segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Coleções

Acho que todo mundo, em algum momento da vida, colecionou alguma coisa.
Quando eu era pequena, de vez em sempre fazia alguma coleção de figurinhas. Comprava o álbum, um monte de figurinhas, colava as que não tinha e tentava trocar as repetidas. Me lembro de um álbum do Garfield que era fantástico. Tive também das Chiquititas, da Sandy e do junior quando ainda eram crianças, do Pokémon, e devo ter tido outros que já não me lembro. Isso foi quando eu era muito pequena.
Uma coleção que semprei quis ter mas nunca consegui era a de bolinhas de gude. Eu até tive uma quantidade razoável, durante um curto tempo, mas algumas perdi jogando, outras perdi em algum buraco negro dentro de casa. Eu tinha muitas daquelas verdes, comuns, mas tinha duas azuis, muito diferentes de qualquer outra que já tivesse visto, que muito me orgulhavam. Não sei aonde elas foram parar.
Mas algumas pessoas colecionam coisas estranhas, coisas que ninguém mais coleciona. Eu sou uma dessas pessoas. Depois que deixei de ser criança (ia escrever "virei adolescente", mas lembrei que nunca fui adolescente), eu passei a colecionar letras de música. Meu pai tinha uma banca de revistas, então eu pegava as revistinhas de música e copiava as letras em um caderninho. Não precisava ser nenhuma música específica, de nenhum gênero, eu não precisava nem mesmo gostar da música. O que importava era que eu tivesse a letra.
Eu nunca pude aprender a tocar nenhum instrumento. Aliás, para não dizer "nenhum", eu sabia tocar flauta. Não aquelas profissionais, porque custam dinheiro e dinheiro é algo que nunca tive. Falo daquelas flautinhas que são vendidas em lojas de um e noventa e nove. Mas não podia tocar nenhum instrumento "legal". Também nunca aprendi a cantar, embora isso na prática nunca tenha me impedido de cantar a qualquer dia, qualquer hora, em qualquer lugar. Mas eu pegava essas revistinhas de música e passava horas lendo as letras e vendo os acordes, tentando entender o que significavam. Descobri coisas legais, como, por exemplo, que cada nota é representada por uma letra. Nunca pude fazer nada com esse conhecimento, mas gostava de saber e dizer essas coisas para os meus amiguinhos.
Mas voltando ao assunto (antes que eu comece a divagar sobre meus sonhos frustrados de aprender a tocar qualquer coisa, e sobre como meus pais nunca deram importância a me proporcionar uma formação musical porque "música não dá dinheiro"), eu colecionava letras de música. Essa foi a única coleção em que me especializei, e hoje me considero uma "colecionadora profissional", seja isso o que for. Com o tempo, minha coleção começou a ficar mais "refinada": ao invés de caderninhos (eu já tinha uns cinco), passei a escrever as letras no computador. Depois, passei a selecionar quais músicas queria na coleção, deixando só as que eu gostava. Mais tarde, passei a incluir músicas estrangeiras, pois antes só copiava as em português. Bem depois, quando já tinha dezoito anos, passei a traduzir as músicas em inglês (normalmente confio mais nas minhas traduções do que nas traduções "oficiais"). Aos dezenove anos, tinha uma coleção de quase duzentas letras de música.
Eu disse tinha. Tinha, porque a perdi. Meu computador morreu, eu não fazia backup nessa época, e só consegui salvar algumas coisas. As letras de música não foram uma delas. Tive que reiniciar minha coleção, do zero. Hoje, ela está crescendo novamente. Um dia serei a maior colecionadora de letras de música do mundo.
Minha irmã coleciona recortes de revistas e de jornais. Pode ser figuras de homens bonitos, de artistas, de paisagens, de crianças. Ela também coleciona desenhos feitos por ela mesma. Por um tempo, comecei a colecionar artigos de revistas, geralmente revistas científicas, mas papéis juntam poeira, e eu e a poeira nunca nos demos muito bem. Deixo as coleções de papéis por conta da minha irmã.
Lembro que praticamente todas as meninas da minha idade colecionavam papéis de carta. Isso era um tipo de coleção que eu não conseguia entender. Não via graça nenhuma em juntar papéis de carta. Por exemplo, eu brincava com minhas bolinhas de gude, com minhas figurinhas, cantava lendo minhas letras de músicas. Mas as meninas não escreviam nos papéis de carta. Para que serviam, então?
Sempre quis ter uma coleção de livros. Até tenho uma coleção razoável, uns vinte livros, talvez um pouco mais. Mas coleção de verdade, nunca tive. Primeiro, porque livro é caro. Segundo, porque minha casa é tão pequenininha, mas tão pequenininha, que mal cabe a gente aqui dentro, quanto mais uma estante cheia de livros. Tentei começar uma coleção de cd's, mas os cd's bons são caros também. A única coleção que deu certo na minha vida foi a de letras de músicas, porque não custa dinheiro.
Ah, eu tenho uma coleção de fotos do U2 no computador. Mas isso não pode ser considerado uma "coleção". Mesmo que sejam mais de duas mil fotos.
Uma vez li uma reportagem sobre um cara que colecionava carros de verdade. Tinha modelos desde o início do século até modelos novos. De todos os tipos, todas as cores e formatos. Ele guardava a coleção dele em uma mansão enorme, com uma garagem maior ainda. Eu tinha amiguinhos que colecionavam carros também, mas os deles não eram de verdade.
Quando minha coleção de letras de músicas cresceu, eu comecei a escrever minhas próprias letras. Eu não sei compor, mas escrevo letras e invento uma melodia. Inventei um número razoável de músicas, e as vezes fico cantarolando elas por aí.
Mas isso é assunto para outro texto.

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Esse foi o texto mais "de improviso" que já escrevi em toda a minha vida, eu acho. Estou testando minha capacidade de escrever sobre pressão.

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