quinta-feira, 31 de maio de 2007

Poema

Poema de minha autoria, criado em 29 de março de 2006.
Luto

Não procure rosas onde só há espinhos
A morte traz dor e desfaz caminhos
Não há amor onde escorre desejo
O que eu digo eu sei, eu ouço, eu sinto, eu vejo.

Não procure a lua com o céu nublado
É melhor amar do que ser odiado
Tem dias em que chove e o vento é forte
Poucas coisas são piores do que a morte.

Só se vista depois que amanhecer
A vida não deixa nosso filho nascer
Não peça perdão antes de pecar
Se Deus não existe, não adianta rezar.

Procure ir embora antes que eu cresça
Acender velas antes que anoiteça
A vida é curta mas dura até o fim
Queria encontrar algo seu em mim.

Não procure rostos com a luz acesa
Não deixe as flores mortas sobre a mesa
A porta em que passastes se fechou
É difícil acreditar que acabou.

Não plante sementes sob o vento sul
Não verá estrelas com o céu azul
Não vi mais, pois a dor a vista cerra
Não enxergo mais seu corpo sob a terra.

sábado, 12 de maio de 2007

Um Pouco Para Minha Mãe

Ainda hoje me lembro de quando tinha três ou quatro anos, e só dormia se minha mãe estivesse do meu lado. Não era medo de escuro, muito menos carência: era o medo, o maior de todos os medos, de que ela desaparecesse.
Por que ela desapareceria? Não sei hoje, e sabia bem menos naquela época. Mas certos medos não precisam de um porquê. Eu tinha medo de que, durante a noite, a escuridão engolisse minha mãe e a levasse para algum lugar distante. Mesmo dormindo ao lado dela, abraçada a ela, eu achava que ela poderia sumir a qualquer momento, me deixando sozinha para sempre.
Naquela época, ela sempre cantava para mim dormir. A vóz dela era a mais bonita de todas, e tinha uma espécie de magia que me levava para outros mundos. Havia uma canção, da qual me lembro até hoje, que falava sobre Nossa Senhora, a Mãe do céu. Para mim, a mãe da canção não era a santa, e sim a minha mãe. Porque minha mãe era a mais bonita de todas as santas do céu, e eu sabia que ela era um anjo, que viera à Terra tomar conta de mim.
Isso foi há muito tempo. E há muito tempo eu não durmo ao lado de minha mãe, e ela não canta mais para mim. Muitas coisas mudaram, comigo e com a gente. Às vezes nós brigamos, às vezes ficamos dias sem nos ver. Eu passo dias fora de casa, e só a vejo nos fins de semana. Já estou grande demais para chorar no colo dela, orgulhosa demais para pedir ajuda, ocupada demais para dar atenção.
Mas... Não sei se ela sabe que eu me lembro de cada momento ao lado dela, de tudo o que ela fez por mim. E ainda hoje, antes de dormir, eu fico pensando se ela não vai desaparecer durante a noite. Às vezes, tenho vontade de ir ao quarto dela, de ver como ela está, se está tudo bem. Mas não vou, sou orgulhosa. Não quero que ela saiba o quanto eu preciso dela, e tenho quase certeza de que ela não precisa de mim.
Se um dia ela for embora, eu não sei o que vai ser de mim. Porque ela é forte, mas eu não tenho quase nada da força dela. Eu sou fraca, muito fraca. E mesmo assim quero cuidar dela, quero protegê-la. Eu a vejo tão cansada, fazendo tanto por mim, e me pergunto se vou conseguir fazer tudo o que quero por ela.
Tudo, sinceramente, tudo o que eu faço é pensando principalmente nela. Se hoje eu passo o dia estudando, se eu me mato para conseguir dinheiro, se eu quero ser a melhor no que eu faço, é pensando nela. Meu maior sonho é poder dar a ela a vida que ela merece, dar a ela muito mais do que ela espera ter. E meu maior medo é que eu nunca consiga fazer isso.
Ela talvez não acredite que eu queira realmente isso. Mas ela não sabe o quanto eu a amo, e o quanto eu agradeço a ela por tudo. E eu juro, por tudo o que existe, que nunca vou abandoná-la. Talvez, às vezes, eu pareça distante, e talvez até me afaste; mas não vou abandoná-la nunca.

terça-feira, 1 de maio de 2007

Um Dia, ou Não

Dia desses entrei numa loja de lingerie. Não tenho esse hábito, mal uso sutiã, mas, enfim, entrei. Só por entrar. E tinha muito o que olhar. Fora uma ou outra coisa ridícula, como lingerie com estampa de oncinha ou zebra, tudo ali era lindo.
Estava prestes a comprar um conjunto completo de lingerie, o mais lindo que eu já tinha visto, com direito a tudo mesmo, quando me lembrei de um detalhe: eu nunca vou usar isso (quando digo nunca, me refiro aos próximos seis meses). E, se eu usar, ninguém vai ver. Por que eu gastaria, sei lá, cinquenta, oitenta reais numa coisa que ninguém vai ver?
Deixei a lingerie na loja. Mas fiquei pensando nessas coisas. Eu poderia comprar uma lingeire, ou duas, ou dez. Poderia usar roupas sexys e provocantes. Poderia comprar uma caixa de camisinhas. Mas pra que?
Pra que? Eu nunca vou usar nada disso. Está certo, tem gente que compra a primeira camisinha aos cinco anos e guarda até poder usar. Mas eu não sei se um dia vou usar. Por quê? Sei lá. Acho que vou morrer virgem.
Não, não é meu objetivo morrer virgem. Pelo contrário. Mas sei lá, acho que é meu destino. Enfim, estou com dezenove anos. Vamos esperar até os vinte. Se até lá eu ainda não tiver comprado uma lingerie, não comprarei nunca mais. Vamos ver.