quinta-feira, 30 de maio de 2013

Fluminense

Eu o conheci quando tinha nove anos. Sei exatamente o que nele me atraiu, em meu amor ainda inocente: suas cores. Cores lindas, vivas, que eu admirava. A beleza de sua bandeira, de seu uniforme. Como uma donzela indefesa diante do príncipe encantado, eu me apaixonei perdidamente por ele.
Fluminense.
Meu time. Foi meu primeiro e único. Não se pode me acusar de amar por interesse; pois quando o conheci, quando nosso amor começou a brotar, ele estava na terceira divisão. Mas eu o amei incondicionalmente. Ainda pequena demais para compreender a vastidão do meu amor, eu o defendia com unhas e dentes, com todo o fervor que uma mulher defende seu amado.
Mais do que meu time. Meu querido, meu amado, o único que nunca deixou meu coração. Por você verti lágrimas e por você sorri. Você me deu alegrias e tristezas que ninguém mais poderia me dar. Apenas você consegue mexer comigo de forma tão profunda. Suas alegrias são minhas alegrias, suas tristezas são minhas tristezas. Te vi muitas vezes cair derrotado, mas meu amor nunca esmoreceu. Te vi se reerguer, te vi voltar ao que merecia ser e chegar ao topo. Te culpei pelos seus erros, mas nunca te abandonei. Porque você é minha vida e eu te amo.
Fiquei acordada muito além do habitual, apenas para vê-lo lutar por seus títulos. Gritei por cada gol, cada lance, cada guerreiro caído. Amei cada um de seus jogadores incondicionalmente. Senti a emoção de uma vitória como se fosse eu a levantar o troféu.
Fluminense. Time de meu pai, minha herança. Mesmo sendo de um estado que não é o meu, eu o amo. Nunca pude ir a um jogo. Nunca pude estar ao seu lado no campo. Mas o assisti jogar a cada noite, torcendo por você, rindo e chorando por você.
Sinto orgulho de dizer que meu coração é dele. Não sou do tipo que acha meu time melhor do que qualquer outro; é simplesmente que os outros times não me importam. Meu coração pertence ao Fluminense. Nunca, me nenhum momento, mesmo nas águas revoltosas da infância e adolescência, meu amor por ele vacilou ou me senti atraída por outro. Nenhum outro consegue fazer meu coração acelerar como ele. Vejo pessoas mudarem de time como se muda de amores; pois para mim, amores vêm e vão, mas meu grande amor, meu único amor, permanece eterno e constante.
Um jogo, para mim, não é apenas um jogo. Nunca é. Não importa qual o título, o que é disputado; um jogo é uma batalha de vida ou morte, é uma prova de amor, é uma guerra santa. Cada jogo derrama meu sangue e minhas lágrimas. Por mim, eu peço, mesmo sabendo que eu pouco significo para você; por mim, ganhe essa batalha, prove sua honra, mostre aos outros o motivo de minha paixão.
Por você estarei aqui, e sempre te acompanharei, na alegria e na tristeza, nas vitórias e nas derrotas, não importa os problemas que vierem. Porque você é minha vida e eu te amo.
Fluminense.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Tudo Muda

Gente de todos os tipos lê este blog (o número as vezes me assusta), mas ultimamente os adolescentes e "pré-adultos" - aquele povo que já não é adolescente, mas ainda está tentando entender o que isso significa - têm me chamado bastante atenção. Depois de dezenas de conversas, leitura de posts facebookianos e sessões de terapia involuntária, resolvi escrever algo especialmente para eles.
Quando alguém, qualquer um, vem me contando sobre um problema, eu costumo dar conselhos, caso me ocorra um, ou simplesmente colocar a mão no ombro da pessoa, caso não tenha nada de útil a dizer. Mas sei por experiência própria que nada disso funciona com adolescentes. Muito pouca coisa, na verdade, realmente funciona com adolescentes.
Então não vou dar conselho nenhum nem incentivar lamentações. Vou falar um pouco sobre a minha adolescência, e vocês façam o que quiserem com essa informação.
E não esperem misericórdia.

* * * * *

O início da minha adolescência foi conturbado. Eu tive uma infância mais duradoura do que a maioria, até o início dos meus catorze anos era profundamente infantil. Era uma criança em todos os aspectos, exceto no tamanho (aos treze já tinha a altura que tenho hoje, e sou considerada meio alta). Isso fez com que esse período dos doze aos catorze anos fosse de relacionamentos difíceis, afinal, eu já devia ter um comportamento adolescente, mas não tinha. Meus amigos não entendiam isso e não os culpo. Mas também não culpo a mim nem me lamento por isso. Na época o fato não me incomodava, nem me incomoda lembrar disso hoje. Era apenas um traço da minha personalidade.
Aí eu finalmente virei adolescente. Vocês acham que toda pessoa tem uma passagem gradual da infância para a adolescência? Estão errados. Não sei se sou uma exceção, mas caí de paraquedas na adolescência; foi questão de alguns meses, talvez até mesmo semanas, entre a mudança definitiva de uma fase para a outra. Uma série de acontecimentos catastróficos estava acontecendo naquela época, e isso trouxe uma mudança profunda demais em mim para que eu continuasse sendo uma criança.
"Ah tadinha da Vitoria, ela teve um início de adolescência difícil, sofreu muito". Não. Eu não sofri nada por passar de uma fase para a outra, mesmo tendo sido de forma um tanto brusca. Foi uma mudança e mudanças são necessárias e inevitáveis. O tempo todo durante o processo eu tinha consciência disso. Sabia que ia me tornar  adolescente de uma forma ou de outra, e quando começou a acontecer, eu sabia o que estava acontecendo. Fazia parte da vida e eu sabia disso.
Durante a minha adolescência, as coisas não foram nada fáceis. Eu era introspectiva, insegura e tinha problemas de relacionamento. Era de classe média baixa (seja lá o que isso signifique) e estudava com pessoas de condição financeira muito superior às minhas. Tinha horror à sexo, em uma idade em que as pessoas esperam ansiosamente por isso. Vivia deprimida, e pelo menos em um período, de cerca de um ano, eu entrei em depressão pra valer. Me lamentava muito. Tinha vergonha da minha aparência, vergonha de assumir minha personalidade, de mostrar aos outros o que eu realmente era. Tinha medo de dizer que era ateia. Me sentia inferior a todo mundo.
Pelo menos uma vez por dia eu pensava em me matar. Tinha crises de identidade. Tinha sonhos que achava que nunca iam se realizar. Tinha problemas que achava que nunca iam acabar.
Eu morava em uma cidade pequena, mas sempre fui uma pessoa de cidade grande. Meus pais são conservadores e eu sempre fui liberal. Tinha uma personalidade difícil, era depressiva, tensa, revoltada com tudo e com todos. Minha família era uma boa família - melhor do que a maioria - mas eu tinha brigas épicas com todos na minha casa. Queria fugir. Queria matar ou morrer. Queria a liberdade que meus amigos tinham - ou a que eu achava que eles tinham.
Eu achava, sinceramente, que nunca ia ter um namorado, porque afinal eu era feia - todos me diziam que eu não era nada bonita - e era "esquisita", embora lembrando disso agora, eu não saiba a que o "esquisita" se referia. Mas eu era.
Achava que nunca ia sair daquele lugar  infernal em que eu morava, onde todas as pessoas não gostavam de mim. Achava que nunca ia poder sair para aonde quisesse com meus amigos. Achava que nunca ia poder sair da casa dos meus pais. Achava... Tudo isso que você, adolescente, acha hoje, eu achava também.
Agora para. Sério.
Eu tenho vinte e cinco anos. Se eu me encontrasse com a minha "eu" de, digamos, quinze anos, eu não diria palavras doces de  consolo. Não daria conselhos. Não secaria suas lágrimas quando ela chorasse porquê todo mundo a odeia e ela odeia todo mundo. O que eu diria seria algo mais ou menos assim:

"Sua burra, sua imbecil, eu tenho vinte e cinco anos e estou na faculdade que você queria estudar, fazendo o curso que você queria fazer, como você sabe que vai conseguir, porque isso só depende da sua vontade e vontade você tem muita.
Você acha mesmo que nunca vai ter um namorado? Que é uma coincidência tão grande assim você gostar de um cara e o cara corresponder? Você acha, sua imbecil, que com vinte e cinco anos nas costas - olha pra mim que eu to falando com você! - você realmente acha que uma pessoa de vinte e cinco anos que tem o mínimo de convívio social nunca teve nenhum relacionamento amoroso? Mas nem que você quisesse você conseguiria evitar isso!
Você vai crescer, e se quiser sair daqui vai sair, e se não sair, a culpa é sua. Porque a única pessoa que decide a sua vida é você, então para de dizer 'eu sou assim porque meu pai é assim' ou qualquer desculpa covarde desse tipo, porque quem diz isso é covarde, é aquele tipo de pessoa que não é digno nem de pena, porque ela é culpada da própria desgraça.
Você vai sofrer muito, com certeza. Mas vai ser muito feliz também. E só se escondendo em uma toca poderia evitar isso. Você vai ter a vida dos seus sonhos, vai fazer acontecer, vai ter momentos felizes e momentos tristes, momentos de sorte e de azar, de realização e de decepção, assim como todo ser humano. Você não vai ser mais ou menos especial no mundo por causa disso.
Então cala a boca, sua adolescente maldita, para de reclamar da sua vida e vai fazer algo de útil, vai melhorar os seus textos, porque um dia essa porcaria de vida que você acha que tem vai mudar, quer você queira quer não. Nada do que você fizer vai poder impedir que sua vida mude."

Basicamente é isso o que eu diria para mim mesma. O que eu diria para você, eu não sei.
Se os adolescentes fossem capazes de olhar para qualquer lugar que não fosse o próprio umbigo, eu diria "olhe ao seu redor, veja os adultos que você admira e saiba que todos eles tiveram problemas como os seus". Mas os adolescentes são burros e egoístas demais para sequer prestarem atenção em uma frase como essa. Com todo o respeito. Isso é natural da adolescência. Não é uma ofensa ser imbecil quando se é adolescente, é simplesmente natural.
Os adolescentes, assim como eu era, têm a certeza absoluta de que são as pessoas mais especiais do planeta. Afinal, os problemas deles acontecem só com eles, com ninguém mais! É impressionante o quanto eles realmente se acham, no fundo da alma, as pessoas mais importantes do universo. Criatura, você não é especial, e devia ficar muito feliz por isso. Você não carrega um fardo único sobre os ombros. Você não é o primeiro nem o último a ter esses problemas. Você não é a causa nem a vítima de todos os males do mundo.
A única coisa que você tem que gravar na sua cabeça é vai passar.

Seus pais te batem / te odeiam / você odeia eles? Você vai crescer e, se tiver o mínimo de cérebro, vai se mandar.
Você não gosta da sua aparência? Mais cedo ou mais tarde, você vai ter condições de dar um jeito nisso, ou vai descobrir que tem algum louco que te acha lindo como você é, e vai acabar se achando lindo também.
Você não tem amigos? Uma hora você vai aumentar seu círculo social, querendo ou não, e vai acabar fazendo amigos. Sério. Parece impossível, mas é inevitável.
Você nunca nem pegou na mão de ninguém? Você não vai morrer virgem a não ser que você queira, não se preocupe.
O mundo te odeia? Claro que o mundo não te odeia seu animal, as pessoas têm mais o que fazer do que te odiar, você não é tão importante assim.
Você é pobre? Isso não vai mudar, sinto muito.

O maior problema dos adolescentes são eles mesmos, e esses problemas vão passar. Não que a idade adulta faça uma mágica e tudo se transforme em flores, mas se a pessoa tiver o mínimo de vergonha na cara, ela vai dar um jeito de resolver os próprios problemas assim que tiver um mínimo de independência. Se não resolver, a culpa é dela, não da vida, dos pais, das estrelas ou sei lá de quem.
Tudo passa. Tudo muda. Se eu mudei, cara, qualquer um muda. Tudo passa. Tudo. Passa. As coisas ruins e as coisas boas. É inevitável.

* * * * *

Um parágrafo especial para aqueles que odeiam suas família: fique feliz cara, seus pais tendem a morrer muito antes de você!
Não ficou feliz?
Talvez você não odeie eles tanto assim.

* * * * *

Agora que escrevi sobre ser adolescente, sinto que inevitavelmente terei que escrever sobre ser adulto, mais cedo ou mais tarde.
Não vou escrever sobre ser criança porque criança não "é", criança só existe e está ali.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Traficante de Deus

Eu estava no ônibus, de noite, indo para alguma festa ou reunião com amigos, não me lembro direito. A viagem seguia tranquila quando, sem mais nem menos, subiu no ônibus mais um daqueles crentes que tentam inutilmente evangelizar as almas perdidas como a minha.
Pensei "aí vem mais um", e comecei a desligar minha mente, mas algo na forma como o homem falava chamou minha atenção, e passei a prestar atenção na história dele. A primeira parte da "pregação" foi o de sempre, propaganda de alguma igreja e sermão pelas almas perdidas. Mas depois o cara começou a contar a história da vida dele, e as coisas ficaram interessantes.
Eu não sei o quanto da história era verdade, ou mesmo se alguma parte da história era verdade. Também não lembro exatamente de tudo, porque era muito longo e eu não tinha um gravador comigo. Mas era mais ou menos assim (lembrando que era um crente contando sua história para mostrar como Jesus salva):
O cara nasceu e cresceu no interior da Bahia, filho de feiticeiros do Candomblé (eu não entendo nada de Candomblé então não sei o quanto desse relato tem a ver com como as coisas realmente funcionam). Por isso, desde pequeno sua mãe o levava ao terrero de macumba, onde fazia com ele rituais macabros e o obrigava a beber o sangue de animais. Também cortava a pele dele para que os adultos bebessem seu sangue. Então, nesse ambiente saudável e normal, ele cresceu.
Aos dez anos ele se envolveu com drogas e traficantes. Começou a praticar alguns assaltos e roubos cada vez maiores, e ainda com dez anos cometeu seu primeiro assassinato (garotinho precoce, orgulho da mamãe). Aos doze anos já havia sido preso várias vezes, já comandava sua própria quadrilha e mandava matar e torturar (não necessariamente nesse ordem) qualquer um que cruzasse seu caminho. Aos dezesseis, seu irmão morreu no lugar dele, por causa de um tiro que errou o alvo.
E no meio de tudo isso ele não parava de falar nas mães que falavam para ele "você tirou o meu filho de mim" etc.
A história continuou nesse nível, e o final vocês já devem imaginar: o cara acabou sendo preso pra valer, passou horrores na prisão, no meio disso tudo encontrou um missionário evangélico que o apresentou a Jesus e ele magicamente se converteu! Agora ele não era mais um cara mal, ele era um servo de Deus que deveria pregar a mensagem divina na Terra e que teve todos os pecados perdoados graças à bondade do Altíssimo. E dane-se os que ele matou no caminho.

* * * * *

Então vocês já sabem amiguinhos: podem matar, estuprar, torturar e se drogar, desde que no final aceitem Jesus nesse coraçãozinho de vocês.

* * * * *

Não importa se a história do cara era verdadeira ou não, eu adorei. Se um dia reencontra-lo, farei questão de grava-la.

terça-feira, 21 de maio de 2013

[Diário de Leitura #001] Sandman - Neil Gaiman

AVISO: spoilers por todos os lados!

Na minha infância e adolescência, eu lia muitas histórias em quadrinhos. Lia Homem-Aranha, X-Men, Spaw, Wolverine, Demolidor e sei lá mais o que. Meu pai tinha uma banca de revistas, então eu tinha acesso a tudo e lia tudo. Mas a banca se foi há mais ou menos cinco anos, e fazia cinco anos que eu não lia uma única revistinha em quadrinhos americana. Até que eu assisti a esse video quest sobre Sandman, e resolvi que leria as revistinhas.
Eu já tinha ouvido falar de Sandman há muito tempo. Desde a primeira matéria que li a respeito, senti uma admiração e curiosidade enormes por essa história de um deus dos sonhos (na verdade não é bem isso, mas eu achava que era). Anos depois, um livro escrito pelo mesmo autor caiu em minhas mãos, e fiquei bastante impressionada ao saber que um autor de revistas em quadrinhos podia escrever daquele jeito. Comecei a ler todos os livros dele. Simplesmente me apaixonei pelo estilo e pelo modo de pensar de Neil Gaiman, e a cada vez mais minha curiosidade sobre Sandman aumentava. Até que vi o vídeo dos rapazes e pensei "isso é um sinal". Eu não podia realmente dizer "eu gosto de Neil Gaiman" sem ter lido as revistas. Não consegui dinheiro para comprar, então baixei todas elas (não me prendam) e, assim que acabaram minhas aulas, comecei a ler.
E foi aí que eu fiz uma grande besteira.
Nessa mesma época, eu estava lendo um livro (Herança, quarto livro do Ciclo da Herança). Tinha esperado ansiosa e impacientemente por esse livro, e finalmente estava com ele em mãos. Tinha acabado de começar. Como tinha a "obrigação" com Sandman, eu pensei "ok, é só uma revista em quadrinhos. Eu leio uma ou duas a cada pausa que eu fizer no livro".
Ilusão.
Eu li a primeira, a segunda, a terceira e já era. Não conseguia parar. Abandonei o livro, e só percebi o que estava acontecendo quando eu já tinha lido mais de vinte das setenta e cinco revistinhas. Quando me dei conta disso, me obriguei a ler um pouco do livro - e me arrependi. Como estava no clima de Sandman, comecei a achar Herança fraco, chato, me irritei com seus personagens, simplesmente porque era outro tipo de história. Naquele momento não era o que eu queria. Eu queria Sandman.
Se isso quer dizer que eu gostei da revista? É, eu gostei. Gostei tanto que compraria a compilação de luxo, se tivesse como, mesmo já tendo lido todas elas. Compraria as edições brasileiras & as americanas.

* * * * *

Estrutura da história:
Existem 10 arcos, cada um com uma história própria e com uma quantidade variável de revistas. Em cada arco, as histórias contadas em cada revista PODEM ter a ver com a história do arco, mas algumas vezes é mostrado uma história que não tem nada a ver com o que está acontecendo naquele momento. Da mesma forma, a série como um todo fala sobre Morpheus (o Sonho), mas em várias revistas ele mal aparece, tendo um papel secundário. Mesmo para quem está acostumado com quadrinhos americanos, Sandman é muito estranho.
Embora muitas vezes seja apresentada como uma história não-linear, ela tem uma sequência cronológica bem definida. O primeiro arco, Prelúdios & Noturnos, começa com Sonho sendo aprisionado (por engano, pois o alvo era sua irmã Morte) por um humano bruxo. Ele fica confinado por cerca de setenta anos, até que consegue escapar. A partir daí a história mostra, neste arco e nos próximos, o que acontece depois - um arco é temporalmente posterior ao arco anterior. Porém, dentro dos arcos, algumas histórias se passam em tempos passados, e não se trata de lembranças ou flashbacks, e sim de uma revista inteira, no meio de um arco, que simplesmente "muda de assunto" - embora todas essas histórias paralelas sejam retomadas posteriormente, tendo importância no tempo atual.
Outra coisa curiosa é que algumas histórias de Sandman se passam em regiões atemporais, de forma que personagens de épocas diferentes se encontram. Achei esse conceito simplesmente fantástico! Falando de conceitos fantásticos, o Sonhar (e a imaginação de Neil Gaiman) consegue muitas vezes dar um nó na cabeça de quem está lendo. Algumas pessoas na verdade são lugares, pessoas que engravidam no sonho ficam grávidas na vida real, pessoas que morrem podem ir parar no Sonhar, e por aí vai. O próprio Morpheus é um conceito difícil de ser entendido: ele não é um Deus dos Sonhos, ele é o sonho. Tanto que danos ao mundo dos sonhos o ferem diretamente, pois são danos a ele. Ele é a personificação do sonho. Cada pessoa que o olha o vê de uma forma diferente (embora sempre seja a figura de um cara imponente e sombrio). Acho particularmente interessante os capítulos que o mostram aparecendo como animais, pois um ser de uma espécie o vê como alguém da sua espécie. O mesmo acontece com os seis irmãos de Morpheus. Cada um deles é a personificação de um ato, e juntos eles são os Sete Perpétuos (em ordem de "nascença": Destino, Morte, Sonho, Destruição, Desejo, Desespero e Delírio).

* * * * *

Lendo Sandman:
Começo eu, feliz e contente, a ler Sandman. Já tinha alguma ideia do que esperar, mas a primeira edição foi totalmente diferente do que eu imaginava. Eu não sabia que a história começava com Sandman aprisionado, nem que havia de fato uma história principal - achei que fosse só um monte de histórias sem nexo misturadas, e não é nada disso. A história já começa bem séria e cheia de referências que não são da minha época, mas algumas das referências dessa primeira edição eu conhecia por causa, acredite ou não, das músicas de Raul Seixas (não pergunte).
A primeira cena em que Sandman aparece é quando os bruxos o aprisionam por engano (eles queriam a irmã mais velha dele, a Morte). E também foi muito diferente do que eu imaginei, ele estava usando aquele capacete bizarro que ele chama de elmo, mais parecia um alienígena, sei lá. Ele consegue escapar depois de mais ou menos setenta anos (pouca coisa para um cara que tem, tipo, bilhões de anos), e aí ele aparece sem o elmo e com a imagem que eu já esperava dele (e os traços usados nos desenhos dessa edição me é muito familiar, eu devo conhece o desenhista por outros trabalhos). Ele se vinga (várias vezes no curso da história é mostrado que os Perpétuos são vingativos pra caramba) e para isso usa um dos conceitos mais fantásticos que eu já tinha visto: ele condena o seu antigo captor a um "eterno despertar". Funciona assim: o cara acha que está acordado, mas aí começa a acontecer um monte de coisas horrorosas e ele acorda, e descobre que estava tendo um pesadelo. Aí ele acha que está tudo bem, mas mais coisas ruins acontecem e ele acorda de novo, e acorda de novo, e acorda de novo...
A primeira edição acabou por aí e conseguiu minha aprovação, embora ainda não tivesse conseguido minha fascinação. A fascinação veio na edição sete, mais especificamente na cena em que Sandman luta com John Dee e este, ao destruir o rubi de Sandman na tentativa de mata-lo, acaba devolvendo a ele todo o poder e é mostrado um Morpheus gigante segurando Dee na palma da mão. Essa é a minha cena preferida e acho que tem uma mensagem muito interessante nela, algo como a insignificância dos mortais em relação ao Sonho (ou alguma coisa parecida que não sei pôr em palavras). Depois dessa cena, qualquer esperança que eu tivesse de parar de ler Sandman e voltar a ler o livro que eu estava lendo antes simplesmente evaporou.
Imediatamente depois dessa edição, vem uma história que eu gosto muito e que é muito importante: aquela em que, pela primeira vez, aparece outro Perpétuo, a Morte. O mais legal nessa história é a relação entre Morte e Sonho, que têm personalidades bastante diferentes mas se adoram. Depois vem outra edição que eu também gosto muito, e que é muito importante por mostrar pela primeira vez que, apesar de ser um ser superior e acima dos deuses etc, Morpheus tem um fraco por mulheres. Ele é super mulherengo, mas é um cara romântico, que acredita no amor (nem tinha como ser diferente, sendo o Rei dos Sonhos). E seja qual for o critério dele para se apaixonar (se é que existe), é incompreensível para reles humanos, porque ele se envolve com mulheres dos mais variados tipos ao longo da história.
Depois dessas duas edições com histórias "soltas", vem mais uma série (ou um arco), chamada Casa de Bonecas. No geral gostei desse arco, embora não o ache um dos melhores. Mas ele tem algumas particularidades que achei interessante. Primeiro, é mostrado alguns outros Perpétuos, embora de nenhum outro eu goste tanto quanto de Sonho e Morte. É mostrado também Sonho descriando um pesadelo, algo que eu achei muito interessante, porque o pesadelo era um ser completo com personalidade e emoções, mas  comete uma série de atitudes repreensíveis e Morpheus simplesmente desfaz sua existência (adoro essas demonstrações de poder). É mostrado também uma pessoa que na verdade é um lugar nos sonhos (cara esse conceito é muito legal e difícil pra caramba de compreender). É mostrado uma mulher que engravida de verdade dentro de um sonho. E tem uma convenção de psicopatas, cara, você imagina o que é, para alguém como eu, ler uma história em que aparece uma convenção de psicopatas? Convenção de verdade, com palestras, mesa-redonda e tudo o mais. Fiquei emocionada.
Nesse mesmo arco, também achei muito legal a parte em que o Morpheus salva a Rose Walker. Mas como eu disse, ele tem algumas peculiaridades, e uma das mais bizarras é que a edição 14 simplesmente conta uma história que não tem nada a ver com o resto do arco. Se passa na idade média e mostra como Sonho conheceu um cara que viria a se tornar um de seus melhores amigos, mas apesar de ser uma história legal, não tem nada, nada, NADA A VER com o que está acontecendo, meu deus Neil Gaiman o que você quer fazer com seus leitores? É como estar assistindo, sei lá, House, e um belo dia o episódio da semana é sobre Aliens. Você fica com uma cara de "o que que está acontecendo aqui?".
Depois dessa fase, temos algumas histórias soltas. Uma edição, que gostei embora tenha achado os traços horrorosos, fala sobre Calíope, uma ex-amante de Morpheus; outra, que além de ser legal achei interessante por mostrar Morpheus na forma de um gato, fala sobre uma teoria muito louca de que se mil gatos sonhassem que são dominantes no mundo, eles transformariam a realidade de forma que as coisas passariam a ser assim (na verdade é bem mais complexo do que isso, mas não vou explicar aqui); depois vem Sonhos de uma Noite de Verão, que eu não gosto (achei meio chato e não gosto de Shakespeare); depois vem uma muito legal chamada Fachada, sobre uma mulher que pode transformar sua pele em qualquer material menos em tecido humano, o que faz com que ela viva um tormento horrível; e finalmente começa mais um arco, chamado Estação das Brumas.
Estação das Brumas é um arco muito importante e de que gostei muito, no qual Morpheus vai ao inferno resgatar sua amada Nada, a qual ele amava tanto, mas tanto, que tinha condenado à tortura eterna no inferno por ela não querer ficar com ele. O problema é que ele estava "de mal" de Lúcifer (nada sério, o máximo que poderia acontecer era um matar o outro) então essa ida ao inferno poderia ser, digamos, mal sucedida. Mas, em uma reviravolta do destino e em uma atitude muito louca, Lúcifer fala "cansei dessa parada" e vai embora do inferno! No processo, ele expulsa todas as almas e demônios de lá, tranca o lugar e dá a chave para Morpheus. Isso gera um caos enorme, é engraçadíssimo. Foi uma das fases de que mais gostei. Embora nela também tenha uma edição meio "solta", na qual é mostrado a volta dos mortos em uma escola (mas tem a ver com o que está acontecendo na série, então não é tão aleatória assim).
Aí vem três edições seguidas com histórias soltas. Nenhuma eu achei ótima, mas nenhuma é muito ruim - são só, digamos, sem graça. E aí vem um arco inteiro que eu de-tes-tei, algumas revistas eu lia pulando páginas de tão chato que eu achei. É o arco Um Jogo de Você, que mostra uma história meio nada a ver de uma mulher que tinha uns sonhos e agora parou de sonhar e o país dos sonhos dela está prestes a ser dominado por um ser maligno. Na minha humilde opinião, ficou parecendo aqueles desenhos infantis sem pé nem cabeça (mas que eu gostava muito quando era menor). A única coisa que gostei nesse arco foi o final, onde Sandman aparece e desfaz o sonho. Foi uma cena muito legal e a descrição dela também é muito bonita. Mas de resto, acho uma história medíocre.
Em seguida vem mais uma sequência de três histórias soltas, sendo a primeira legal, a segunda bem chatinha e a terceira tão fantástica que se tornou uma das minha preferidas. Nessa, Eva e Abel contam histórias para o bebê Daniel (filho da mulher que engravidou nos sonhos, e consequentemente filho do Morpheus). Tem várias coisas interessantes nessa edição, mas a melhor é Abel contando uma versão infantil da história dele e de seu irmão. Aparece uma "versão criança" de Morte e Sonho, é a coisa mais fofa!
Em seguida vem um dos arcos mais importantes - ou melhor, o primeiro de uma série de três arcos que são decisivos para a história, e que desembocam no último arco.
Este arco se chama Vidas Breves, e nele Sonho parte com sua irmã mais nova, Delírio, em busca de Destruição, seu irmão desaparecido. Esse arco é muito bom, tem muita coisa boa e não vou descrever tudo aqui. Só vou dizer que é impagável ver as conversas entre Sonho e Delírio, e ver os dois andando pelo mundo real. Além disso, no final desse arco Sonho mata o próprio filho  (por pedido do próprio), o que gera consequências terríveis e o faz ficar arrasado - é uma das sequências mais tristes de toda a história.
Ao fim dessa série, temos mais uma revista com uma história solta (que eu não gosto), e começa outro arco chamado Fim do Mundo, que eu detesto. É basicamente um grupo de pessoas perdidas que vai vai parar em uma cabana fora do tempo (me lembrou o conceito do Restaurante no Fim do Universo, do Guia do Mochileiro das Galáxias), e começam a contar histórias para passar o tempo. Eu não curto muito esse negócio de pessoas sentadas ao redor de uma fogueira (no caso, de uma mesa) contando histórias. Achei esse arco muito chato porque Morpheus praticamente não aparece. Só gostei da história que conta o sonho de uma cidade (um conceito muito legal e perturbador) e da última edição, quando mostra um velório nos céus. Ainda não se sabe, mas esse é o velório do Sonho, e é uma cena linda, ver seres que são mais do que deuses se movendo pelo céu. Fora isso, achei esse arco dispensável (confesso que algumas histórias eu nem li, só passei as páginas).
E ai começa um outro arco chamado Entes Queridos, que é o mais importante e acho que também é o maior. É o arco em que o Sandman morre.
Existem duas coisas muito importantes que devo dizer sobre esse arco: o desenho é HORRÍVEL e a história é PERFEITA. Qualquer tentativa de descrever o que acontece nesse arco não conseguiria passar a verdadeira essência da história. Tem tantas referências, tantas mensagens subliminares, tanta filosofia por trás que acho que preciso ler mais umas dez vezes para conseguir compreender tudo. Mas o ponto principal é que o Sonho é destruído, meio que por culpa e desejo dele mesmo. A cena final, dele conversando com a Morte, é linda. E após sua morte, ele ressurge usando a essência de seu filho Daniel, que passa a ser o novo Sonho. Mas o importante aqui é que não é um "novo" Sandman, é o mesmo, mas sob outra perspectiva. Esse novo Sonho existiu desde o inicio dos tempos. É um conceito muito profundo que até eu ainda não consegui entender completamente. Uma coisa é você saber do que se trata, outra coisa é compreender completamente as implicações disso.
Eu fiquei muito perturbada com esse arco, porque estava apaixonada gostava muito do Morpheus, da imagem dele e daquela personalidade melancólica, e não gostei de ver ele morrer de um jeito tão triste. Mas ao mesmo tempo foi um alívio que ele merecia ter, porque só assim ele pôde finalmente mudar. O novo Sonho tem uma aparência um pouco diferente - ele se veste de branco - e uma personalidade mais doce, mais carinhosa, talvez até mais gentil. Se Morpheus era a personificação de um Sonho agridoce e melancólico, o novo Sonho é a personificação de sonhos calmos e talvez até felizes. Eu gostava do outro Sonho como se gosta de um amante misterioso e sombrio; desse novo Sonho, gosto como se gosta de um irmão mais novo.
O último arco, Despertar, mostra o funeral de Morpheus, a adaptação do novo Sonho e termina com algumas histórias soltas, mostrando o fechamento de alguns personagens.
O funeral de Morpheus é profundamente emocionante e belíssimo. Confesso que fiquei com lágrimas nos olhos (quer dizer, no nível em que uma pessoa externamente fria como eu pode ficar com lágrimas nos olhos) durante os discursos, as reações dos amigos ao saberem, das despedidas...
As duas histórias finais são meio soltas, e acho dispensáveis. Poderia ter terminado na antepenúltima edição, que mostra o que acontece com Hob, um dos (raros) grandes amigos de Morpheus.

* * * * *
IMPRESSÕES FINAIS:
Como deu para entender do texto gigantesco, eu gostei muito de Sandman. Acho que vai ser uma daquelas obras que vai me influenciar pelo resto da vida.
Terminar de ler a série me deu aquela típica sensação de vazio, e fui procurar algumas fanfictions para ler. Me surpreendi bastante ao encontrar algum material de qualidade espalhado por aí. Eu mesma escrevi uma, que publiquei aqui, e embora nem se compare às histórias originais, me deu um certo alívio escreve-la - como se a história continuasse, mesmo já tendo acabado.
Enfim: Sandman, assim como tudo o que já li de Neil Gaiman, merece muito ser lido. Mas não o leia como uma "grande obra", leia-o apenas como uma revista em quadrinhos normal; a grandiosidade e a admiração virá naturalmente, conforme a leitura evoluir.

* * * * *

COMENTÁRIOS EXTRAS:
Uma coisa muito estranha que aconteceu foi que, enquanto eu lia as primeiras edições, tive uma sensação de deja-vu, como se já tivesse visto aquilo em algum lugar. E quando li a edição 9 (Histórias na Areia), eu descobri que pelo menos aquela edição eu realmente tinha lido. Se foi nessa ou em outra vida, eu não sei. De qualquer forma acho que era muito pequena, e lembro de ter odiado a história - não entendi absolutamente nada!

Na edição 40 (Convergência), onde Eva e Abel contam histórias para o pequeno Daniel, há uma cena em que Matthew pergunta a Eva se eles são mesmo os personagens bíblicos, e como a história de Adão e Eva se encaixa com toda a questão da evolução, dinossauros etc. Então Abel começa a falar, dizendo "Oh, isso não foi na Terra, foi...", mas Caim não o deixa terminar. Rapaz, essa frase me deu umas ideias muito loucas! E se de fato a história da criação aconteceu, mas não aqui? E se chegou aqui, quem a trouxe? Minha cabeça borbulha com essas ideias. Dá para escrever um texto inteiro só sobre isso.

Apesar de ser uma história adulta e bastante séria, Sandman está cheio de momentos fofos! As broncas que Morte dá em Sonho, Abel contando uma história deles crianças, o novo Sonho todo meiguinho...

As capas de Sandman são muito bizarras.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Perdida no Mundo

Eu tenho um senso de direção equivalente ao de uma mariposa, que procura pela lua e acaba caindo numa vela. Esses dias, precisava ir ao supermercado, mas antes passei em uma loja de doces com a minha irmã, saindo assim do caminho habitual que costumo percorrer. Minha irmã acabou ficando na loja e eu disse que iria ao supermercado sozinha. Meu plano era voltar parte do caminho para seguir pela minha rota padrão, mas ela disse "não precisa, é só entrar nessa rua aqui que aí você sai no lugar tal e vai reto". Confiando em tão específica informação, eu fui.
Mas, ao chegar na rua indicada, descobri que ela estava interditada por conta de uma feira. Cheguei à conclusão de que o melhor seria ir pela rua ao lado dessa, pois as duas deveriam sair muito próximas uma da outra. Fiz isso e saí em uma grande praça, onde acontecia a feira. E aí...
Aí eu comecei a me perder, embora ainda achasse que sabia o que estava fazendo.
Eu olhei ao redor, e embora já tivesse passado por ali algumas vezes, estava confusa por causa da feira. Fui andando, tentando lembrar pra que lado ficava o supermercado, e vi uma lanchonete que eu conhecia. Achei que o supermercado era na rua ao lado da lanchonete, e por lá segui. Fui parar então em outra rua, uma rua só com prédios e casas, que eu não conhecia.
E então, genialmente, ao invés de voltar e tentar me reencontrar, eu resolvi seguir andando sem rumo pela rua, pois tinha certeza de que "o supermercado fica nessa direção", e achava que mais cedo ou mais tarde eu me encontraria. Fui parar em outra rua, continuei andando, parei achando que estava voltando pra onde tinha vindo, voltei, entrei em outra rua achando que era a rua de onde tinha vindo mas não era, continuei andando, até que saí em uma avenida. Confusa, e tendo uma estranha sensação de que conhecia aquela avenida, continuei andando na direção em que eu achava que ficava o supermercado.
Aquela sensação estava me incomodando. Que avenida era aquela, que eu conhecia mas não conseguia lembrar onde ficava? Foi então que mais a frente avistei a igreja católica no meio de uma praça, e parei como se tivesse batido no muro da idiotice: aquela era a avenida em frente à minha casa, por onde eu tinha vindo com minha irmã, e por onde eu passava todos os dias. E eu estava indo na direção oposta ao supermercado.
Vocês entenderam o tamanho da minha imbecilidade? Eu me perdi no meu próprio bairro, fiquei dando voltas, de alguma forma fui parar na avenida de onde eu tinha vindo e por onde passo todos os dias, e não só não a reconheci, como comecei a voltar por onde tinha vindo antes! Eu senti vergonha de mim mesma na hora, como o mundo permite que um ser com tamanha falta de senso de localização exista? Nessa hora minha irmã me ligou perguntando se eu já estava no supermercado, eu disse que não e comecei a rir, dizendo que tinha me perdido. Minha irmã, que tem um GPS acoplado ao cérebro, se ofereceu para me buscar, mas eu disse que já tinha me achado, e segui finalmente pelo caminho certo, em direção ao supermercado.

* * * * *

Sinceramente, acho que se me levassem até algum lugar, fechassem meus olhos e me rodassem, quando eu abrisse os olhos não teria a menor ideia de onde estava. Eu já tentei de tudo, todo tipo de exercício mental para melhorar isso, mas acho que meu cérebro tem alguma falha mecânica.
A primeira vez que eu me perdi eu tinha uns três anos e estava dentro de uma loja, meus pais estavam do meu lado, e eu simplesmente entrei em um corredor diferente e pronto, não sabia mais onde estava.
Em frente à faculdade onde eu moro tem um bairro que, para mim, é um labirinto: a cada vez que entro por uma rua, ela sai em um lugar diferente. Uma vez peguei um ônibus errado, e para o meu desespero tive que atravessar o bairro para chegar na faculdade. Fui andando aleatoriamente, até o momento em que eu tinha a certeza de que estava indo na direção errada, e quando fui pedir informação descobri que estava magicamente do lado de onde queria chegar.
Pra finalizar, um último caso: uma vez, quando eu morava em outro lugar, estava voltando da faculdade de ônibus e acabei dormindo quando estava quase chegando em casa. Quando acordei, o trocador estava perguntando se alguém iria para o Serra-Mar. Explica-se: esse ônibus fazia um longo caminho pelo bairro, e em determinado momento, entrava por uma rua em um lugar chamado Serra-Mar, dava a volta naquele quarteirão e ia sair ao lado do lugar por onde entrara, seguindo então pela avenida (fazia um desenho assim ___|   |_____). Só que muitas vezes os motoristas "pulavam" essa parte do trajeto, seguindo direto em linha reta pela avenida. E foi isso que aquele ônibus fez, quando nenhum passageiro fez objeção.
Só que esta criatura que vos escreve já tinha pego aquele ônibus milhares de vezes, mas nunca tinha percebido que naquela parte do trajeto ele dava uma volta e voltava para o mesmo lugar. Por isso, quando ele foi reto, eu não entendi nada e já não sabia aonde eu estava. E como estava sonolenta, demorei um pouco para processar o que estava acontecendo. Confusa, e sem ter certeza de onde estava, fui até o cobrador.
-- Eu preciso descer no ponto depois que passa a avenida Noroeste, já passou?
-- Ahm? Que avenida? - disse o cobrador, muito perspicaz e rápido de pensamento.
-- A avenida que passa em frente ao supermercado...
-- Já passou pelo supermercado.
-- Não, mas ele passa pelo supermercado, sai da avenida, anda um montão e passa pela avenida de novo, não é?
-- Ah tá. Sim, a gente acabou de passar. Seu ponto ficou lá atrás.
-- Ops.
Dei sinal para descer do ônibus, e quando perguntei ao cobrador como faria para voltar para onde eu queria, ele disse "é só ir reto na avenida". Desci do ônibus em um lugar deserto que eu não conhecia, a noite, e olhei para aquela avenida enorme, que parecia não ter fim. Fui andando sem saber direito para aonde ia, até que vi umas pessoas em frente a uma igreja e parei para pedir informação.
-- Moça, eu preciso ir para a avenida Noroeste, é pra lá?
-- Noooossa menina, é pra lá sim, mas você vai andar bastante viu?
Agradeci a informação e continuei andando. Depois de muito andar, cheguei na avenida Noroeste, mas ainda demorei para perceber que era mesmo o lugar em que eu queria. Só quando avistei minha casa no fim de uma das ruas tive, digamos, noventa por cento de certeza. A certeza só foi cem por cento quando bati na porta e minha mãe que atendeu.

* * * * *

Dizem que as mulheres tem problemas de localização por natureza, mas o meu caso merecia ser estudado pela ciência.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Quando Temos Medo

Eu já postei aqui, há muito tempo atrás, sobre três medos bizarros que eu tinha quando criança: algodões-doce, espumas e balões. Admiti que eu só superara esses três medos usando uma "perspectiva adulta", ou seja, eu ainda tinha o medo em algum lugar irracional da minha mente, mas controlava. Eram dessas coisas de criança sem importância, certo?
Errado.
Esses dias, eu descobri que esses medos são muito mais sérios do que eu imaginava. E não são três medos distintos, e sim (estou começando a descobrir) um único medo. Embora eu ainda não tenha certeza de qual é o objeto do medo, sei que tem a ver com bolhas.
E descobri isso da pior forma possível: tendo uma crise de pânico. Hoje (dia em que escrevo esse texto) tinha resolvido fazer um bolo, e fui usar uma receita diferente, que era para ser batida em batedeira. Minha batedeira está com problemas, então resolvi arriscar e usar o liquidificador. Só que não deu muito certo: a massa era grossa e pesada demais, e não bateu direito. Eu coloquei alguns ingredientes líquidos e a farinha, e bati (vou batendo os ingredientes aos poucos). Só que a mistura ficou muito pastosa, acabou se embolando nas hélices do liquidificador e quando eu abri a tampa para ver o que tinha acontecido, vi que a massa tinha virado tipo uma bola ou uma bolha em volta da hélice. Nada de muito grave, certo? Era só colocar o leite e resolvia. Só que...
Só que a minha reação talvez tivesse sido melhor se eu encontrasse uma cabeça decepada ali dentro. Ver aquela bola de massa (meu deus, essa imagem não sai da minha cabeça) foi a coisa mais horrível que já vi. Meu coração disparou, senti um impulso de fugir, de me encolher, de chorar. Eu não sei dizer o que me custou não sair correndo da cozinha. Fui lá, coloquei o leite (eu estava tremendo, gente, tremendo de verdade), e enquanto terminava pedi para a minha irmã me ajudar na cozinha, porque não queria ficar sozinha ali.
Coloquei o bolo pra assar, só que nosso forno está com problemas, então usamos uma panela especial que assa o bolo no fogão mesmo. Quando fui olhar se estava pronto, por algum motivo a massa cresceu mais de um dos lados, formando novamente uma espécie de bolha (nem era uma bolha, era só que cresceu mais uma parte, sei lá porquê). Eu larguei a tampa da panela e chamei minha irmã de novo. Mal conseguia chegar perto do fogão para apagar o fogo. É tão ridículo que me dá vontade de rir da minha própria cara. Eu não consigo comer o bolo porque um dos lados cresceu mais do que o outro. Só de pensar naquele bolo me dá vontade de me arrancar do meu próprio corpo, é uma gastura, um nervoso, um sei lá o que.
Eu sei, há muito tempo, que tenho algum tipo de medo relacionado com bolhas, mas fazia muitos anos que não me dava uma crise tão forte. É uma coisa que consigo controlar, mas para isso preciso me preparar emocionalmente, e eu não estava preparada quando vi aquela maldita bola de massa.
Vocês têm ideia de que estou com aquela imagem na cabeça, da mesma forma que alguém fica com a imagem de fantasmas após ver filmes de terror?
Pessoa racional e equilibrada que sou, eu não aceito um medo tão irracional e absurdo. Tem que ter 1) uma explicação e 2) um objeto específico para esse medo. Bolhas? Deformações redondas em objetos? Nunca tinha se manifestado em coisas tão sólidas quanto um bolo. Que aspectos mais desse medo absurdo eu ainda não conheço? Onde mais ele pode se manifestar? Só se manifesta se eu ver a coisa na minha frente, ou será que se eu ver um determinado desenho também pode se manifestar? Eu não sei.
Fazendo uma análise fria, os três medos que citei anteriormente (balão, espuma e algodão-doce) me parecem ser todos um aspecto desse medo, relacionado com bolhas. Balões são bolhas de plástico gigantes. Espumas são pequenas bolhinhas. Algodão-doce não é uma bolha, mas tem um aspecto que me lembra uma, da mesma forma que a deformação no bolo. E devo ter outros medos relacionados, que são aspectos de um único medo.
O mais curioso é que não é qualquer tipo de bolha. Tenho medo de bolhas de sabão, principalmente as grandes, mas não tenho medo de plástico-bolha. Então não sei se realmente tenho medo de bolhas, ou se é outra coisa. Estou olhando listas de fobias, tentando encontrar uma que talvez se encaixe, mas até agora não encontrei nada. Nunca nem ouvi falar de alguém que tenha algo parecido. Isso não me incomoda a ponto de eu ter que procurar um médico, mas a crise de hoje me deixou muito preocupada. Estou com o coração disparado até agora, e já se passaram horas. Preciso descobrir que diabos é isso, e se mais alguém tem isso. Não é possível que seja só eu.

* * * * *

E eu ria da minha irmã que tem medo de borboletas... Pelo menos a fobia dela tem um nome (motefobia) e é relativamente comum.

* * * * *

Cortei o bolo em pedacinhos para poder comer. Não ficou bom. Muita farinha.

* * * * *

Tem nome até para o medo de ser observado por patos (????), mas não tem nome para ter medo de bolhas.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Vento Ventania...

Era o dia 06 de maio, uma terça-feira como todas as outras. Eu tinha feito (ou não) a última prova final do período 2012/2, embora já estivéssemos quase no meio de 2013, e estava muito feliz e ansiosa para aproveitar as maravilhosas férias de 10 dias, antes do início do período de 2013/1. Cheguei em casa uma hora da tarde, cansada e derretendo de calor, dei oi pra mamãe-papai-maninha-titia, almocei feliz e contente, e estava prestes a tirar meu cochilo da tarde (que deveria se converter em um sono profundo), quando escuto mamãe falando "tá chovendo???". Achei aquela pergunta absurda, pois há menos de dois segundos fazia sol e o céu estava limpo. Olhei pela janela do quarto e vi...
Não vi nada. Havia uma nuvem de areia e poeira cobrindo tudo, ventava loucamente, coisas eram arremessadas pelo céu. Eu moro no sétimo andar e vi pedaços de galhos que nunca deveriam chegar àquela altura passarem voando pela minha janela. Ao olharmos na direção da praia, onde tem diversos prédio em construção, tudo o que víamos era uma nuvem gigantesca de poeira.
A primeira reação foi de susto, seguida pela grande dúvida: que diabos estava acontecendo? Aqui em casa, seguiu-se um "diálogo" mais ou menos assim:
-- É chuva?
-- Incêndio!
-- Tempestade de areia! (eu)
-- Caiu um prédio!
-- Furacão!
-- Maremoto? (eu)
-- Fim do mundo?
-- Caiu um meteoro! (eu, mas não falei, só pensei)
Sem contar os gritos da minha mãe de "FECHA AS JANELAS!" e "SAI DA VARANDA MENINA!".
Nas ruas, as pessoas corriam para se proteger. A tampa da caixa d'água de uma casa aqui em frente saiu voando. Uma calha em outra casa se soltou, entortou e só não caiu porque ficou presa em uma árvore. Telhas voavam. Um outdoor caiu e uma placa enorme de uma loja aqui perto ficou pendurada.
Na hora, eu achei que isso estivesse acontecendo só aqui onde moro. Depois descobri que era no Estado inteiro e também no Rio de Janeiro.
E o que era, afinal?
Era uma tal de frente de rajada, uma ventania louca que antecede uma frente fria, e que chegou a 76km/h aqui onde moro. Esse vento trouxe poeira e, claro, areia das nossas poluídas lindas praias. Aqui foi ainda pior, porque o vento passou primeiro pelos prédios em obras e levantou uma nuvem de poeira tão grande que parecia a queda do World Trade Center.
A poeira acabou indo embora, mas o vento ficou ainda por um tempo, e foi diminuindo aos poucos. Vinha em redemoinhos como se fosse um tornado. Depois de um tempo, meus pais saíram de casa e relataram árvores caídas pela rua, sujeira por todos os lados, um homem que ficou pendurado em um andaime e precisou ser resgatado pelos bombeiros. O telhado de um terminal de ônibus desabou, placas saíram voando, árvores foram arrancadas pela raiz, muros caíram, janelas de prédios se quebraram e caíram no meio da calçada, pessoas tiveram que se segurar em postes para não cair, e o mais incrível é que ninguém morreu. Ninguém. As árvores caíram em cima de carros vazios; as janelas não acertaram ninguém; os muros caíram em calçadas por onde ninguém passava.
Para mim, isso foi mais uma consequência do fim do mundo. Confesso que quando vi a nuvem de poeira se aproximando, já estava me preparando mentalmente para meteoros, tsunamis e dinossauros destruindo tudo pelo caminho. Mas não foi dessa vez.
Ainda.

terça-feira, 7 de maio de 2013

[Resenha #006] A Batalha do Apocalipse - Eduardo Spohr

Resenha originalmente publicada no Skoob. Você pode ler mais sobre o livro clicando aqui.

REVOLUÇÕES NO CÉU E O FIM DO MUNDO

Há milênios, enquanto o Criador estava adormecido, dois grupos de anjos se rebelaram contra a opressão dos arcanjos e foram expulsos do céu. O primeiro, comandado por Ablon, desejava a justiça e o bem da humanidade, e foi exilado na Terra; o segundo, liderado por Lúcifer  desejava o poder supremo, e foi aprisionado no Inferno. Agora, o Sétimo Dia finalmente está se aproximando do fim, e com ele chegará o Apocalipse e o despertar do Altíssimo. Antes disso, porém, haverá o Armagedon, a grande batalha entre Arcanjos, Anjos Exilados e Demônios, que decidirá o futuro de toda a humanidade.
A Batalha do Apocalipse, primeiro livro de Eduardo Spohr, superou em muito minhas expectativas. Já tinha lido alguns (poucos) livros de fantasia brasileiros, e todos me decepcionaram enormemente. Por algum motivo, parecia que brasileiros simplesmente não sabiam escrever esse gênero: as histórias eram fracas e bobas, os personagens superficiais, e a escrita era vergonhosa. Mas A Batalha do Apocalipse prova que os brasileiros sabem, sim, escrever histórias de fantasia. Muito bem escrito, bons personagens, cenas de ação alucinantes, uma trama complexa e um trabalho histórico inacreditável são algumas das qualidades que o leitor encontrará no decorrer da história. Nem tudo são flores, claro. O livro possui pequenos problemas, alguns até incômodos, mas não conseguiram diminuir muito minha admiração pela obra.
A estrutura do livro é a seguinte: a história se passa em um futuro próximo, em que o apocalipse se aproxima, e tem como personagem principal o anjo renegado Ablon, que está escondido no Rio de Janeiro. Esse ramo principal da história é cortado por inúmeros flashbacks, muito maiores do que a própria história, que contam os acontecimentos que levaram os personagens até aquela situação. A narrativa é quase toda em terceira pessoa; a única exceção é durante um dos flashbacks, que se passa na época de Cristo, em que Ablon narra os acontecimentos em primeira pessoa. A mudança de pessoa narrativa pode deixar as coisas bem confusas por um tempo, mas particularmente, eu gostei muito: desafios de leitura são sempre interessantes, e nos obrigam a prestar ainda mais atenção nos detalhes da história para não nos perdermos.
Uma das coisas que gostei muito nesse livro foi o fato de parte da história se passar no Brasil. No início é uma sensação um pouco estranha, mas o autor consegue falar sobre a ponte Rio-Niterói e o Cristo Redentor da mesma forma que estamos acostumados a ouvir falar do Big Ben ou de Nova York: de forma natural, sem puxar muito pro lado do patriotismo, e ao mesmo tempo marcando de forma muito clara os lugares.
As cenas de luta, que ocorrem tanto nos flashbacks quanto no tempo presente, são fantásticas. A primeira delas, e uma das que mais gostei, é a da invasão e destruição de Babel por Ablon. A cenas da luta dele contra centenas de anjos no deserto também é alucinante. Mas a melhor de todas é, sem dúvida, a sequência da batalha do apocalipse - com exceção da batalha final de Ablon contra Apollyon, que achei um pouco fraca e teve um resultado um pouco estranho.
Outro ponto forte do livro é a construção dos personagens. Ablon é profundo e complexo, e é possível perceber, conforme vemos os acontecimentos passados, o quanto sua presença na Terra influenciou sua personalidade. Os demônios no geral também tem uma personalidade complexa e por vezes comportamento ambíguo. É muito interessante a relação de Ablon com alguns demônios, que eram seus amigos quando ainda eram anjos. Ver um demônio como algo não completamente mal é bastante raro.
Mas aqui temos também um dos maiores problemas do livro. A feiticeira Shamira, personagem principal ao lado de Ablon, tem uma construção absurdamente superficial. Achei muito difícil ter qualquer simpatia por ela, ou mesmo imaginar os traços da sua personalidade. Apesar de viver milhares de anos, ela parece simplesmente não evoluir psicologicamente. Não que o personagem em si seja fraco, mas parece que o autor não quis gastar tempo nos apresentando a ela. Não sabemos como é a sua personalidade. Até mesmo a pequena chinesa Flor do Leste, personagem que não fala e que aparece apenas em um trecho da história, tem uma personalidade mais clara do que Shamira.
Uma coisa que achei curiosa é que esse livro apresenta uma quantidade fora do normal de humanos imortais. Parece que qualquer mago que procure saber como se faz é capaz de conseguir isso, e temos ainda algumas figuras amaldiçoadas com a vida eterna. Acho que isso tira um pouco a graça de termos uma feiticeira que se torna imortal por amor, mas não é algo grave e nem necessariamente algo ruim.
Saindo um pouco da história, e falando de uma das melhores características do livro: o trabalho histórico. O autor deve ter gastado metade da sua vida pesquisando história antiga, história bíblica, lendas e mitologias de todos os povos imagináveis, além da geografia atual e antiga de diversos lugares. É um trabalho admirável e delicioso de se ler. Temos descrições belíssimas da Babilônia de séculos antes de Cristo, da China e de Roma no ano 0, da Europa Medieval, da Jerusalém dos tempos atuais, além de diversos outros lugares. Temos também o Rio de Janeiro descrito de uma forma que achei muito diferente do usual, uma descrição do céu que pode ser comparada a algumas das mais incríveis que já li - embora o inferno, apesar de impressionante, tenha uma descrição muito parecida com outras tantas por aí.
Um ponto negativo é que algumas coisas importantes que acontecem são previsíveis, o que torna cenas que poderiam ser surpreendentes em cenas apenas um pouco irritantes. Todas as vezes em que eu previ algo, aquilo aconteceu, embora em uma delas eu não tivesse ideia das reais proporções do que estava acontecendo. Além disso, em um momento importante, Ablon cai em uma armadilha simplesmente ridícula, da qual ele poderia ter escapado facilmente. Mas como eu já disse, são poucos os momentos não-bons (porque nem chegam a ser ruins) e não tiram o brilho do livro.
Enfim, recomendo esse livro para quem gosta de ficção e aventura, e para aqueles que tinham perdido a esperança na literatura fantástica nacional. Aviso, porém, que não é um livro fácil de se ler, e é preciso prestar atenção na história - eu mesma fui pega de surpresa várias vezes. Quem espera uma obra que irá mudar o mundo irá se decepcionar - não é esse o objetivo do livro. Mas é um livro que ocupa um lugar entre os melhores - não o melhor, mas com certeza um dos grandes.