quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Príncipe Encantado


Um dia, eu saí atrasada de casa, e acabei pegando o ônibus em um horário em que nunca pego. Quando estava no terminal, na fila, eu vi a última coisa que esperava ver naquela hora e naquele lugar: vi o Homem Perfeito.
Há algum tempo eu vinha procurando o Homem Perfeito. Não sabia como ele seria (afinal, nunca o vira), mas sabia que o reconheceria quando ele aparecesse; e, de fato, o reconheci. Ele estava ali, na mesma fila que eu, umas três pessoas na minha frente. Era alto, mas não alto demais; branco, mas não branco demais; cabelos bem pretos, curtos, mas não curtos demais. Mas nenhuma descrição que eu fizer aqui vai ser o suficiente para dizer o nível da perfeição, o quanto ele era bonito. Eu bati os olhos nele e não consegui desviar. Praticamente me obriguei a parar de olhar fixamente para ele, antes que ele achasse (descobrisse) que eu era uma louca psicopata. Mas logo meus olhos me desobedeciam e voltavam a olhar para ele. Ele estava com uma garota, e a primeira coisa que pensei era que eram namorados; mas não eram. Eles conversavam alegramente, e ele sorria para ela, mas não se tocavam, mantinham aquela distância saudável que existe na Terra da Amizade. Fiquei muito feliz com isso.
Entramos no ônibus, a menina que estava com ele sentou em um banco no corredor e ele ficou em pé, ao lado dela. Me sentei em um banco mais para trás, e de onde eu estava podia vê-lo perfeitamente, podia praticamente assisti-lo. Meu Deus. Quanto mais eu olhava, mais queria olhar. Ele era simplesmente perfeito, não encontro outra palavra para descreve-lo. Os olhos, o olhar, a boca, todo o conjunto olhos-nariz-boca, o sorriso. Quando ele sorria, era quase como se saísse luz do rosto dele. Ele tinha uma voz suave, agradável, mas masculina. Reparei fortemente nisso porque a primeira coisa que pensei ao ver um cara tão bonito acompanhado de uma amiga era que ele só podia ser gay; mas eu reconheço um gay a quilômetros, e ele não era.
Comecei a procurar defeitos nele. Não era possível, pensei, que alguém fosse tão bonito, tão perfeito. Olhei atentamente para o rosto dele, procurando alguma marca, alguma espinha, qualquer coisa, mas não havia. Por outro lado, ele não tinha o rosto delicado a ponto de parecer afeminado. Pensei no nariz - mesmo os homens bonitos que eu conheço têm o nariz grande demais, ou pequeno demais, ou em um formato estranho. Mas o dele não: parecia que tinha sido cuidadosamente desenhado por alguém com boas noções de proporção e estética. A orelha! Conheço pouquíssimas pessoas, além de mim, que tem a orelha bonita (minha orelha é uma gracinha). Mas ele tinha, até a orelha dele era bonita! Percebi que estava parecendo mais louca do que já sou, analisando até a orelha dele, e comecei a rir interiormente. Provavelmente ele já tinha percebido que eu estava olhando, e eu sabia disso. Mas sinto muito, menino bonito, não tenho culpa se você é um homem e eu sou uma mulher que gosta de homens e você se encaixa na restrita categoria dos homens que eu considero "perfeitos". Categoria tão restrita que até então não contava com nenhum integrante.
Estava decidida a descobrir um pouco mais sobre ele. Queria ver em que lugar ele desceria, caso descesse antes de mim. Pouco depois de ter essa ideia, a pessoa que estava sentada ao lado da menina se levantou, e ele se sentou. Ótimo. Eu podia vigiar os dois sem medo de que percebessem. Fiquei quase o tempo todo olhando para eles, esperando a hora em que desceriam. Só que...
Só que eu sou ou muito burra, ou muito cega, ou sei lá que. Porque quando chegamos ao terminal de Carapina, e as duas pessoas que eu estava vigiando se levantaram, não eram mais eles. Eram um homem e uma mulher, mas totalmente diferentes dos dois: a mulher tinha mechas loiras no cabelo (a outra tinha o cabelo castanho) e o homem, além de usar uma camisa vermelha (o meu príncipe estava usando branco), era gordo! Fiquei completamente chocada. Não sei em que momento eles se levantaram, e não tenho a menor ideia de como eu não os vi descer do ônibus. Não havia tanta gente assim, era para eu ter visto. Parecia que eles tinham se teletransportado, ou se transformado naquelas duas outras pessoas.
Enfim. Desci do ônibus pouco depois, me sentindo como um colecionador que se viu diante do exemplar mais belo e raro do mundo, mas que foi incapaz de adquiri-lo.

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