quinta-feira, 23 de maio de 2013

Traficante de Deus

Eu estava no ônibus, de noite, indo para alguma festa ou reunião com amigos, não me lembro direito. A viagem seguia tranquila quando, sem mais nem menos, subiu no ônibus mais um daqueles crentes que tentam inutilmente evangelizar as almas perdidas como a minha.
Pensei "aí vem mais um", e comecei a desligar minha mente, mas algo na forma como o homem falava chamou minha atenção, e passei a prestar atenção na história dele. A primeira parte da "pregação" foi o de sempre, propaganda de alguma igreja e sermão pelas almas perdidas. Mas depois o cara começou a contar a história da vida dele, e as coisas ficaram interessantes.
Eu não sei o quanto da história era verdade, ou mesmo se alguma parte da história era verdade. Também não lembro exatamente de tudo, porque era muito longo e eu não tinha um gravador comigo. Mas era mais ou menos assim (lembrando que era um crente contando sua história para mostrar como Jesus salva):
O cara nasceu e cresceu no interior da Bahia, filho de feiticeiros do Candomblé (eu não entendo nada de Candomblé então não sei o quanto desse relato tem a ver com como as coisas realmente funcionam). Por isso, desde pequeno sua mãe o levava ao terrero de macumba, onde fazia com ele rituais macabros e o obrigava a beber o sangue de animais. Também cortava a pele dele para que os adultos bebessem seu sangue. Então, nesse ambiente saudável e normal, ele cresceu.
Aos dez anos ele se envolveu com drogas e traficantes. Começou a praticar alguns assaltos e roubos cada vez maiores, e ainda com dez anos cometeu seu primeiro assassinato (garotinho precoce, orgulho da mamãe). Aos doze anos já havia sido preso várias vezes, já comandava sua própria quadrilha e mandava matar e torturar (não necessariamente nesse ordem) qualquer um que cruzasse seu caminho. Aos dezesseis, seu irmão morreu no lugar dele, por causa de um tiro que errou o alvo.
E no meio de tudo isso ele não parava de falar nas mães que falavam para ele "você tirou o meu filho de mim" etc.
A história continuou nesse nível, e o final vocês já devem imaginar: o cara acabou sendo preso pra valer, passou horrores na prisão, no meio disso tudo encontrou um missionário evangélico que o apresentou a Jesus e ele magicamente se converteu! Agora ele não era mais um cara mal, ele era um servo de Deus que deveria pregar a mensagem divina na Terra e que teve todos os pecados perdoados graças à bondade do Altíssimo. E dane-se os que ele matou no caminho.

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Então vocês já sabem amiguinhos: podem matar, estuprar, torturar e se drogar, desde que no final aceitem Jesus nesse coraçãozinho de vocês.

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Não importa se a história do cara era verdadeira ou não, eu adorei. Se um dia reencontra-lo, farei questão de grava-la.

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