segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

O Restaurante

Essa história, por mais absurda que pareça, aconteceu de verdade há algum tempo, com um conhecido meu.
A pessoa em questão vendia produtos de limpeza para restaurantes, lanchonetes, enfim, esses lugares que precisam estar muito limpos. E em mais um dia comum de trabalho, ele foi bater na porta de um bar-restaurante muito conhecido aqui na orla norte da Grande Vitoria, o qual não citarei o nome porque não quero ser processada.
Enfim. Ele foi atendido por um funcionário do restaurante, que o mandou entrar e esperar na cozinha.
A cozinha.
Vamos lembrar que não estamos falando de uma cozinha qualquer. Aquela era a cozinha de um grande restaurante na beira da praia, muitíssimo conhecido e que no verão recebe centenas de turistas, que ali comem felizes, contentes e confiantes. A cozinha de um lugar assim deve ser impecável, certo?
Certíssimo, mas havia uma grande distância entre o que ela devia ser e o que ela realmente era.
A cozinha era toda revestida por azulejos que um dia haviam sido brancos, mas que estavam pretos de sujeira. Havia crostas de gordura e sujeira pelas paredes. Restos de comida estragada em cima da mesa. O chão estava ainda mais imundo.
Nisso, veio a dona (ou gerente, não lembro) do restaurante conversar com meu amigo. Ele explicou que estava ali para vender produtos de limpeza, que trabalhava para uma firma grande, especializada nesse tipo de coisa e etc. Mas a mulher nem deixou ele terminar de falar.
— Nem adianta, aqui a gente não gasta dinheiro com essas coisas não.
O essas coisas se referia a produtos de limpeza adequados a cozinhas industriais.
— Então vocês usam produtos de limpeza comuns? - meu amigo não se surpreendeu, porque na orla do Espirito Santo, principalmente no norte, esse tipo de "descaso" é inacreditavelmente comum. Ele começou, então, a falar sobre como seria muito mais econômico e vantajoso usar os produtos que ele estava vendendo, além de atenderem às normas da fiscalização - coisa que os produtos comuns de supermercado não faziam.
— Nããããoooo. - a dona do restaurante explicou - A gente não compra nada desses produtos de limpeza, não. A gente não gasta dinheiro com essas besteiras. A gente pega essa gordura que sobra e faz sabão com ela. É isso que a gente usa no restaurante inteiro.
Agora, se você for uma pessoa com o mínimo senso de higiene, deve estar fazendo a mesma cara que meu amigo fez na hora, e que eu fiz quando ele me contou.
Vamos recapitular, porque talvez não tenha ficado muito claro: um dos restaurantes mais conhecidos da região possui uma cozinha imunda, e a própria dona ou gerente admitiu que não usa produtos de limpeza adequados "porque é besteira", e ainda usa "sabão caseiro" para lavar a louça, o chão, as mãos e sei lá mais o que.
Talvez você esteja se perguntando como é que a fiscalização não fecha esse lugar?
Meu amigo se fez essa pergunta também. E comentou com a dona:
— Mas vocês não se preocupam com a fiscalização? Se o fiscal da vigilância sanitária aparecer aqui...
A mulher riu. Não é figura de linguagem minha. A mulher literalmente riu.
— Fiscal? Isso não existe aqui não! Eu trabalho aqui a X anos (não lembro quantos anos ela falou) e NUNCA apareceu um fiscal aqui.
Eu não sei a que ponto ela estava exagerando, mas sei que existe uma grande chance de não haver exageros, por causa de outras situações parecidas que eu já presenciei por aqui, e que talvez conte em outra ocasião. Não há fiscalização na orla norte do Espirito Santo. Claro que se alguém perguntar na prefeitura, vão dizer que tem. Oficialmente tem. Mas na verdade não tem. Não mesmo.
Resumindo a história: meu amigo horrorizado (porque ele ia ali direto), eu horrorizada (porque eu ia ali direto), meus amigos horrorizados (porque eu contei para eles e eles iam ali direto), e agora vocês horrorizados porque talvez tenham ido ali e não sabem. Horrorizemo-nos juntos.

* * * * *

E agora você, amiguinho que mora ou vem passear no Espirito Santo, sabe que quando for em um restaurante da orla, existe uma boa chance de que a cozinha dele tenha crostas de gordura na parede e que seu prato seja lavado com banha de porco. Bom apetite.

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