cor preferida, não é a comida que você gosta, não é o dia do seu aniversário. Não é nada disso.
O que te faz ser você? Não é aquele seu sorriso, e nem os óculos escuros que você tanto gosta de usar. Não são os seus olhos, nem a cor dos seus olhos, nem o jeito como você me olha. Não são seus amigos, seus pais, sua família. O que te faz ser você não é o lugar de onde você veio, nem o lugar para onde você foi, nem o lugar para onde você irá.
Então, o que te faz ser você?
Talvez seja o jeito como você se arruma. Ou o modo como você tira fotos. Talvez sejam seus desejos, seus sonhos, suas fantasias. Talvez tenha sido o brilho das estrelas na noite em que você nasceu o que te fez ser assim.
O que te faz ser você é a alegria que você transmite só por estar presente. O que te faz ser você é o ar que só você respira, a alma que só você tem. É o carinho que você emana quando me abraça, a felicidade que demonstra só por existir.
Você é você porque ama viver, ama estar aqui, e por isso os seus olhos brilham mais do que o sol. O que te faz ser você é o calor no seu olhar. É o jeito como você cuida de todos, o jeito como cuida de mim. Porque você cuida de mim, mesmo sem saber, mesmo estando longe. E isso te faz ser você.
O que te faz ser você é tudo o que você deixa nos lugares em que passa. É cada sorriso que você provoca ao chegar, é cada lágrima que cai ao partir. É cada coração que você leva quando se vai, são todas as lembranças que deixa pelo mundo.
Tudo isso, tudo o que te cerca, tudo o que você transmite e carrega dentro de si, é o que te faz ser você.
E é por isso, e só por isso, que eu te amo tanto, e muito mais do que devia.
É isso o que me faz amar você.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Lembraças dos Dezoito Anos

Texto retirado do meu diário dos 18 anos.

Dezoito anos, dois meses e três dias:
Quando eu era criança, morava numa casa muito maior. Ela tinha muros altos pintados de amarelo, tão altos que eu não podia ver as árvores na rua. O jardim era enorme, e uma castanheira bem no meio parecia funcionar como ponte entre a terra e o céu. Maior ainda era o quintal, e o muro deste chegava às nuvens. Nele havia um portão de grades, por entre as quais eu espiava a avenida. Não alcançava o trinco, grande frustração de quem sonha em fugir de casa. Saía pela frente mesmo, e ia brincar com os moleques na rua.
Hoje a casa é outra. Os muros são menores e de um branco-acinzentado estranho, causado pela chuva. Posso ver as árvores na rua, e não tem árvore alguma no jardim, nem flores, só mato. O quintal é minúsculo, e o portão, fechado, não deixa ver a rua, mas abro-o quando quero. Há tempos não vou à rua da frente, não sei mais como é, ou quem mora aqui. Os meninos da rua hoje trabalham, ou estudam, ou têm filhos. Mas não mudei de casa; mudei, sim, de corpo. Acontece com todos. Chega uma idade em que começamos a nos livrar de tudo: guardamos nosso corpo e nossa alma numa caixa e escondemos embaixo da cama. Quando chegamos à idade adulta, já somos outros, diferentes. Às vezes levamos uma ou outra lembrança, meio escondida num bolso; mas em nada lembramos quem um dia fomos.
Já comigo aconteceu uma coisa estranha. Assumi outro corpo, veio de brinde outra alma - mas a antiga continuou no lugar, não quis sair. Ela é uma menina agitada e teimosa, não me obedece, eu me irrito - detesto crianças. Ela acabou ficando, e hoje dividimos o mesmo corpo. Vai ver que é por isso que hoje eu procurei ver as árvores na rua, e achei a casa tão pequena.

sábado, 14 de julho de 2007

Coisas Úteis que Aprendi com a Vida

  • não misture coca-cola, vinho, licor de jabuticaba e fanta laranja;
  • se encontrar dois homens numa trilha deserta no meio do mato, nunca pergunte se por ali tem cobra;
  • não ande sozinha em trilhas no meio do mato;
  • se não gostar de cheiro de cigarro, não fume;
  • se não gostar de cerveja, beba vinho;
  • não coma demais;
  • se não sabe dirigir, não dirija;
  • não tire o pé da embreagem;
  • abra os olhos embaixo d'água;
  • olhe pra frente quando andar de bicicleta;
  • não diga "eu te odeio" se você não odeia;
  • não diga "eu te amo" se você não ama;
  • você nunca vai precisar de tudo o que você aprende;
  • você nunca vai aprender tudo o que você precisa;
  • não ria muito alto;
  • não chore na frente dos outros;
  • não grite no meio da rua;
  • não incomode os vizinhos;
  • abrace quem você gosta;
  • não bata em ninguém;
  • não morda ninguém;
  • não se interesse pelos amigos da sua irmã mais nova;
  • não beije garotos mais novos do que sua irmã mais nova;
  • não se interesse por homens mais velhos do que seu pai;
  • não se interesse por um homem casado;
  • não brigue na rua por causa de homem (não vale a pena).