quinta-feira, 5 de maio de 2011

Sumindo...

Eu passo no mínimo três horas por dia, quase todos os dias, dentro de um ônibus. Para passar o tempo, me divertir e ter coisas interessantes para escrever aqui, eu geralmente fico prestando atenção nas pessoas e registrando coisas inusitadas que acontecem. Afinal, no meio de tanta gente, é inevitável que aconteçam coisas estranhas com pessoas estranhas.
Só que um belo dia, como não podia deixar de ser, a "coisa estranha" aconteceu comigo.
Era meu primeiro dia de aula nesse novo semestre (ou melhor, era o primeiro dia em que eu estava indo pra aula nesse novo semestre - as aulas já tinham começado há alguns dias). Fui para a faculdade, revi pessoas, fui para o meu estágio, revi mais pessoas e depois fui embora. Até aí, tudo corria normalmente.
Peguei um ônibus absurdamente cheio, como de costume. Era pouco mais de cinco da tarde, horário de pico. Encontrei com um rapaz que ia para o mesmo lugar que eu, e ficamos conversando, em pé no corredor, enquanto o ônibus enchia cada vez mais. Era início de março e estava absurdamente quente.
Havia se passado cerca de uma hora, e o ônibus estava quase chegando ao terminal. Estava tão cheio que, se eu me virasse, não conseguiria voltar para minha posição inicial. E de repente, eu comecei a sentir um enjôo estranho.
A primeira coisa em que pensei foi nos dois pães de queijo que tinha comido. Mas poxa, eu adoro pão de queijo e sei que ele também me adora, ele não me faria ficar enjoada desse jeito. Então imaginei que fosse o calor. O enjôo aumentava muito rápido, e junto com ele, uma sensação de sono estranha. Então me virei um pouco, procurando uma janela, uma brisa, qualquer coisa - mas não havia. Em menos de vinte segundos aquilo tinha se tornado insuportável e eu senti que, se não sentasse e respirasse ar fresco, iria acontecer uma tragédia. Olhei para a mulher sentada no banco mais próximo, me perguntando se, caso eu dissesse que estava passando mal, ela me cederia o lugar. Enquanto eu pensava nisso, minha vista ficou escura - o mesmo tipo de sensação de quando você está deitado e levanta muito depressa. Confusa, eu fechei os olhos e abaixei um pouco a cabeça, esperando minha visão voltar ao normal. Então...
Então eu estava em um lugar estranho, cheio de personagens de desenhos animados, onde um lindo sol brilhava e havia um cavalo voador. E alguém falava algo para mim, que eu não entendia. Até que reconheci as palavras como "senta ela ali" ou algo do tipo, e percebi que estava de olhos fechados, que alguém me segurava e que eu estava meio sentada no chão. Abri os olhos com muito esforço, e vi que estava sentada no meio do corredor do ônibus, que havia um homem me segurando e tentando me levantar, e que pessoas falavam comigo mas eu não entendia. Eu tinha desmaiado.
Obviamente não lembro de nada do que aconteceu, mas investigando depois, deduzi que foi o seguinte: por causa do calor e da super-lotação do ônibus, minha pressão caiu muito rápido, o que causou o enjôo e a tontura. Quando ela ficou mais baixa do que seis por três (o normal é doze por oito), eu desmaiei. Pela posição em que estava quando acordei, eu devo ter soltado primeiro uma mão (antes estava com as duas segurando em um daqueles ferros do ônibus), o que me fez virar e ficar de frente para a janela, e só então soltei a outra mão e caí. Graças a quantidade de pessoas eu não caí de vez, pois as pessoas atrás de mim me seguraram e me colocaram no chão, para que eu não me machucasse nem caísse em cima delas.
Voltando agora ao que eu me lembro. Eu tinha acordado no chão, mas minha consciência ainda estava bem longe dali. Eu não sabia onde estava, quem eu era nem o que tinha acontecido. De alguma forma me colocaram em um dos bancos, no lado da janela, e quando voltei a mim de verdade, eu estava de olhos fechados, com a cabeça apoiada no vidro e respirando como se tivesse me afogado.
Abri os olhos e olhei ao redor, confusa. Pessoas perguntavam se eu estava bem, o que eu tinha, se isso já tinha acontecido antes. Pressão baixa, eu disse, e afirmei que estava bem, que estava ótima - o que era uma mentira absurda. Eu estava pálida, as mãos e os pés dormentes, e sentindo frio. Mas fiquei reafirmando que estava bem, que estava ótima. Eu sabia que tinha que melhorar, de uma forma ou de outra: quando o ônibus chegasse no terminal, eu teria que descer e pegar outro ônibus, que levaria mais quarenta minutos para chegar à minha casa. E depois que eu descesse desse último ônibus, eu ainda teria que andar alguns minutos por uma rua sem muito movimento, até chegar em casa.
O ônibus chegou ao terminal depois de uns quinze minutos, e eu já me sentia um pouco melhor. Desci e fui para a fila, esperar o outro ônibus. Ainda na fila, a tontura começou a voltar; eu coloquei a mão no bolso - tenho a mania de andar com as mãos no bolso - e encontrei um pacotinho de sal que o Lukito tinha me dado naquele mesmo dia, sem motivo nenhum, como se adivinhasse o que ia acontecer. Abri o pacotinho e comi o sal todo; isso me fez me sentir melhor, mais quente, e minhas unhas aos poucos foram ganhando um pouco de cor.
Depois de uns dez minutos ou mais de espera, o ônibus chegou. Eu achei que conseguiria um lugar para sentar, mas não consegui; de forma que fiquei em pé, no fundo do ônibus, em um lugar perto a uma janela. Mas ficar parada em pé fazia as coisas piorarem muito; antes mesmo de o ônibus deixar o terminal, eu já estava sentindo o enjôo de novo, e a sensação de sono.
Passou-se dez minutos, e eu senti que ia acontecer tudo de novo. Estava ficando tonta, e mesmo consciente, não estava tendo forças para ficar de pé, nem para me segurar. As pessoas começaram a olhar para mim, com uma expressão de preocupação; eu devia estar totalmente sem cor. Então sentei no chão mesmo, no meio de todo mundo, pois o ônibus não estava tão cheio e se eu desmaiasse, ia cair de vez e poderia me machucar.
Nessa hora, um menino bonzinho que estava sentado perguntou se eu estava bem, e se não queria sentar no lugar dele. Eu hesitei - não gosto de preocupar as pessoas nem de dar trabalho a ninguém - mas estava mal de verdade, então acabei aceitando. Ele deixou eu sentar no lugar dele, e eu pude respirar um pouco. Ele ficou conversando um pouco comigo, e eu contei que tinha desmaiado na ida para o terminal. Ele disse que já tinha passado por coisas parecidas, o que me fez sentir um pouco melhor e menos constrangida - eu estava muito constrangida e um pouco assustada com aquilo. Nunca tinha desmaiado antes, embora já tenha tido problemas por causa de pressão baixa.
Chegando ao meu bairro, eu percebi que não poderia andar todo o caminho para casa depois que descesse do ônibus. E eu não tinha celular. Pensei em descer no centro e pedir ajuda, pois ali havia muita gente; mas depois tive uma idéia melhor. Há um salão em que eu e minhas tias vamos sempre, e a dona, chamada Fátima, é nossa conhecida há tempos; então resolvi descer no ponto lá perto, e ir pedir ajuda para ela.
Os dez metros que tive que andar do ponto até o salão foram os piores da minha vida. Eu não tinha forças, estava tonta e não conseguia pensar direito. Cheguei ao salão e pedi ajuda; a Fátima me fez sentar em um sofá, eu contei o que tinha acontecido e ela ligou para a minha tia.
Minha tia chegou em dois minutos e me levou para casa, onde já chegava minha outra tia. Meus pais levaram um susto quando me viram chegar praticamente carregada. Depois que cheguei, deitei e comecei a me sentir ligeiramente melhor, minha tia foi medir minha pressão. Precisou tentar três vezes, pois o aparelho não conseguia encontrar meu pulso. Quando conseguiu, ela estava oito por quatro. Lembrando de novo, o normal é doze por oito.
Depois disso, eu fiquei alguns dias sem ir para a faculdade. Dormi muito, ouvi todo mundo para quem eu contava me falando para comer direito, que eu estava muito magra e isso não era normal, e mais um monte de coisas que eu não precisava que ninguém me dissesse porque já sabia. Mas depois que voltei ao normal (o mais normal que uma pessoa cinco quilos abaixo do peso pode ser) nunca mais aconteceu nada parecido. Eu fico tonta as vezes, mas isso sempre foi assim. O lado bom é que, de novo, eu tinha alguma coisa emocionante para contar para os meus amiguinhos. Como vocês sabem, eu adoro contar coisas emocionantes para os meus amiguinhos.

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Depois disso, o Lukito passou a me dar pacotinhos de sal todos os dias. Obrigada Lukito.