segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Uma Questão de Tamanho

Eu sempre fui relativamente alta. Como conheço muitas meninas mais altas do que eu, hoje eu não tenho tanto a sensação de ter uma altura privilegiada; mas nem sempre foi assim.
Quando eu era bem pequena, por volta dos três anos, eu era a mais alta das meninas e talvez mais alta do que os meninos também. Tinha a altura de uma criança dois anos mais velha do que eu, o que é muita coisa. Naquela época isso era muito bom: eu podia bater nos meninos, podia humilhar os menores, e o único comentário sobre a minha altura que já tinha ouvido era "olha que menina alta". Mas os anos foram passando e meu tamanho foi aumentando, e os comentários passaram a ser bem diferentes.
Dos seis aos nove anos eu me mudei muito, então não consigo me lembrar exatamente dos meus amigos da época, e nem sei se havia algum comentário negativo sobre o fato de ser alta. Sei que continuava a ser a mais alta da turma. Inclusive, eu tinha várias amigas mais velhas, e eu também era mais alta do que elas. Mas a partir dos dez anos nós finalmente nos fixamos em um lugar (mais ou menos), e as coisas começaram a ficar claras para mim: eu era alta demais e isso não era necessariamente algo bom.
E não era bom mesmo. Para começar, eu sempre tinha sido violenta, e na pré-adolescência piorei. Minha altura me dava uma grande vantagem em relação às outras crianças. Pra completar, além de alta eu era muito inteligente (isso não é um auto-elogio, é uma constatação), e coloque altura + inteligência em uma criança com uma personalidade difícil e ela inevitavelmente se achará superior a todo o resto da humanidade.
Me lembro de que, quando eu tinha doze anos, a professora mediu todas as crianças na aula de educação física, e ia falando em voz alta as alturas conforme media. Foi mais ou menos assim:
-- Maria, um metro e trinta e cinco; Ana, um metro e quarenta; Gabriela, um metro e quarenta e dois. - e isso se seguiu, mantendo mais ou menos esse padrão de altura, até chegar a mim - Vitoria, um metro e cinquenta e três.
Isso eu tinha doze anos. Lembro dos "ooooo's" de espanto quando a professora revelou minha altura. Na turma inteira só havia uma pessoa - um menino - que também tinha essa altura, e ninguém era maior do que eu. Confesso que eu fiquei rindo bobamente por uma semana, de pura felicidade: eu sempre tinha desejado ser a pessoa mais alta do mundo, e meu sonho estava se realizando. Isso compensava até mesmo...
Até mesmo os comentários imbecis que eu era obrigada a ouvir desde os dez anos, de pessoas que achavam que eu era bem mais velha do que eu realmente era. Uma vez, aos dez ou onze anos, eu estava brincando em um parquinho quando uma mulher veio até mim e disse: "você não se acha grande demais pra brincar igual a uma criança? Vai ajudar sua mãe em casa!". Outra vez eu estava pulando e cantando com uma amiga minha pela rua, quando ouvi umas pessoas comentando "que ridículo, uma moça agindo igual a uma criança". Sem contar que eu só sabia andar correndo, e ria e falava muito alto (como uma criança mesmo, afinal eu ainda era criança), e as pessoas ficavam me olhando e murmurando coisas possivelmente negativas.
Tudo isso era muito irritante, mas eu continuava querendo ser alta. Um dia seria maior e mais forte do que todos os meninos do mundo e poderia bater em todos eles.
Aí um ano se passou, e eu mudei de escola. Eu tinha treze anos agora, e novamente nós fomos medidos durante a educação física. O procedimento se repetiu:
-- Joana, um metro e cinquenta; Paula, um metro e sessenta e dois. - dessa vez havia uma variação maior de alturas, mas se eu não me engano, a maior das meninas não tinha mais do que um metro e sessenta e cinco - Vitoria, um metro e setenta e três.
Minha reação foi gritar um "O que????", acompanhada em coro por metade dos alunos. Era impossível! Nenhum ser humano cresce vinte centímetros em menos de um ano! Mas eu tinha crescido. E por um lado fiquei muito feliz, mas por outro lado...
Por outro lado...
Por outro lado, eu já não queria tanto poder bater em todos os meninos. Na verdade, quando eu via um menino bonito e menor do que eu, me dava uma certa melancolia. De repente, eu me peguei murmurando para o nada coisas como "ok, já tá bom, não preciso crescer mais não". Mas já era tarde. Pouquíssimas amigas minhas chegaram perto de ficar tão altas quanto eu (fora a Luli, que já tem dois metros e as vezes acho que ainda está crescendo).
Para o meu consolo, eu parei de crescer nessa idade e hoje ainda tenho mais ou menos um metro e setenta e três (ou setenta e dois, depende da régua). E um fenômeno curioso ocorreu: na mesma época em que atingi minha altura máxima, as pessoas pararam de me achar mais velha e passaram a achar que eu tinha menos do que a minha idade. Isso porque eu cresci mas não criei corpo nenhum, então parecia uma criança comprida (ou um cabo de vassoura, se acharem a definição mais clara). Não melhorei muito nessa questão e acho que já perdi as esperanças de ter mais curvas do que uma régua.
Mas pelo menos eu não preciso de um banquinho pra alcançar a prateleira mais alta.

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Sim, eu faço bullying com os baixinhos até hoje.

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