terça-feira, 23 de julho de 2013

Primeiras Aventuras no País do Álcool

Eu tinha treze anos, Luli tinha doze. Era uma festa do Dia do Trabalhador, e eu adorava essas festas: começavam de dia e iam até tarde - ou o que era tarde para mim naquela época - tinham muita comida, muita gente, muita bagunça e eram uma ótima oportunidade de fazer coisa errada.
Não me lembro há quanto tempo estávamos na festa, mas provavelmente havíamos chegado de tarde, e já era noite. Estávamos correndo atrás de algum menino (não me lembro qual, provavelmente mais de um) quando alguém (provavelmente eu) teve a brilhante, a genial ideia de fazer a coisa mais louca e proibida que conseguíamos imaginar: beber uma cerveja.
Nós nunca havíamos sido um exemplo de bom comportamento, mas éramos bastante inocentes. Hoje, a maioria das meninas de treze anos já tem um ou dois filhos, mas naquela época as coisas eram diferentes. Para mim, que nunca havia provado nada que tivesse álcool, aquela cerveja seria muito mais do que uma cerveja; seria um passo rumo a um mundo proibido, o mundo dos "mais velhos", o mundo da contestação e da rebeldia.
Decisão tomada e dinheiro arrumado (não tenho a menor ideia de onde o dinheiro veio), vinha agora o grande problema: como comprar a cerveja? Não só éramos menores de idade, como éramos muito menores de idade. Além do mais, meu pai era conhecido no bairro inteiro. E se o moço do bar se recusasse a vender para a gente? Se nos desse uma bronca? Se contasse para o meu pai? Eu já imaginava um "você não tem vergonha nessa cara menina?" vindo do cara que vendia a cerveja, e meu pai ou meus tios brotando do nada ali e me carregando para casa sob ameaças.
Ficamos paradas próximo ao vendedor de bebidas, tensas, falando "vai você! Não, você!" uma para a outra. Devemos ter ficado uns bons minutos ali, e tenho a impressão de que as pessoas ao redor estavam se divertindo assistindo àquelas duas crianças quase morrendo para comprar a primeira cerveja. Luli usou o argumento de que eu era mais velha, eu usei o argumento de que ela parecia mais velha. Ficamos nesse empurra-empurra até que decidimos: "vamos juntas!". E fomos.
Chegamos no balcão, suando frio. O vendedor olhou para nós com um ar ameaçador. Nós tremíamos. Mostramos o dinheiro e dissemos juntas "Eu quero uma cerveja!". Eu estava tão nervosa que via a cena em câmera lenta. O vendedor disse, e suas palavras ecoaram em meus ouvidos:
"Skol ou Brahma?"
Nós duas tínhamos tanta certeza do esporro que viria, que ficamos sem ação. Demoramos um pouco para entender o que ele havia dito, até que uma de nós disse "Brahma", aleatoriamente. Ele entregou a cerveja, nós pagamos e saímos dali quase correndo.

* * * * *

Beber a cerveja foi outra novela. No primeiro gole, eu fiz tanto drama que parecia estar prestes a beber algo potencialmente explosivo. Acho que tinha medo de ficar instantaneamente bêbada. Peguei um canudinho (!), molhei na cerveja, coloquei uma gota no dedo e provei. Não achei ruim nem bom (como alguém poderia achar qualquer coisa provando uma gota?), então tomei um gole - de canudinho - e aí sim, achei horrível. Insisti em beber mais um pouco, mas quem bebeu a maior parte foi a Luli.
Detalhe: na volta para casa, meu pai foi me buscar de carro. E qual foi a primeira coisa que eu fiz quando entrei no carro? Foi contar sobre a cerveja, claro! Eu estava tão empolgada que nem me importei com a bronca, só queria que o mundo inteiro soubesse que eu era uma adolescente rebelde que bebia cerveja. Meu pai não me deu bronca (ele deve ter rido muito de mim), mas me deu aqueles conselhos básicos que ninguém segue, sobre não beber e etc.

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Se hoje eu visse alguém vendendo bebida para duas crianças tão novas, acho que eu daria uma surra no cara.

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Acho que eu empolgada por "ter bebido e não ser mais criança" era a imagem clássica da criança feliz.

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