segunda-feira, 7 de junho de 2010

Subindo...

Para chegar na minha casa, o ônibus tem que subir um morro. Na verdade, ter ele não tem, porque minha casa fica muito depois do morro, mas por algum motivo ele pega o caminho mais longo e sobe (para depois descer). Só que chamar aquela subida de "ladeira" é um eufemismo; eu prefiro chamá-la de "parede". A impressão que dá, enquanto o ônibus sobe, é que estamos na vertical. Não sei se vocês já tiveram a sensação de que a qualquer momento o ônibus não vai aguentar subir, e vai acabar descendo de ré. Eu tenho essa sensação todo dia.
E outro dia foi um pouco mais do que uma sensação.
Claro que uma hora tinha que acontecer. Era só questão de tempo. Eu sei que aquilo que a gente mais tem medo que aconteça sempre acontece. A gente estava subindo, como sempre, e no meio do caminho o ônibus começou a ter visível dificuldade de continuar. O motorista insistiu, insistiu e insistiu, até que... O ônibus morreu. Tadinho. E tadinha de mim, porque ele começou a ir para trás e todo mundo lá dentro começou a gritar. Menos eu, que não consigo gritar quando estou sob tensão. Era um tal de "ai Jesus" e "ah meu deus" de todos os lados, dentro e fora do ônibus. Mas o desespero maior durou pouco, porque afinal o ônibus ainda tinha freio e o motorista sabiamente fez uso dele.
Ônibus parado e morto no meio da subida. E agora? Vamos tentar de novo. O motorista conseguiu ligar o ônibus, e após sentir certa segurança, voltou a tentar subir. Só tentar, porque o ônibus morreu de novo e de novo foi para trás, de novo Jesus e deus eram chamados de todos os lados, as pessoas devem achar que quanto mais alto elas gritarem maior a chance de eles ouvirem.
Enquanto todos estavam rezando ou rindo daquele jeito que as pessoas riem para não demonstrar que estão nervosas, eu comecei a analisar as possíveis consequências de uma perda total dos freios e nossa irreversível queda até o fim da ladeira e a outra rua, que era uma avenida. Na verdade, o máximo que podia acontecer era vir um carro pela lateral e bater na gente. O que não era tão terrível. A não ser, é claro, que o carro fosse um caminhão.
No exato momento em que pensei isso, um dos caras que estavam na minha frente falou para o outro:
-- Po, lembra daquela vez em que o ônibus desceu e foi parar lá do outro lado?
-- Claro, ele foi parar lá na praia.
E eu, idiota:
-- Sério!?
Os dois olharam para mim, rindo.
-- Sério. Ele caiu dentro d'água e foi nadando até a outra margem.
Mais ou menos entre ele falar isso e eu ter um ataque de riso, o motorista ligou o ônibus novamente. Dessa vez, ele conseguiu subir, entre engasgos e quase-mortes do ônibus. Pelo menos essa era a única subida no caminho.
Pelo menos isso teve um lado bom, apesar dos dias de vida que devo ter perdido: agora eu já tinha uma história emocionante para contar para os meus amiguinhos.

---------------------//-------------------------

Sei que não tem nada a ver com nada, mas estão construindo uma igreja do lado da minha casa. Se não me engano, é uma igreja Maranata. Pressinto que coisas emocionantes envolvendo discussões religiosas estão para acontecer.

Nenhum comentário: