terça-feira, 11 de setembro de 2007

My Life is Music - Parte 3

Aquela foi uma época difícil.
Eu tinha 14 anos, acabara de entrar na adolescência, e me deparei com uma complexidade musical inédita na minha vida. Eu olhei pra trás, e vi que a vida que eu levava até então - regada a forró, axé, funk e similares - era vazia, sem sentido. Eu era feliz, mas era a felicidade da ignorância. Agora, à minha frente, se abria um mundo novo, o mundo da verdade, o mundo real. E, nele, só havia espaço para o rock.
Entrei de vez nesse mundo. Um mundo de letras inteligentes, de músicas bem feitas. Legião Urbana, Cassia Eller, Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Engenheiros do Hawaii, IRA!. Eu comecei a perceber que era aquilo que eu tinha procurado a vida toda. Mas aí aconteceu uma coisa.
Eu entrei em depressão.
Isso me atormentou durante anos, e influenciou o meu gosto musical. Comecei a gostar do lado sombrio do rock. Conheci o Nirvana. Descobri as músicas mais obscuras do Legião Urbana. As músicas Lanterna dos Afogados e A Via Láctea se tornaram os temas da minha vida.
Mas, às vezes, eu tinha momentos de grande euforia. Durante esses períodos, eu ouvia músicas mais alegres - e voltava a escutar funk, axé e etc. Era um retrocesso.
Aos 15 anos, vivi a época das músicas românticas. Deixei o rock um pouco de lado. Eu só queria calma, paz. E assim foi até o fim dos 16 anos.
Cheguei aos 17 anos mais ou menos curada da depressão. E comecei a mudar. Mudar muito, e muito rápido. Foi uma explosão de lucidez. Funk? Axé? Que droga era isso? Eu gostava de música, não de barulho. Eu gostava de rock. Eu, Vitoria Esewer, era uma roqueira! Isso era muito legal.
Mas a verdade é que eu era muito ingênua. Ouvia rock, mas não entendia as sutis - ou drásticas - diferenças entre os estilos. Eu queria ser uma rebelde, mas não tinha causa. Eu ouvia Nirvana e achava que aquilo era rock pesado.
Eu era muito inocente.

Continua...

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

My Life is Music - parte 2

Mais ou menos nessa época, tive outro contato imediato com o rock. Eu estava no carro, o dia estava lindo e melancólico, e nós estávamos subindo uma serra. O rádio estava ligado. Então, de repente, sem mais nem menos, começou a tocar algo, uma música, linda, incrível, indescritível - Unforgettable Fire, do U2. Fiquei em choque. Me senti como um ateu que de repente se descobre a reencarnação de Jesus Cristo. "Nossa, mãe, que música linda!". "É rock", diz mamãe, "eu não gosto". E desliga o rádio. Mas já era tarde: a melodia estava gravada para sempre em meus ouvidos.
Aos dez anos, fui para uma escola pública. Lá, aprendi a gostar do que o povo brasileiro gosta: forró, música baiana - e, finalmente, o funk. O funk foi o auge da minha infância musical. Eu respirava funk. Quanto mais frenético o ritmo, melhor. Não importava que a letra fosse estúpida e o som fosse repetitivo. Eu queria o barulho, só o barulho.
Também nessa época percebi que não gostava de música estrangeira. Eu gostava de cantar, e não podia cantar em uma língua que eu não conhecia. E ponto final.
Aos 13 anos, mudei novamente de escola. Lá, conheci um professor que tocava violão e adorava Legião Urbana. Eu não conhecia Legião Urbana, mas fiquei curiosa sobre a banda. E, um dia, fui apresentada à música Faroeste Caboclo.
Foi mais uma revelação. Deus, o que era aquilo? Havia algo muito forte naquela música enorme, um quê de genialidade, que eu sentia mas não conseguia definir. Eu era nova demais, e aquela música mexeu profundamente comigo.
Eu ainda era muito eclética, mas comecei a me interessar de forma especial por Legião Urbana. Em pouco tempo, conhecia mais músicas deles do que de todas as outras bandas juntas. Algo em mim estava mudando.
Até que chegou o dia. Aquele dia. Eu estava no quarto, lendo, e mamãe estava na cozinha ouvindo o rádio. Eu não estava prestando atenção, até que começou a tocar algo muito familiar. Corri para a cozinha: no rádio, tocava Malandragem, de Cássia Eller. Quem sabe eu ainda sou uma garotinha... Exatamente como a sete anos atrás. Mas algo em mim mudara. Tudo se concluiu naquele instante. Tudo o que vinha acontecendo dentro de mim se resolveu no momento em que eu escutei aquela música pela segunda vez.
Eu não era mais uma garotinha.
Foi o fim da minha infância musical.

Continua...