quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Dor

A dor é uma coisa muito séria. Acabei de descobrir. E talvez Renato estivesse certo: nos tornamos livres quando passamos a pensar por nós mesmos. Tanto a dor quanto a liberdade são coisas muito sérias.
A dor não tem que ter motivo. Ela surge de repente, rasga, dilacera, destrói. Brota do fundo da alma e vai crescendo como um rio. Corre, lenta ou rapidamente, e não pára nunca.
Quanto mais tentamos conter a dor, mais forte ela chegará. E não tente encontrar um motivo para a dor: a dor é o motivo. Podemos represá-la e tentar esquecê-la; mas basta uma decepção, um descontentamento, ou simplesmente uma casa vazia, para que a parede se rompa e a dor nos inunde novamente.
A dor do corpo é a mesma dor da alma. Uma decepção causa dor tão física quanto um ferimento. A dor é uma só, é sempre a mesma água. O que mudam são os motivos que rompem a represa.
Nós buscamos a dor como quem busca o paraíso. O homem não quer felicidade, ele quer a dor. A dor é uma espécie de redenção. E eu também sou assim. Sei que a solidão me faz mal, mas vivo sozinha. Escrevo porque cada letra é um sofrimento, cada palavra é uma gota de sangue. Escrevo como se minha vida dependesse disso.
Descobri que nem todos os anjos têm asas, que nem todas as santas são virgens. Eu ainda esperava que o mundo fosse cor de rosa e que existisse um principe encantado. Mas o mundo é azul, e os principes têm raiva, choram e traem. Os principes falam palavrões, se drogam e dormem com qualquer piranha que aparece. Mas continuam sendo principes.
E isso dói. Dói muito descobrir que a pessoa que você via quase como um Deus é uma pessoa normal. Porque isso lembra que eu também sou normal, e ser normal tráz dor. Muita dor.
Meu sangue acabou, a dor é insuportável. Vou parar de escrever. Se eu não morrer, até breve. Senão, adeus.

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