quinta-feira, 4 de julho de 2013

Um Deus Particular

Eu leio um manga chamado 07-Ghost, e entre vários conceitos fantásticos que ele contém, um dos que mais gosto é o de que certas pessoas se tornam um "deus" para outras.
A princípio eu estava vendo isso apenas como uma peculiaridade da história - e, até certo ponto, um exagero: afinal, ninguém precisa de outra pessoa para viver, certo? Uma pessoa se tornar a razão da sua vida é algo um pouco extremo. Mas, pensando sobre isso, aos poucos comecei a achar que não só era algo tolerável, como era algo que realmente acontecia.
As vezes, a gente conhece uma pessoa que a princípio é apenas uma pessoa comum, mas de repente, as vezes sem uma razão específica, essa pessoa se torna especial. Se torna tão especial que queremos ficar perto dela o tempo todo, queremos conversar com ela, queremos ser ela. Admiramos as coisas que ela faz e os passos que ela dá, admiramos nela coisas que normalmente nem percebemos nos outros. Essa pessoa acaba se tornando uma espécie de ídolo, e quando percebemos, estamos lhe dedicando todo o nosso ser, de corpo e alma. Ela passa a ser o centro da nossa existência.
O ser humano precisa de deuses particulares. Ídolos.
Quando nascemos, nossos pais são nossos deuses. Eles detêm todo o poder, todas as decisões, e nós os amamos por isso. Eles representam carinho e proteção, são o símbolo do que queremos ser um dia. Possuem um conhecimento e uma sabedoria muito superior às nossas. Por boa parte das nossas vidas, nossos pais são como deuses para nós.
Mas então crescemos, e nossos deuses se tornam humanos. Nossos ídolos se mostram tão frágeis quanto nós. Passamos então a nos sentir novamente sozinhos, desprotegidos - perder um deus é como nascer sem que ninguém te segure, é se encontrar perdido em um mundo estranho. Passamos, então, a procurar um novo deus, algo ou alguém que substitua o vazio deixado por nossos pais. E aí muita coisa pode acontecer.
Podemos entrar para uma religião.
Podemos passar a usar drogas.
Podemos nos tornar fãs de alguém ou de alguma coisa.
Podemos nos apaixonar.
Mas as vezes, algumas vezes, nós encontramos alguém - um amigo, um amor, um desconhecido, tanto faz - que se torna tão importante, mas tão importante, que passa a guiar cada passo das nossas vidas. Não é um amor romântico, nem precisa de retribuição - essa pessoa, na verdade, não precisa sequer saber da nossa existência. Ficamos felizes apenas por ela existir.
A parte mais interessante disso é quando nós nos tornamos o deus de outra pessoa. Na maioria das vezes, demoramos para perceber que somos tudo o que importa no mundo para alguém. Afinal, damos pouca importância a nós mesmo, e parece quase impossível que outra pessoa nos ache o símbolo da perfeição.
Mas isso acontece. E acontece mais do que a gente imagina.
Ser admirado, ser amado, ser importante para outra pessoa - isso é uma responsabilidade enorme. Não por termos que ser perfeitos, mas sim porque temos que continuar a ser nós mesmos, e aceitar as consequências que nossos atos terão não só sobre as nossas vidas, mas também nas vidas de quem nos adora. Passamos a saber que, se falhamos em algo, podemos estar fazendo desabar o mundo de outra pessoa.
Tu és eternamente responsável por aquilo que cativas.
Sendo o deus de alguém, você pode salvar essa pessoa. Porque você é uma das poucas pessoas que ela vai realmente ouvir. Porque ela vai tentar ser igual a você, vai tentar seguir seus passos. E porque, se você disser que a ama, você vai estar dando uma alegria a ela que em pouquíssimas vezes ela vai ter a chance de sentir.

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Eu sei que sou o deus de algumas pessoas - sei de pelo menos três delas. E isso é uma coisa incrível mesmo.

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Fico pensando e pensando, e não consigo descobrir quem é o meu deus. Talvez eu não tenha um no momento.
Eu ia dizer que não lembro de ter tido um deus durante a minha infância ou adolescência, mas acabo de descobrir que eu tive sim. Alguém que foi tão importante para mim, que ouso dizer que foi graças a ele que escolhi a profissão que tenho hoje, entre várias outras coisas.
Mas o meu "deus" mais marcante foi sem dúvidas o U2. Essa banda foi tão importante na minha vida, que dedico a ela tudo o que eu conquistei na minha vida entre os dezoito e os vinte e quatro anos. Sem esse meu deus particular, eu não seria metade do que sou hoje.

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