quinta-feira, 16 de maio de 2013

Perdida no Mundo

Eu tenho um senso de direção equivalente ao de uma mariposa, que procura pela lua e acaba caindo numa vela. Esses dias, precisava ir ao supermercado, mas antes passei em uma loja de doces com a minha irmã, saindo assim do caminho habitual que costumo percorrer. Minha irmã acabou ficando na loja e eu disse que iria ao supermercado sozinha. Meu plano era voltar parte do caminho para seguir pela minha rota padrão, mas ela disse "não precisa, é só entrar nessa rua aqui que aí você sai no lugar tal e vai reto". Confiando em tão específica informação, eu fui.
Mas, ao chegar na rua indicada, descobri que ela estava interditada por conta de uma feira. Cheguei à conclusão de que o melhor seria ir pela rua ao lado dessa, pois as duas deveriam sair muito próximas uma da outra. Fiz isso e saí em uma grande praça, onde acontecia a feira. E aí...
Aí eu comecei a me perder, embora ainda achasse que sabia o que estava fazendo.
Eu olhei ao redor, e embora já tivesse passado por ali algumas vezes, estava confusa por causa da feira. Fui andando, tentando lembrar pra que lado ficava o supermercado, e vi uma lanchonete que eu conhecia. Achei que o supermercado era na rua ao lado da lanchonete, e por lá segui. Fui parar então em outra rua, uma rua só com prédios e casas, que eu não conhecia.
E então, genialmente, ao invés de voltar e tentar me reencontrar, eu resolvi seguir andando sem rumo pela rua, pois tinha certeza de que "o supermercado fica nessa direção", e achava que mais cedo ou mais tarde eu me encontraria. Fui parar em outra rua, continuei andando, parei achando que estava voltando pra onde tinha vindo, voltei, entrei em outra rua achando que era a rua de onde tinha vindo mas não era, continuei andando, até que saí em uma avenida. Confusa, e tendo uma estranha sensação de que conhecia aquela avenida, continuei andando na direção em que eu achava que ficava o supermercado.
Aquela sensação estava me incomodando. Que avenida era aquela, que eu conhecia mas não conseguia lembrar onde ficava? Foi então que mais a frente avistei a igreja católica no meio de uma praça, e parei como se tivesse batido no muro da idiotice: aquela era a avenida em frente à minha casa, por onde eu tinha vindo com minha irmã, e por onde eu passava todos os dias. E eu estava indo na direção oposta ao supermercado.
Vocês entenderam o tamanho da minha imbecilidade? Eu me perdi no meu próprio bairro, fiquei dando voltas, de alguma forma fui parar na avenida de onde eu tinha vindo e por onde passo todos os dias, e não só não a reconheci, como comecei a voltar por onde tinha vindo antes! Eu senti vergonha de mim mesma na hora, como o mundo permite que um ser com tamanha falta de senso de localização exista? Nessa hora minha irmã me ligou perguntando se eu já estava no supermercado, eu disse que não e comecei a rir, dizendo que tinha me perdido. Minha irmã, que tem um GPS acoplado ao cérebro, se ofereceu para me buscar, mas eu disse que já tinha me achado, e segui finalmente pelo caminho certo, em direção ao supermercado.

* * * * *

Sinceramente, acho que se me levassem até algum lugar, fechassem meus olhos e me rodassem, quando eu abrisse os olhos não teria a menor ideia de onde estava. Eu já tentei de tudo, todo tipo de exercício mental para melhorar isso, mas acho que meu cérebro tem alguma falha mecânica.
A primeira vez que eu me perdi eu tinha uns três anos e estava dentro de uma loja, meus pais estavam do meu lado, e eu simplesmente entrei em um corredor diferente e pronto, não sabia mais onde estava.
Em frente à faculdade onde eu moro tem um bairro que, para mim, é um labirinto: a cada vez que entro por uma rua, ela sai em um lugar diferente. Uma vez peguei um ônibus errado, e para o meu desespero tive que atravessar o bairro para chegar na faculdade. Fui andando aleatoriamente, até o momento em que eu tinha a certeza de que estava indo na direção errada, e quando fui pedir informação descobri que estava magicamente do lado de onde queria chegar.
Pra finalizar, um último caso: uma vez, quando eu morava em outro lugar, estava voltando da faculdade de ônibus e acabei dormindo quando estava quase chegando em casa. Quando acordei, o trocador estava perguntando se alguém iria para o Serra-Mar. Explica-se: esse ônibus fazia um longo caminho pelo bairro, e em determinado momento, entrava por uma rua em um lugar chamado Serra-Mar, dava a volta naquele quarteirão e ia sair ao lado do lugar por onde entrara, seguindo então pela avenida (fazia um desenho assim ___|   |_____). Só que muitas vezes os motoristas "pulavam" essa parte do trajeto, seguindo direto em linha reta pela avenida. E foi isso que aquele ônibus fez, quando nenhum passageiro fez objeção.
Só que esta criatura que vos escreve já tinha pego aquele ônibus milhares de vezes, mas nunca tinha percebido que naquela parte do trajeto ele dava uma volta e voltava para o mesmo lugar. Por isso, quando ele foi reto, eu não entendi nada e já não sabia aonde eu estava. E como estava sonolenta, demorei um pouco para processar o que estava acontecendo. Confusa, e sem ter certeza de onde estava, fui até o cobrador.
-- Eu preciso descer no ponto depois que passa a avenida Noroeste, já passou?
-- Ahm? Que avenida? - disse o cobrador, muito perspicaz e rápido de pensamento.
-- A avenida que passa em frente ao supermercado...
-- Já passou pelo supermercado.
-- Não, mas ele passa pelo supermercado, sai da avenida, anda um montão e passa pela avenida de novo, não é?
-- Ah tá. Sim, a gente acabou de passar. Seu ponto ficou lá atrás.
-- Ops.
Dei sinal para descer do ônibus, e quando perguntei ao cobrador como faria para voltar para onde eu queria, ele disse "é só ir reto na avenida". Desci do ônibus em um lugar deserto que eu não conhecia, a noite, e olhei para aquela avenida enorme, que parecia não ter fim. Fui andando sem saber direito para aonde ia, até que vi umas pessoas em frente a uma igreja e parei para pedir informação.
-- Moça, eu preciso ir para a avenida Noroeste, é pra lá?
-- Noooossa menina, é pra lá sim, mas você vai andar bastante viu?
Agradeci a informação e continuei andando. Depois de muito andar, cheguei na avenida Noroeste, mas ainda demorei para perceber que era mesmo o lugar em que eu queria. Só quando avistei minha casa no fim de uma das ruas tive, digamos, noventa por cento de certeza. A certeza só foi cem por cento quando bati na porta e minha mãe que atendeu.

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Dizem que as mulheres tem problemas de localização por natureza, mas o meu caso merecia ser estudado pela ciência.

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