quinta-feira, 13 de junho de 2013

Cachorros X Gatos

Em um dia qualquer, eu e várias pessoas estávamos conversando sobre nada, quando alguém disse que não gostava de gatos. Isso, na hora, me ofendeu um pouco: afinal, eu sou um gato, ou é assim que eu imagino meu daemon. Desde que comecei a pensar em que tipo de animal eu seria, eu sou um gato.
Quando eu era adolescente, eu tinha a adolescentesca mania de criar e-mails com nomes ridículos, e todos tinham "gatinha" ou "cat" (essa é a hora em que eu abaixo a cabeça e saio da sala, constrangida). E todo mundo achava, de forma totalmente compreensível, que eu estava fazendo algum tipo de alusão à minha beleza física (se bem que, no meu caso, seria uma referência muito irônica, eu não era uma adolescente muito bonita). Só que o motivo passava a quilômetros disso: o motivo de eu usar palavras similares a "gato" em e-mails ou coisas referentes a mim é que eu era, em personalidade, como um gato. Até miava de vez em quando.
Gatos são animais ariscos e eu sou bastante arisca, a não ser quando tenho interesses ocultos em permitir a aproximação de alguém. Gatos não gostam de ser tocados, e eu também não. Gatos conseguem passar despercebidos, e eu também. Gatos chamam a atenção quando querem, e eu também. Gatos são maliciosos e vingativos, e eu também. Gatos preferem ser solitários, e eu também. Gatos são independentes, e eu também. Gatos são interesseiros, e confesso que em certo aspecto, eu também.
Poderia fazer uma lista gigantesca de semelhanças entre minha personalidade e a dos gatos, mas acho que já deu pra entender.
Uma coisa que acho muito engraçada é que a maioria das pessoas que não gosta de gatos ama cachorros. Acho que isso diz muito sobre a personalidade da pessoa. Na mesma conversa, nós chegamos a algumas conclusões sobre a personalidade dos cachorros (aviso logo que eu também os adoro, já tive um cachorro e o amava muito): eles são, geralmente, burros. Só isso. São amigos, carinhosos e se ligam afetivamente aos donos; mas são burros. Gatos são interesseiros, e não mantém uma ligação afetiva muito profunda; mas são espertos e têm maldade. Cachorros são tão inocentes que se você começar a maltratar seu cachorro, ele vai continuar do seu lado, sofrendo. Agora, experimente dar um único pontapé em um gato: ele nunca mais vai aparecer na sua frente.
Eu sou uma pessoa que não tem muita paciência com seres frágeis e inocentes no geral. Falando por mim mesma, eu tenho uma aparência externa bastante frágil, mas se você me encurralar em um canto, sou capaz de te fazer em pedaços. Criaturas que dependem de outras para sobreviver, na minha visão egocêntrica, são um distúrbio da natureza. Eu não deixaria de ajudar um cachorro que está sofrendo nas mãos de um dono cruel, mas o tempo todo pensaria "seu burro, dá uma mordida na mão dele!".
Tem um filme, que nem vou procurar saber o nome porque todo mundo deve saber de qual se trata, no qual o dono de um cachorro morre e o cachorro passa o resto da vida esperando por ele na rua (esse filme é baseado em fatos reais). Eu simplesmente não consigo entender porquê todo mundo chora vendo esse filme. Em primeiro lugar, eu não choro vendo filmes, mas tudo bem, consigo entender quem chora vendo algo muito emocionante. Mas chorar porque o cachorro fica o resto da vida esperando o cara voltar? Meu único pensamento vendo esse filme era "cachorro burro! O cara não vai voltar, você não percebe? Se manda!". Eu não acho que falta de senso prático seja uma coisa emocionante. Não deixaria o cachorro morrer de fome, mas não derramaria lágrimas por ele.
Tente fazer isso com um gato. Tente deixa um gato sozinho por mais de uma semana (já vi isso acontecer mais de uma vez). Quando você voltar, não vai ter nem uma cartinha de despedida. Se você quiser o gato de volta, vai ter que colocar uma tigelinha de comida e torcer para ele por acaso estar passando por ali e ver. E é capaz de ele voltar e nem lembrar quem é você.
Nós somos seres práticos, eu e os gatos. Estamos ao lado de alguém enquanto temos conforto, comida e carinho; mas não firmamos contrato algum de fidelidade. Nada nos impede de ir dormir no sofá do vizinho quando quisermos. E a hora que você deixar de nos alimentar, a gente some e nunca mais volta.

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