sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Como escolher um candidato

Eu não sei se vocês sabem, mas temos eleição esse ano. Iremos eleger senadores, deputados, governadores e o presidente da República. Se você não sabe, fique sabendo agora.
Muita gente ainda não tem a menor idéia de em quem vai votar. Eu tenho algumas idéias, mas nada definido. Já sei em quem não vou votar, mas é só. Muita gente também não sabe como escolher um candidato. Eu sei. Me interesso por política desde antes de poder votar. Que eu me lembre, me interesso por política desde os meus sete ou oito anos, embora nessa época não tivesse a menor idéia do que realmente fosse política. Mas sempre soube que era algo importante, que nossas vidas eram dirigidas pelos políticos, e assim que aprendi a ser gente, comecei a estudar o assunto. Virem gente também, crianças.
Certa vez li a seguinte frase: "não há nada de errado com aqueles que não se interessam por política; eles apenas serão dominados pelos que se interessam". É verdade. Se você não gosta de política, se não sabe em quem votar, ok, mas então abaixe a cabeça e não reclame. Agora, se você se interessa por política, está preocupado com isso, mas ainda não sabe como selecionar os candidatos, eu tenho algumas dicas para você.
  • Esqueça os preconceitos: muita gente não vota em um determinado candidato por ele ser de uma religião diferente, de uma classe diferente, ou simplesmente por não gostar da cara dele. Eu mesma fiz isso durante muito tempo. Essa é a pior forma de escolher um candidato: baseando-se em compatibilidades pessoais. Quando olhamos para um político, em certo grau temos que esquecer a pessoa, e olhar apenas (ou principalmente) para a figura pública. Exemplos não faltam por aí. Eleger um homossexual não é garantia de que ele irá defender os homossexuais; se um candidato evangélico for eleito, nada garante que ele dará prioridade aos evangélicos ou obrigará o ensino de religião nas escolas. Um bom político jamais permite que opiniões pessoais interfiram em seu trabalho. O que deve ser analisado é o histórico do candidato, não sua vida particular.
  • Verifique o histórico político: esse talvez seja o passo mais importante. Se o candidato tem uma carreira política, pesquise sobre ele. Ele cumpriu as promessas que fez em campanha? Existem justificativas aceitáveis para o não cumprimento de alguma promessa? Existem processos ou acusações graves contra ele? Se existem mas ele ainda não foi condenado, faça uma avaliação pessoal e decida você mesmo se ele parece ser culpado ou não. Quem vota em um candidato com passado sujo está pedindo para ser enganado. Não se esqueça de que aquelas dezenas de impostos que nos custam uma fortuna vão parar nas mãos dos políticos que elegemos. Eu não pediria para um ladrão segurar a minha carteira nem por cinco minutos, muito menos por quatro anos.
  • Verifique a veracidade das promessas atuais: todo candidato faz promessas e propostas. É esperado que ele cumpra essas promessas caso seja eleito. Uma forma de descobrir se o candidato pretende realmente fazer o que disse é perguntando como e com quais recursos ele pretende fazer. Por exemplo, digamos que um candidato tenha prometido construir determinada estrada. De onde virá o dinheiro para as obras? Quando ele pretende iniciar? Quando pretende concluir? Qual sua expectativa de qualidade para a obra? Caso não seja possível conseguir os recursos, quais as alternativas? Como serão contornados os possíveis impactos negativos que aquela obra terá? Se o candidato não conseguir responder com segurança e de forma satisfatória a essas perguntas, existe uma grande chance de que ele não tenha condições de cumprir a promessa, ou até mesmo que não esteja sendo sincero ao fazê-la.
  • Propostas para os problemas atuais: por melhor que tenha sido uma administração, sempre restam problemas a serem resolvidos. Verifique se o candidato tem consciência desses problemas e propostas para resolvê-los. Não adianta criar benefícios sem resolver os problemas. Para essas propostas, também é preciso verificar sua veracidade e a condição que o candidato terá de cumprí-las. E atenção: verifique se o problema que o candidato se propõe a resolver é da alçada do cargo que ele está disputando. Em um exemplo simples, um governador não pode prometer mudar uma lei federal, porque não tem poder para isso.
  • Desconfie do excesso de críticas à atual administração: como eu disse anteriormente, toda administração, por melhor que tenha sido, deixa problemas e comete erros. Mas em geral, também existem alguns acertos. Se o candidato ignora ou irreleva benefícios deixados pela administração anterior, ele pode "andar para trás" quando assumir o cargo. Por exemplo, se o governo atual criou algum benefício para determinada classe social e durante a campanha o cadidato age como se tais benefícios não existissem ou fossem insignificantes, isso mostra uma forte tendência a que ele acabe com esse benefício caso eleito. Também pode indicar insegurança política e falta de um plano de governo: um candidato com objetivos bem estabelecidos e segurança em suas propostas não precisa passar a campanha inteira atacando o governo atual nem os outros candidatos. Não esqueça que o que importa em um candidato são as propostas e suas condições de cumprí-las, e não o quanto ele acha que a administração atual errou.
  • Confie nas indicações e nas alianças: embora muitas vezes algumas alianças e indicações feitas por políticos pareçam estranhas, existe uma boa razão para que elas sejam feitas. Se você está satisfeito com o atual governante, considere com especial atenção a possibilidade de votar no candidato que ele está indicando. O mesmo vale para o caso em que o candidato apóia a atual administração. Nesses casos, existe uma boa chance de que todos os benefícios alcançados sejam mantidos e a administração continue na mesma linha de evolução. Por outro lado, se você não gosta do atual governo, não descarte imediatamente o candidato indicado por ele. Siga os outros passos e pense friamente se ele pode ou não ser um bom governante.
  • Assista aos debates, comícios e propagandas políticas: eu sei que é chato. Sei que o excesso de propaganda política as vezes é um pouco insuportável. Por outro lado, propagandas, comícios e debates são a melhor forma de você conhecer bem os candidatos e analisar cuidadosamente suas propostas. Assista pelo menos a alguns, e não vá pela maioria. Nem sempre a maioria sabe o que está fazendo.
  • Não confie plenamente nos meios de comunicação: outra boa forma de conhecer os candidatos são as entrevistas e matérias jornalísticas, mas cuidado com o jornalismo tendencioso. Muitas vezes ele é feito de forma quase imperceptível. Desconfie quando um meio de comunicação elogia ou critíca demais um candidato, e parece ignorar os erros/acertos dos outros. Desconfie também de debates para o quais apenas os "principais" candidatos são convidados. Não existem "principais" candidatos. Mesmo um candidato com pouquíssimas chances pode ter um aumento considerável de popularidade após aparecer mais na mídia e participar de debates.
  • Não se baseie em favores ou benefícios pessoais: esse talvez seja o melhor de todos os conselhos que tenho a dar. Quanto mais um candidato beneficia alguém em particular para que a pessoa vote nele, maiores as chances de que ele seja um péssimo governante. Lembre-se que na política, o que vale é o coletivo, e não o individual. Se um candidato precisa oferecer favores para que eleitores votem nele, é porque suas propostas são inconsistentes e ele não tem comprometimento político. Todos sabem (ou deveriam saber) o quanto a ética é fundamental para uma boa administração.
  • Dê uma chance aos novatos: só porque um candidato não tem passado político, não significa que ele não tem competência para administrar. Verifique seu passado público e seu histórico familiar. Se ele gerencia uma empresa de sucesso e é bem visto pelos funcionários, existem boas chances de que também será um bom administrador público. Se, por outro lado, a empresa não anda bem ou seus funcionários estão insatisfeitos, provavelmente essas características vão ser refletidas para o cargo público que ele assumir. Caso ele nunca tenha sido um dirigente, procure conhecer sua história: se conseguiu seus bens de forma justa, se lutou por onta própria ou precisou de indicações. Pessoalmente, não confio em candidatos que seguem a tradição familiar. Por exemplo: se um candidato é médico e toda a sua família é de médicos, pode ser que ele tenha conseguido seu diploma e seu cargo atual apenas por influência da família; consequentemente, é uma pessoa que não está acostumada a lutar por seus objetivos e não terá força política. Mas isso é uma opinião pessoal e posso estar enganada.
  • Não escute seus pais: nem seus avós, tios, irmãos, marido, esposa, amigos, etc. Não se deixe influenciar pelas opiniões alheias, embora também não deva ignorá-las. Escute opiniões, analise-as, veja se elas se enquadram à sua realidade e se fazem sentido para você. Não vá pela maioria, nem vote em alguém apenas porque um familiar indicou. Lembre-se que vocês podem ser da mesma família e terem visões e opiniões diferentes sobre os mais diversos assuntos. Um exemplo pessoal, mas genérico: eu sou a favor do aborto, meus pais não. Logo, eles jamais votariam em um candidato que fosse a favor do aborto, enquanto para mim seria um ponto positivo.
Eu não digo que os conselho acima estejam todos indiscutívelmente corretos, mas na minha visão são uma boa forma de avaliar de forma relativamente fria um candidato. Seja sempre o mais frio que puder, e não se agarre cegamente a nenhuma opinião nem a nenhum lado político. Pense bem, pense muito, antes de votar. E se não consegue escolher um candidato, se não conhece os candidatos ou não está satisfeito com nenhum deles, vote em branco. Dessa forma, você evita eleger acidentalmente um mau político.

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Eu não tenho posição política, nem defendo nenhuma ideologia ou candidato. Como disse anteriormente, não escolhi meus candidatos ainda. Estou pensando.

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