domingo, 13 de janeiro de 2013

Uma Questão de Peso

Eu sempre fui magra. Mesmo quando era bebê, era um bebê magro - não magro demais, mas não era aquele bebê rechonchudinho, fofo, que parece uma bolinha. Cresci uma criança magra e continuei sendo magra quando entrei na adolescência. Mas foi por voltar dos treze ou catorze anos que a coisa atingiu proporções, digamos, preocupantes.
Aos doze anos, eu pesava cerca de quarenta e cinco quilos, e media um metro e cinquenta e três, o que é um peso ótimo. Aí um ano se passou, eu fiz treze anos, e ganhei apenas quatro quilos e cresci nada mais nada menos do que dezenove centímetros. Agora, eu tinha um metro e setenta e dois e pesava quarenta e nove quilos.
Para quem não entende muito sobre a relação entre peso e altura, só vou dizer que eu de repente me tornara não só magra: eu me tornara quase esquelética e simplesmente enorme. Era praticamente uma criança, eventualmente ainda brincava no parquinho perto de casa, e era dez centímetros maior do que minha mãe.
E magra, muito magra.
Ah Vitoria, mas adolescência é assim mesmo, todo mundo na adolescência fica com o corpo esquisito de alguma forma, depois passa. Beleza, é verdade, eu não tenho mais quarenta e nove quilos. Tenho cinquenta e três (pesei ontem). Uau, cinquenta e três! Isso é só oito quilos abaixo do meu peso ideal, e dois quilos abaixo do meu peso mínimo! Ah, Vitoria, o que que são dois quilinhos abaixo do peso? Acontece que o peso mínimo é o peso necessário para que a pessoa não seja considerada subnutrida ou anorexa. Ou seja, eu estou dois quilos mais perto da morte do que uma pessoa que tem um peso normal.
Estar abaixo do peso apresenta tantos riscos quanto estar obeso. Para se ter uma ideia, uma pessoa da minha altura que pesasse setenta e seis quilos estaria na mesma "faixa de problemas de peso" que eu. Se você tem sessenta e poucos quilos e se acha gorda, deve estar entendendo o que eu quero dizer.
Passar a vida toda sendo uma pessoa gordinha é ruim, eu sei. E passar a vida toda sendo uma pessoa muito magra, ainda mais quando se tem um porte físico que não combina com isso, é tão ruim quanto. Eu olhava as pessoas mais "fofinhas" com inveja. As meninas da minha idade que precisavam usar sutiã me impressionavam enormemente. E eu nunca entendi como alguém pode reclamar de ter "braço gordo" - ter um braço encorpadinho é infinitamente melhor do que ter um que parece um palito, comprido e fino demais.
No final da adolescência, as coisas pareciam que iam melhorar. Eu estava estudando longe de casa pela primeira vez na vida, e ter essa liberdade me permitia fazer extravagâncias alimentícias. Eu comia dois pacotes de biscoito Passatempo por dia, todos os dias. Comia três bombons Serenata por dia. Almoçava pães de queijo, salgadinhos e sanduíches. E comia todos os tipos de besteiras que alguém conseguir imaginar. Com isso, consegui subir para incríveis cinquenta e sete quilos, o que até hoje permanece um recorde. Pela primeira vez, eu me via com um corpo bonitinho - parecendo bastante com uma garota. Minha semelhança física com um barbante estava desaparecendo!
Mas a alegria não duraria muito. Essa minha dieta, que muitas vezes me deixava sem um almoço de verdade a semana inteira, destruiu de vez meu estômago, que nunca tinha sido realmente bom. No final do ano, alguns meses antes do vestibular, eu peguei uma infecção intestinal que me levou para o hospital e tomou proporções bizarras, além de ter durado um tempo impensável para um problema tão simples. Eu passei um mês doente. Um mês podendo tomar apenas coisas líquidas, e olhe lá.
No final de um mês, eu finalmente me curei, à base de antibióticos e outros remédios bem fortes. Sarei. E perdi oito quilos.
Eu tinha, de novo, quarenta e nove quilos.
Me lembro da cara das pessoas quando pisei de novo na sala de aula, depois de um mês de ausência. Eles fariam a mesma cara se fosse um morto-vivo que estivesse ali. Meus amigos falando "meu deus, o que aconteceu com você?", "o que você tinha?" e, principalmente, "você está MUITO MAGRA!".
Eu estava. De novo.
Isso foi há sete anos. Nunca mais recuperei o peso de antes. Engordei sim, mas o máximo a que já cheguei depois daquilo foi aos cinquenta e cinco - sempre fico entre cinquenta e dois e cinquenta e quatro. Nunca me conformei completamente com isso. Agora, mas uma vez, comecei uma "dieta de engorda", e meu objetivo é chegar aos cinquenta e sete novamente. Não desistirei.

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Apesar de querer chegar ao meu peso ideal, algumas coisas interessantes aconteceram depois que entrei na faculdade. Como aqui só tem adultos (pelo menos em idade), convivo com pessoas que têm não só problemas com o peso, mas problemas causados por isso e que só vão piorar com a idade - barriga demais, celulite, e sei lá mais o que. E ao perceber que eu não tenho nada disso, comecei a ter certo orgulho do meu corpinho, que apesar de abaixo do peso, não é esquelético - não tenho, por exemplo, aquelas pernas finas que algumas meninas têm, que as fazem parecer personagens do filme "A Noiva Cadáver". Eu realmente não tenho certos, digamos, atrativos que um pouquinho mais de gordura proporcionaria; mas também não tenho celulite. Sério. Nem barriga, nenhuma barriga. Minha barriga é reta de uma forma que noventa por cento das minhas amigas não conseguiria mesmo depois de meses de academia intensa.
Desculpem. Não me odeiem por isso.

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Tem um site muito lugal, que calcula o seu IMC e também o seu peso ideal. Clique aqui para acessar. É bom para evitar paranóias com o peso. Já vi muita gente que tem um peso ótimo achar que está gorda.

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Big girl, you are beautiful.

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