terça-feira, 26 de março de 2013

[Resenha #004] Eldest (Ciclo da Herança - Livro 2) - Christopher Paolini

Resenha publicada originalmente no Skoob. Você pode ler mais sobre o livro clicando aqui.

AVISO: possui alguns (pequenos) spoilers.

TRÊS DESTINOS E A HISTÓRIA DOS POVOS

Eldest é o segundo livro do Ciclo da Herança. A história começa imediatamente após o fim de Eragon, o que achei interessante (pela forma como o livro anterior acabou, imaginei que fosse haver uma pausa nos acontecimentos e uma passagem de tempo entre os dois livros). Logo nas primeiras páginas nos deparamos com elementos que estarão presentes durante todo o livro: surpresas, aventura, reviravoltas e muitas cenas de luta. Mas nem só de ação se faz o livro: também encontramos longos momentos de reflexão, acompanhamos o crescimento emocional e o amadurecimento dos personagens e nos deparamos com belas descrições de eventos e cenários.
Diferente do livro anterior, em que acompanhamos somente a história do jovem cavaleiro Eragon, em Eldest acompanhamos três histórias que acontecem em paralelo, e que acabarão por se encontrar no ápice do livro: a história do próprio Eragon, em sua ida para Ellesméra e seu treinamento para se tornar um cavaleiro de verdade; a história de Roran, que também passa a ser perseguido pelo império e sofre uma transformação impressionante, que o leva a fazer coisas incríveis para salvar a si mesmo e a todo o vilarejo de Carvahall; e a história de Nasuada, em sua luta para governar os Varden em Surda e prepara-los para enfrentar Galbatorix.
A história deste livro é fantástica, conseguindo ser, na minha opinião, ainda melhor do que Eragon. Por outro lado, ele apresenta alguns erros que são, na minha opinião, muito graves, e que prejudicam a leitura principalmente para leitores com um alto nível de exigência.
Primeiro, os pontos positivos: a história é muito bem amarrada, não encontrei nenhuma falha de lógica ou de continuidade, nem mesmo incoerências leves. Para quem gosta de ação e aventura, este é o livro. O fato de as histórias de Eragon e Roran serem contadas em paralelo ajuda ainda mais a manter o ritmo do livro, pois os capítulos sobre os momentos tranquilos de Eragon em Ellesméra são seguidos por capítulos que narram a aventuras de Roran, e nestas praticamente não há momento de pausa na ação. Além disso, somos apresentados à cultura dos diferentes povos da Alagesia de forma bem mais profunda do que no livro anterior, e é impossível não se sentir fascinado pelas complexas culturas e o intricado relacionamento entre eles.
Outro fator positivo é a construção dos personagens. É impressionante o quanto Eragon e Roran crescem e amadurecem durante o livro, e mais impressionante ainda observar o quanto a personalidade de um se torna diferente da personalidade do outro. Embora isso fosse levemente perceptível no primeiro livro, neste vemos as personalidades se afastando como linhas que seguem em direções diferentes (embora não opostas). Apesar de amadurecer, Eragon não é o tipo de pessoa que conseguiria sobreviver sozinho na situação em que se encontra. Ele cresce sim, mas com a incessante ajuda de todos ao seu redor, e durante todo o livro as dúvidas e as inseguranças o assombram; possui uma personalidade fraca sob certos aspectos, impulsiva e facilmente manipulável. Já Roran está sozinho o tempo todo em seu processo de crescimento: inesperadamente, torna-se um grande líder, um homem capaz de tomar decisões sem hesitar, capaz de convencer a todos de suas ideias usando somente suas palavras. Não é um homem que não teme a nada, mas o medo não o impede de fazer o que acha ser necessário - o que algumas vezes faz com que tome decisões imprudentes, colocando todos ao seu redor em considerável risco.
Agora, vamos aos problemas. Embora a história seja muito bem contada, em muitos momentos a escrita deixa a desejar. Há problemas graves de revisão: frases mal estruturadas, parágrafos com formulação confusa, pontuação usada de forma inadequada, erros gramaticais que tornam difícil acompanhar o sentido da sentença. Os erros de concordância não são muitos, mas são absurdos. Chega-se ao ponto de termos palavras repetidas em algumas frases, enquanto em outras claramente uma palavra foi "comida".
É claro que erros de revisão, até certo nível, são aceitáveis; mas não quando se compromete o fluxo de leitura de parágrafos inteiros. Existem trechos do livro que fariam chorar o menos exigente professor de português. Até mesmo o corretor ortográfico do word consegue colocar as virgulas no lugar certo, o que me dá a impressão de que o texto simplesmente não passou por revisão.
Esse problema é ainda mais grave por se tratar de um livro que atrai principalmente o público juvenil. Em uma faixa etária que já tem problemas com a escrita, ler um livro recheado de absurdos gramaticais e de frases inacreditavelmente mal formuladas pode ser uma tragédia; afinal, sempre pressupomos que o que é escrito em um livro está correto em relação à norma culta da escrita.
Em suma, os únicos problemas que encontrei no livro foram esses, por isso é um livro que vale a pena ler. É o tipo de livro que, passados os primeiros capítulos, entra em um ritmo tão frenético que é quase impossível parar de ler (pessoas em época de prova, não comecem a ler ou terão problemas). E termina da mesma forma que o livro anterior: fazendo o leitor querer começar imediatamente a leitura do próximo.

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