terça-feira, 16 de julho de 2013

Médicos

No geral, eu não gosto de médicos.
Acho engraçado pessoas que "têm" um médico, ou quem considera algum médico como um amigo. Médico é médico, e a maioria dos que eu conheço (infelizmente conheço muitos) são pessoas de quem quero a maior distância possível fora do consultório.
É estranha a visão de médico como uma "pessoa que salva vidas". Eu vejo mais como "pessoa que ganha dinheiro às custas do sofrimento dos outros". Porque, com raras e belas exceções, você pode estar morrendo na frente do médico, mas se não tiver dinheiro para pagar o atendimento, ele vai te deixar morrer.
Às vezes, ele te deixa morrer mesmo quando você paga o atendimento.
Eu tenho certa antipatia por médicos de qualquer tipo desde muito tempo. Por isso, fiquei bastante irritada com a comoção criada pela decisão do governo de trazer médicos estrangeiros para os lugares do Brasil em que nenhum médico brasileiro quer ir. Eu concordo plenamente que trazer médicos de fora não vai solucionar os problemas da saúde pública, mas alguém acredita que os médicos estão realmente preocupados com a saúde pública?
Se médico se preocupasse com a saúde pública, ele não te atenderia em menos de cinco minutos num posto de saúde.
Se médico se preocupasse com os pacientes, ele não diria coisas como "se quer atendimento melhor, vai no meu consultório particular".
Se médico se preocupasse minimamente com a vida de quem ele está atendendo, ele nunca daria um diagnóstico errado por pura desatenção.
O que eu tenho observado, em anos vagando como uma alma penada por consultórios, é que os médicos não têm, de uma forma geral, nenhum tipo de "ligação" com os pacientes. Olham para nós da mesma forma que eu olho para um computador quebrado: se der pra consertar eu conserto, se não der jogo fora. Ou: se me pagar eu conserto, se não pagar, se vira.
Por algum motivo misterioso, ser médico é ser elite. Conheço famílias de médicos, será que só eu que acho a ideia de todo mundo da família seguir a mesma profissão uma coisa no mínimo estranha? Alguém mais acha totalmente louco mais de trinta pessoas na mesma família terem a mesma vocação? Que sorte, né, meus pais são médicos, meus irmãos são médico e eu também nasci com dom para medicina! Incrível!
Médico é elite. E ser médico, em uma família de médicos, é uma obrigação. Agora imagine que tipo de médico irá se tornar uma pessoa que foi coagida a seguir essa profissão. Aliás, não precisa imaginar: entre em qualquer consultório e veja. Veja o péssimo atendimento, o ar arrogante, o dinheiro ganho às custas do sofrimento alheio. Isso é ser médico. Eu teria vergonha de seguir essa profissão, em uma realidade como essa.
Médicos de verdade, médicos que podem ter orgulho de ser chamados assim, são aqueles que realmente se preocupam com seus pacientes, sem se importar se eles têm ou não condições de pagar. São aqueles que vão lá para a Amazônia, no meio da floresta, usar o conhecimento que têm para ajudar o maior número de pessoas que puderem - e dane-se as más condições de trabalho. São aqueles que trabalham no SUS, mas fazem tudo o que podem para realmente atender e tratar os pacientes. São aqueles que dão a vida para salvar a vida dos outros, porque esse é dom que eles têm. Um médico de verdade é aquele que é capaz de qualquer coisa para salvar uma vida, sem esperar nada em troca.
Existem pouquíssimos médicos de verdade.
Esses outros, esses médicos que infestam as clínicas particulares e os postos de saúde, esses que deixam pessoas morrerem na frente deles e não fazem nada, esses que olham para você e vêem seu dinheiro, esses que se tornaram médicos pelo dinheiro e pelo status - esses, eu não respeito.

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Desnecessário dizer, eu tive péssimas experiências com médicos, que incluem desde mal atendimento a erros médicos fatais; mas não falarei de nada disso, pelo menos não agora.

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A quem possa dizer "Você quer que médico trabalhe de graça? Médico tem que sobreviver também", minha resposta é: problema seu. Se vai viver disso, então não seja hipócrita. Assuma que não dá a mínima para a vida dos seus pacientes, e que deixaria eles morrerem se não fosse pago. É bom deixar as coisas claras quando estamos falando de salvar a vida de alguém.

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Aos poucos médicos realmente bons que existem: eu admiro muito vocês. Se eu gostasse um pouquinho mais de biologia e química, certamente teria escolhido essa carreira, e morreria de fome porque trabalharia de graça.

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Pensando nisso agora, minha profissão é completamente inútil para o mundo.

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