domingo, 25 de abril de 2010

Escola

Entre indas e vindas, eu passei oito dos meus vinte e dois anos estudando na mesma escola. E eu amava aquela escola. Não pela qualidade de ensino ou por algum funcionário em particular, mas pelo prédio. Aquele lindo prédio de tijolinhos.
Lembro quando estudei lá no maternal e no prézinho (nem sei se são esses os nomes usados hoje). Tinha um bebedouro com um degrauzinho para a gente beber água. Tinha umas letras na parede que eu não sabia ler. Tinha um parquinho enorme (acabei de passar lá e já não é tão enorme assim). Eu amava a casinha de tijolinhos que tinha no parquinho, e adorava principalmente subir no telhado dela. Era uma casinha de verdade, em miniatura. Eu gostava de tentar beijar os meninos lá dentro. Tinha também um brinquedo que eu nunca soube o nome, mas eram três cilindros coloridos, dois embaixo e um em cima, e a gente passava por dentro. Eu adorava ficar passando dentro do cilindro de cima. Se alguém souber o nome disso, por favor me diga.
Depois estudei lá entre a sétima série e o segundo ano do ensino médio. Lembro do prédio em si, e na minha imaginação (sempre tive ótima imaginação) aquilo parecia um castelo. No pátio da cantina tinha uns mini-jardins com uns banquinhos, também de tijolinhos, que agora foram pintados de azul e estão horríveis. Tinha uma área enorme, era lindo. Ainda é. Aliás, estou escrevendo sobre isso porque acabei de passar lá em frente, e fiquei olhando pela cerca, lembrando.
Eu lembro de ficar fazendo planos sobre aquele prédio: eu iria crescer, ficar rica, e compraria a escola. Mas ao invés de usar aquilo como escola, o que era obviamente um desperdício, eu iria morar lá. Seria minha casa de praia aqui no Brasil (porque minha moradia fixa seria na Europa, claro). Mas claro que eu faria uma reforma. As salas de aulas seriam os quartos. Eu trocaria as portas, colocaria portas iguais às dos castelos, até o teto e cheias de desenhos. A secretaría seria transformada em uma sala de televisão. A biblioteca seria uma biblioteca mesmo, mas muito maior, com muito mais livros, e nada daqueles livros inúteis de química e biologia. Só teria livros de literatura, de todos os lugares do mundo, em todas as línguas.
Os pátios seriam grandes salões de festa. A quadra seria transformada em uma piscina. Teria grandes canteiros de flores, e eu é que cuidaria de tudo, cada flor e cada pedrinha. No estacionamento, eu criaria cavalos de raça, para poder cavalgar no meu jardim. A cantina seria a cozinha, e talvez eu tivesse que fazer algumas adaptações nas salas dos professores, para ter uma sala de jantar, uma sala de jogos, um escritório para mim trabalhar. Porque eu tinha um sonho muito louco. Eu sonhava que eu ia ser duas coisas ao mesmo tempo: escritora e cientista. Eu queria fazer Ciência da Computação na UFES, vê se pode. Coisa de gente maluca.

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Eu ainda não comprei o prédio. Ainda. Mas já estou fazendo Computação na UFES. E eu costumo conseguir tudo o que eu quero. Comprar a escola é só uma questão de tempo.

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