quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

O Quase Incêndio

Estava eu aqui no computador, selecionando filmes para assistir, quando comecei a sentir um cheiro que parecia pão queimado. A princípio ignorei, mas o cheiro foi aumentando e aumentando, e eu gritei para a minha mãe, dizendo que alguma coisa estava queimando. Eu sabia que não tinha nada no forno, mas o cheiro estava ficando muito forte. No nível preocupantemente forte.
Como esperado, mamãe gritou de volta dizendo que não tinha nada no forno. Ok, sem motivos para preocupação então. Voltei a procurar filmes para baixar (que eu provavelmente nunca assistiria), quando de repente percebi que o cheiro de queimado não só continuara, como chegara ao nível intolerável. Definitivamente, alguma coisa muito errada estava acontecendo.
Saí do quarto para investigar, e quando cheguei no corredor, ele estava cheio de fumaça (como ninguém mais tinha reparado nisso, eu não sei). Só que a fumaça não vinha da cozinha, e sim do banheiro. Corri para lá e vi que ela estava entrando pela janela.
A primeira coisa que pensei obviamente foi fogo. Eu moro no sétimo andar, e aprendi na escolinha que a fumaça sempre sobe, então em algum dos seis andares abaixo do meu devia haver um apartamento com um pequeno problema de incêndio envolvendo pães queimados. E pela quantidade de fumaça, eu já conseguia visualizar labaredas saindo pelas janelas.
Gritei para o pessoal aqui de casa que tinha um apartamento pegando fogo, e todo mundo correu para as janelas, procurando algum indício de fumaça. E mais uma vez, quem viu primeiro fui eu (eu sou demais): de alguma varanda abaixo do terceiro andar, saía uma quantidade significativa de fumaça. Não dava para ver exatamente de qual andar ela vinha, mas me parecia ser do primeiro, embora cada um aqui opinasse um andar diferente.
Mais uma vez, eu estava certa: a fumaça vinha do primeiro andar. Ótimo, pensei, algum vovô esqueceu a comida no forno e a essa hora deve estar desmaiado no sofá da sala, intoxicado - isso na melhor das hipóteses. Mas apesar de toda a fumaça, não havia nenhum indício de fogo, o que, eu imaginava, era um bom sinal.
Papai desceu correndo para o primeiro andar, para ver o que estava acontecendo. Genialmente, ele desceu pelo elevador. Se alguém aqui já teve algum treinamento contra incêndio (ou tem o mínimo de bom senso) sabe que em caso de incêndio nunca se deve usar os elevadores, mas ok. Ele desceu pelo elevador. Quando as portas se abriram no primeiro andar, ele se deparou com um corredor completamente tomado pela fumaça e um cheiro de queimado insuportável.
Pensem bem: eu moro no sétimo andar, e o corredor do meu apartamento estava cheio de fumaça. Não é difícil imaginar o estado em que ficou o primeiro andar, onde estava a origem do problema. Meu pai viu como estava a situação ali, e então desceu para o térreo (eu teria tentado arrombar a porta, mas felizmente ele não fez isso). Chegando do lado de fora do prédio, ele encontrou ninguém menos do que o dono do apartamento de onde vinha a fumaça. Se seguiu um diálogo mais ou menos assim:
Papai: Eu acho que está saindo fumaça da sua varanda.
Moço: Sim, mas já está tudo bem. Mais ou menos.
E então o homem contou o que acontecera.
Ele trabalha a noite. Pouco antes de sair para trabalhar, ele fez um sanduíche e colocou para esquentar no forno. E aí deu a hora de ele sair, e ele foi embora.
Horas depois, estava ele trabalhando, quando a iluminação despencou sobre ele: o sanduíche! Sai ele correndo do trabalho e percorre todos os quarenta minutos até a casa dele com o desespero de alguém que esqueceu um sanduíche no forno aceso. E quando ele chega em casa e abre a porta, encontra...
Fumaça. Não apenas a fumaça que tinha no nosso apartamento, não a fumaça que meu pai viu no corredor. Porque, quando a fumaça chegou ao nosso apartamento, ele já tinha apagado o fogão há pelo menos meia hora. A fumaça que ele encontrou dentro do apartamento já tinha praticamente vida própria. Era uma fumaça preta sinistra totalmente desproporcional ao tamanho do pão queimado que a causara. E ela tomara o apartamento todo, contaminara cada recanto com seu veneno tóxico.
Obviamente, a primeira coisa que o homem fez foi correr para o fogão e desligar o gás. Curiosamente, nada pegou fogo; a fumaça fora causada apenas pela comida queimada - o que foi uma sorte inacreditável e do tipo que só acontece uma vez na vida. Já vi fogões pegarem fogo por muito menos.
Mas o sanduíche não resistiu aos ferimentos e veio a falecer. Descanse em paz, sanduíche.
Depois daquilo, o homem simplesmente jogou o cadáver do sanduíche fora, abriu todas as janelas da casa, e foi embora. Já estava lá embaixo há quase uma hora quando meu pai o encontrou, e deve ter ficado muito mais tempo. Tudo o que eu sei é que continuou a visivelmente sair fumaça da varanda dele por mais umas duas horas. Se eu fosse ele, teria dormido na garagem e no dia seguinte lavado o apartamento inteiro com cloro. E olhe lá se seria o suficiente.

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