sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
É Natal - Onde Nós Estamos?
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
Preconceito?
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Escrevendo...
Eu amo escrever. Amo mesmo. Amo tanto que passo mais da metade do meu dia escrevendo. Escrevo mesmo que saiba que, assim que terminar, vou rasgar o papel e jogar o texto no lixo. Escrevo contos, poemas, frases, crônicas. Escrevo por pura compulsão. Escrevo porque escrever é para mim o mesmo que se drogar é para alguns outros.
Nem tudo o que eu escrevo é bom. Na verdade, a maioria do que eu escrevo não é bom. Mas às vezes surgem pérolas. Às vezes eu escrevo aquele conto, ou aquela poesia, e depois de uns dias releio e penso "fui eu quem escreveu isso?". É engraçado. Às vezes é como se, enquanto eu escrevo, eu estivesse possuída. Como agora. E a cada vez é por um espírito diferente. Algumas vezes é um espírito bonzinho. Outras vezes é um espírito demoníaco. E às vezes é mais de um ao mesmo tempo.
Mas não é fácil escrever. Agora mesmo, estou escrevendo isso porque não tinha nada previamente pronto. Tenho dezenas de rascunhos que não sei para aonde irão, tenho alguns textos prontos que precisam ser melhorados, e tenho uns poucos realmente ruins, que só não joguei fora por pena. Escrever pode ser muito cansativo.
Já faz um tempo que estou tentando escrever um texto sobre uma teoria minha, envolvendo extraterrestres, para postar aqui. Mas simplesmente não consigo. A idéia está perfeita na minha cabeça, mas na hora de passar pro papel, o que sai não me agrada. E os contos, então? Meu Deus, os contos. Como é difícil escrever um maldito conto. Às vezes a inspiração bate e eu escrevo cinco páginas perfeitas de uma vez, mas na maioria das vezes são horas lutando contra a folha em branco. É uma tortura.
Lembrei, agora, de algo que aconteceu uma vez. Eu devia ter uns quatro anos. Alguém me perguntou o que eu queria ser quando crescesse, e eu disse "escritora". Se me perguntarem isso hoje, eu responderei a mesma coisa. Acho que isso pode ter um significado. Uma vez eu sonhei... Não, não vou dizer isso. Mas quem sabe um dia eu não seja uma escritora de verdade? Quem sabe um dia eu não aprenda a escrever direito, e algum louco se interesse?
Vamos ver.
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Prova do ENEM cancelada por fraude
Cerca de 4,1 milhões de candidatos realizariam o exame. A expectativa do MEC é realizar a próxima prova em 45 dias.
Fernando Haddad disse na manhã de hoje que será feita uma investigação para saber em que momento da impressão da prova aconteceu o vazamento. Segundo ele, há fortes indícios de que "houve a subtração de um exemplar" da prova. É a primeira vez que algo assim acontece em uma prova de ENEM. Segundo o ministro, outra prova será realizada assim que se concluir a impressão das novas questões.
fonte:
http://bit.ly/3GOVPl
http://bit.ly/SeEPC
Ótima notícia essa. Como se já não bastasse a tensão pelas mudanças no estilo da prova. Lembro de quando fiz o ENEM pela primeira vez, no segundo ano. Acertei sessenta questões, eu acho, e tirei setenta e cinco na redação. Mas fiz por pura brincadeira, nem sabia o que queria fazer de vestibular. Foi divertido. Foi mais divertido ainda ter tirado a maior nota da escola. Nunca mais consegui uma nota tão boa.
Quanto às pobres crianças que iriam fazer o ENEM nesse fim de semana e não vão mais... Não fiquem tão preocupados. Passar no vestibular não é tão importante assim. Eu achava que era, até entrar na universidade. Você, criança de dezesseis ou dezessete anos (ou até mais), que não aguenta mais estudar, que escuta os pais dizendo o dia inteiro na sua cabeça que se você não passar esse ano será uma vergonha para eles, que acha que vai ser um fracassado por não estar entre os quarenta melhores em uma prova... Esqueça isso. Não são os outros que vão ter que suportar pelo resto da vida as consequências de uma escolha feita sob pressão. Não ligue tanto para o que seus pais ou os outros dizem. Ele não sabem nada sobre a sua vida.
E você, mini-pessoa... Isso é para alguém especial... Se até o ano que vem você não tiver decidido o que fazer da vida, não precisa se preocupar. Você ainda tem muitos anos para decidir.
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
O Ataque do Bebê Faminto
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Uma Volta para Casa
É assim que começa essa crônica. Estou em um ônibus olhando para algum ponto distante, e de repente percebo que há um furo no tecido que cobre o cabo do meu guarda-chuva. E é um tecido tão bonito.
À minha frente, há uma garota e um homem mais velho. A garota carrega uma sacola com um grande "&" estampado. O homem usa um ridículo boné xadrez. Odeio bonés, odeia estampa xadrez. Podem ser pai e filha. Parecem-se um pouco.
Uma mulher segura no encosto do banco à minha frente. Não a olho, mas sei que é mulher só pela mão. As unhas têm restos de esmalte vermelho, o que dá um aspecto ruim, de alguém cansada de tudo. Olho disfarçadamente para ela: é uma garota, pode ser mais nova do que eu. Começo a construir na minha cabeça possíveis histórias para ela. Quando ela tinha oito anos, foi espancada pelo padastro e um juíz a mandou ir viver com os tios. Os tios a criaram mas nunca se importaram com ela. Tem um namorado que não ama e vai...
Na rua, passa uma mulher sozinha. Sozinha és, criança, sozinhos somos nós. Esse é um daqueles dias que começam mal e terminam pior.
Eu sempre pego esse ônibus e sempre passo por esse caminho, mas é a primeira vez que reparo naquela casa. Seria uma casa normal de dois andares, semi-terminada, se não fosse por um detalhe: há uma porta que se abre para o nada. Uma porta na parede do segundo andar, dando para a rua. Isso me faz lembrar certas construções na UFES. Aliás, aquela perto do CT-IX já foi transformada em uma saída de emergência ou algo parecido. Enfim. Fico tentando adivinhar para o que aquela porta foi projetada. Talvez para se livrar de visitas indesejadas. Claro que a hipótese mais provável é que vá ter uma varanda ou qualquer coisa parecida ali em cima, e eles ainda estão construindo. Mas o engraçado é que a porta é tão bonita. E dá para o nada. Absurdo.
O ônibus dá uma freada brusca e levo um susto. Perco completamente o raciocínio, o que acontece com uma facilidade maior do que eu gostaria. Suspiro, encosto a cabeça na janela. Penso nele. Ultimamente, a coisa que mais faço é pensar nele. Não que ele também pense em mim. Não que isso vá realmente fazer alguma diferença.
Esse é um daqueles dias que começam mal e terminam pior.
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
A Incrível Simpatia das Caixas de Supermercados
Será que elas ganham a mais por cada cliente que tratam mal? Ou será que acham que deviam ganhar mais para serem simpáticas? Antes eu achava que elas só eram assim aqui nesse mundo maravilhoso em que eu moro, mas descobri que na "cidade grande" também é assim. Será que são só nos supermercados do Espírito Santo, ou nos outros Estados também acontece a mesma coisa? Se todas as pessoas do Brasil fossem colocando uma pedra em uma pilha a cada vez que encontrasse uma caixa de supermercado simpática, será que essa pilha teria mais de, digamos, trinta centímetros de altura?
E aí está outro grande mistério: por que todos os atendentes de caixa de supermercado são mulheres?
Eu defendo uma super reforma nos supermercados. Tirem todas as mulheres e coloquem homens nos caixas. No geral, homens são mais simpáticos (há exceções). Eles têm mais bom humor e respondem quando você diz "oi". Na feira (onde também estive ainda há pouco) a pessoa que fica no caixa é um homem. Lindo, por sinal. E muito simpático, brinca com os clientes, diz um "bom dia" com sinceridade, e até os clientes antipáticos gostam dele. Porque, claro, também há os clientes antipáticos. Mas o bom atendente mantém um sorriso até nesses momentos.
Fugindo um pouco do tema "caixas de supermercado". Eu não consigo entender a antipatia. Claro, não é sempre que você está com o melhor dos humores. Mas uma coisa é você estar de mau-humor, outra é você parar alguém na rua pra perguntar as horas e a pessoa virar a cara e ir embora mesmo tendo te ouvido. Vai machucar tanto assim dizer as horas? Ou está achando que aquilo é uma tentativa de assalto? Não tem explicação.
Talvez isso só aconteça aqui no meu Estado. O Espírito Santo pode ser lindo, mas o povo daqui é difícil, pra usar um termo gentil. Já morei em Minas, e os mineiros são fantásticos. Mas os capixabas são terríveis. A grande maioria é grossa, ignorante, estúpida, antipática, fechada e parece estar sempre de mau-humor. Você nunca sabe quando um capixaba vai te responder com extrema grosseria, aparentemente sem motivo nenhum. Claro que há exceções, mas são poucas (felizmente, noventa por cento dos meus amigos capixabas se enquadram nas exceções), e quando o capixaba não é desse jeito, é porque tem genes de outros Estados misturados. Agora, se é capixaba de raiz, se nasceu aqui e se até o décimo antepassado era daqui, então não tem escapatória. Vai ser do pior tipo possível.
(Estou pressentindo críticas ferozes ao parágrafo acima)
Só um detalhe: eu sou capixaba. Mas com genes de todos os outros Estados. Minha mãe se criou em Minas e meu pai é carioca. Tenho muito pouco de capixaba. Mesmo assim, devido à convivência, tenho meus momentos de mau-humor, mas eles são raros. De grosseria, então, ainda mais com estranhos, acho que nunca tive. Antipatia, não que eu perceba e nunca reclamaram disso comigo. Sou até meio boba, vivo rindo. Mas eu sou uma exceção. Conheço outras exceções maravilhosas. Mas vamos voltar às caixas de supermercados.
Para finalizar, uma historinha:
CENA: eu, passando em um caixa. Uma mulher gorda e negra atendendo (nada contra os gordos, muito menos contra os negros). Valor da compra: cinco e setenta. Dinheiro no meu bolso: cinco e sessenta trocado, ou uma nota de cinquenta. O seguinte diálogo se segue:
EU: você não faz por cinco e sessenta? Porque eu tenho...
ATENDENTE (sem olhar para mim): não minha filha, é cinco e setenta.
EU (sem graça): tá. (pego a nota de cinquenta e dou para ela)
ATENDENTE: ô minha filha, você não tem trocado não?
EU (perdendo a paciência porque ela me chamou de "minha filha" duas vezes): tenho cinco e sessenta trocado, se você quiser...
ATENDENTE: olha, se eu deixar você ficar devendo dez centavos eu sei que você não vai voltar pra pagar, e eu vou ter que tirar do meu bolso.
EU (passando do ponto do tolerável): então pega essa nota de cinquenta e me dá logo a droga do troco.
ATENDENTE: espera um pouquinho que agora eu to sem troco. Maria! (gritando para a caixa do lado) Troca cinquenta pra mim?
MARIA: tenho não!
ATENDENTE: espera aí que eu vou chamar o Fábio. Fábio! Faaaaaaaaabio!
EU (olhando o relógio): olha, eu to com um pouquinho de pressa, se...
ATENDENTE: problema seu, minha filha, não posso fazer nada. Faaaabio!!!
EU (explodindo, pegando a nota de cinquenta de volta e jogando um e sessenta em cima do balcão): toma um e sessenta e cala a boca.
Pego minhas compras, vou saindo. Um homem se materializa ali e pergunta qual é o problema.
ATENDENTE: essa menina não quer pagar a...
EU (gritando): cala essa boca! Cala essa boca senão eu te meto a mão! (me virando para o homem) Essa criatura ridícula me tratou com grosseria, não tem troco pra uma nota de cinquenta, e quando eu ofereço dinheiro trocado ela não aceita porque falta dez centavos! Dez centavos! E ainda me chama de minha filha!
HOMEM: calma, vamos resolver isso. Ô Marinalva, pode deixar passar, por causa de dez centavos...
ATENDENTE: se você tá dizendo.
EU: ela devia me pedir desculpas por ter me tratado desse jeito! Aliás, ela devia ser demitida! Como um supermercado contrata alguém tão grossa e antipática e ignorante? Vocês não dão nenhum treinamento pros seus funcionários? Isso é um absurdo!
HOMEM: calma, não é tanto...
EU: ah, não é tanto? Não é tanto? Pois saiba meu pai é gerente do Procon de Aracruz e eu vou fazer uma reclamação formal contra vocês, e eu quero ver o que vai acontecer quando os fiscais que ele mandar pra cá virem o estado disso aqui!
HOMEM: calma, que é isso... Ela pede desculpas, nós vamos tomar providências, isso nunca mais vai acontecer. Aliás, como compensação pelo incômodo, você vai levar três vale-compras no valor de dez reais cada um.
EU (aceitando os vale-compras, claro): ok, mas é bom que dêem um jeito nisso, porque se na próxima vez que eu estiver aqui eu for mal atendida, essa história vai sair até na Tribuna.
Saio do supermercado, com vontade de bater em alguém, e feliz por ter ganho o vale compras.
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Ah, meu pai não é nem nunca foi nada em Procon de lugar nenhum.
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Eu, as Histórias, os Meninos, e os Meninos das Minhas Histórias
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Sonho...
sexta-feira, 19 de junho de 2009
Bicicleta
Na mesma hora fui tratar de “andar” com ela. Não tinha rodinhas, e meu pai foi me ensinar – ou tentar me ensinar, pelo menos. Disso eu lembro muito bem: ele me segurava, eu ia andando – olhando para baixo, para a roda, ao invés de olhar para aonde eu estava indo – e, assim que ele me soltava, eu caía no chão. Tinha certeza absoluta de que a qualquer momento ia quebrar o pescoço ou cair de cara na rua, com a bicicleta em cima de mim. Lembro que tinha muito medo – sempre tive medo quando meus pais estavam por perto. Provavelmente porque sabia que se chorasse eles íam me salvar, então tinha que chorar muito, e bem alto.
Pois bem. A primeira manhã de ensaios foi um fracasso. Depois meu pai foi trabalhar, e eu tive que deixar minha bicicleta paradinha na varanda. Tratava ela com muito carinho. Como se fosse meu bichinho de estimação. Embora fosse incapaz de andar nela e tivesse certeza de que ela desejava me matar.
À tarde, fui brincar na rua. Naquela época as crianças brincavam na rua. E estavam todos lá, meus amigos e inimigos, brincando juntos, como sempre. Como muitos eram bem mais velhos do que eu (inclusive meu primo lindo, que já era praticamente adulto, tinha nove anos) eles sabiam andar de bicicleta. Então, levei minha bicicletinha, só para mostrar. Ainda lembro de mamãe dizendo “pra que você vai levar isso se você não sabe andar?”. Mas eu levei mesmo assim.
Não tenho muita certeza do que aconteceu depois. Meu cerébro não é um gravador. Me lembro vagamente de uma discussão sobre bicicletas e de alguém zombar de mim por não saber andar. E ainda queriam usar minha bicicleta. Eu não deixei, é claro. Minha irmã ainda não era nascida e eu era egoísta ao extremo – não que hoje seja muito diferente, e não que me orgulhe disso. Sei que, no meio disso tudo, houve uma corrida de bicicletas. Tinha uma descida no fim da rua; os competidores deveriam ir até o final e subir de novo. Eu não sabia andar mas inventei de participar.
Disso eu me lembro. Alguém – provavelmente meu primo – se opôs à idéia de eu participar, porque era muito pequena e não sabia andar de bicicleta. Eu – teimosa – disse que ia participar e que sabia andar, sim. Então, pra provar, subi na bicicleta e saí andando. Simples assim.
Não me perguntem como fiz isso, eu não sei. Tenho a impressão de que recebi algumas instruções do pessoal na rua, e as primeiras pedaladas não devem ter sido muito firmes; mas o fato é que subi e saí andando, e em dois minutos parecia que tinha nascido andando de bicicleta (isso seria interessante). Depois houve algum lapso de tempo, porque minha próxima lembrança é de algumas horas pra frente, eu ainda andando de bicicleta, e meus pais aparecendo na rua prontos pra me chamar a atenção. Mas ao ver a filhinha querida deles andando de bicicleta, eles não tiveram coragem, é claro. Por isso que eu sou assim, hoje. Culpa deles.
Quando, séculos depois, minha irmã ganhou uma bicicleta (e aí eu já andava na bicicleta da minha mãe), as coisas demoraram mais. Culpa das malditas rodinhas, que nunca precisei usar mas que vieram de brinde na bicicleta dela. Acostumam a criança a andar com aquele troço, então ela pensa, "se a minha bicicleta tem isso é porque é perigoso andar sem", e nunca aprende a andar sem aquilo. Ela ficou muito tempo andando com rodinhas, e quando tentou tirar, demorou mais de uma semana pra conseguir andar direito.
Hoje, ela anda bem, é claro. Isso foi há muito tempo. Estou querendo ensinar meu sobrinho (não é sobrinho de verdade, mas é filho da minha amiga/irmã) a andar de bicicleta. O menino tem três anos, mas parece que tem seis. Ele tem potencial. Sei que vai se sair bem. E sem as rodinhas.
terça-feira, 16 de junho de 2009
Coisas que me Distraíam Quando Eu Era Pequena (ou Como as Crianças se Auto-Hipnotizam)
Quando eu tinha uns seis anos, peguei uma mania que durou por muito tempo: ficar rodando em volta da mesa da sala. Eu punha um disco pra tocar e, ao invés de dançar ou pular, ficava andando em volta da mesa, às vezes devagar, às vezes correndo. Enquanto fazia isso, eu ia para outro mundo. Pensava na escola, nos desenhos, nas historinhas que tinha ouvido. Ficava completamente fora da realidade. Às vezes os adultos passavam por mim, perguntavam o que eu estava fazendo, e eu não respondia. Nem percebia a presença deles. E mesmo se ouvisse, o que ia responder? Não era óbvio que eu estava dando voltas ao redor da mesa?
Um dia, coloquei uma música mais animada e fiquei correndo ao invés de andar. Estava frio e eu estava de meia. Como o chão estava liso, eu escorreguei e bati a cabeça na parede. Acho que foi depois daquilo que parei com essa mania.
Eu gostava muito de tomar banho de bacia. No início só eu, na minha bacia vermelha, depois com a companhia da minha irmã, na banheirinha dela. Certa vez moramos em uma casa que tinha um terraço, e quando fazia calor, nosso pai nos levava lá para cima, enchia as bacias de água, e a gente ficava lá horas e horas.
O que eu mais gostava nisso era brincar com a mangueira. Eu ficava balançando ela, e a água ficava fazendo desenhos bonitos, círculos e espirais e cobrinhas. Eu não entendia como acontecia aquilo, parecia mágica. Ficava horas e horas lá, hipnotizada, brincando com a mangueira. Lembro do meu pai dizendo "qualquer coisa me chamem, mas não me chamem por qualquer coisa". Eu morria de rir quando ele dizia isso. E ele podia sair de casa com minha mãe e ficar horas lá embaixo (tínhamos uma padaria que ficava embaixo da casa), e eu nem percebia que eles não estavam ali.
Quando eu já não cabia na bacia vermelha, ela virou uma bacia de lavar roupa. Um dia meu pai a usou para misturar cimento (!). Foi aposentada depois disso.
Aos seis anos, eu morava em uma casa que ficava no alto de um morro. Era um bairro nobre, não uma favela. A favela era ao lado. E eu ia muito a uma padaria que na época eu não sabia de quem era, mas depois descobri que era do meu tio. Ela ficava no final de uma descida enorme, e eu ia lá comprar chocolate em forma de moedas e bolinhas de futebol e guarda-chuvinhas, pirulito do zorro e um pirulito gigante colorido que eu nunca aguentava comer.
Eu descia aquele morro correndo. E era um morro bem grande (isso era em Minas). Às vezes ia pela calçada, às vezes ia pelo meio da rua. Não sei como nunca levei um tombo, mas se acontecesse seria catastrófico. E na volta eu também subia correndo, com uma velocidade impressionante. Hoje, não consigo correr daquele jeito nem em linha reta.
O mais legal era que, enquanto eu corria, não via nada na minha frente. Às vezes ficava descendo e subindo o morro, e nem via o que estava fazendo. Criava uma historinha dentro da minha cabeça e ficava desenvolvendo ela. Correr era uma forma de escapar da realidade. Dentro da minha cabeça, ninguém mandava em mim.
quinta-feira, 28 de maio de 2009
Cristo e a música dos Beatles
Na época, eu até gostava das musiquinhas. Eu tinha doze anos e gostava de qualquer coisa muito fácil. Tinha uma música que dizia que a paz que Cristo nos dá era melhor do que a música dos Beatles (!). Eu não conhecia as músicas dos Beatles. Também não conhecia a tal paz de Cristo. Muito menos Cristo. Mas se a professora falou, então devia ser verdade.
Tinha outra (ou era a mesma?) que dizia "não atirei o pau no gato mas atirei minha vida nas mãos do Senhor". Cara, que letra. Fantástico. As crianças devem ter tido uma epifania ouvindo isso. Eu lembro de, na primeira vez que ouvi, ter tido uma crise de riso.
Outra: uma tal "leão de Judá". Pus Judá em letra maiúscula porque imagino que seja um lugar, mas realmente não faço idéia, e naquela época fazia menos ainda. Só lembro que a música ficava repetindo "leão de Judá", "aleluia" e "oh glória em Deus". As crianças evangélicas da minha sala entravam em êxtase cantando isso, mas eu odiava. Quem era esse leão? Não gostava de leões. Não queria ficar cantando "aleluia" para um leão. E o que, afinal, queria dizer "aleluia"?
Acabei de me lembrar que, naquela música que fala dos Beatles, tinha uma parte (não sei se era o refrão) que dizia "Jesus Cristo apareceu e me iluminou, me deu vida". Mais uma coisa que eu não entendia. Como assim, "me deu vida"? A pessoa não estava viva antes? Eu pensava que, ou tinha algo a ver com ressuscitar os mortos, ou então Jesus era o médico que tinha feito o parto do indivíduo. Nunca entendia nada dessas músicas.
Mas era divertido. A gente perdia quinze minutos da aula (as aulas naquela época duravam cinquenta minutos) nessas cantorias. Eu adorava.
terça-feira, 26 de maio de 2009
Meu filho será rockeiro
Participo de uma comunidade no Orkut chamada “Meu Filho Será Rockeiro”. Uma brincadeira, claro. Primeiro porque não tenho nem pretendo ter filhos, e segundo porque, mesmo se cometesse essa loucura, nada me garante que ele vá ser parecido comigo ou com o que eu gostaria que ele fosse. Seria mais certo se a tal comunidade se chamasse “Gostaria que Meu Filho Fosse Rockeiro”, mas aí não teria graça.
É engraçado isso. Na maioria das vezes, os filhos gostam de coisas que não têm nada a ver com o gosto dos pais. Aliás, é muito maior a chance de que eles gostem do oposto do que os pais gostam. Meus pais gostam de música sertaneja e adorariam que eu e minha irmã gostassemos também. Por algum motivo oculto, nós duas gostamos de rock.
Claro, sempre tem alguma coisa dos pais em nós. Gosto de música clássica, como os meus. Gosto de matemática e de ler, como meu pai. Gosto de sair à noite e de dançar, como minha mãe – embora ela nunca saia nem dance. Minha irmã gosta de desenhar, igual ao meu pai – embora o faça muito melhor – e de deixar tudo arrumado, como minha mãe. Mas, nos gostos mais aparentes, somos drasticamente diferentes.
Por quê? Fico pensando nisso e não chego à nenhuma conclusão. Não é por revolta nem essas idiotices adolescentes, porque não sou adolescente e sempre me dei muito bem com meus pais. Não é por modinha nem influência de amigos, até porque meu gosto também é diferente do da maioria dos meus amigos. Pelo que, então? Tem que haver uma explicação lógica. Somos criados por aquelas pessoas, elas nos programaram desde que nascemos. Podiamos não ser uma cópia perfeita do que elas imaginaram para nós, mas deveriamos ser muito parecidos.
Talvez – estou tendo essa idéia agora então não sei se faz muito sentido – os pais na verdade querem que sejamos o oposto daquilo que dizem querer que a gente seja. Meu Deus, que coisa confusa. Mas faz sentido. Eles dizem “quero que meu filho seja igual a mim, que goste de música sertaneja como eu”, mas no fundo eles pensam “eu gosto de música sertaneja e aqui estou, espero que ele goste de rock e que chegue muito mais longe do que eu”. Pode ser.
Não. Não faz nenhum sentido.
Tive outra idéia. Estou cheia de idéias hoje. Os pais realmente querem que sejamos iguais a eles – é o motivo de termos filhos, queremos mini-clones nossos – e nos bombardeiam desde pequenos com os gostos deles. Crescemos ouvindo a música que eles gostam, comendo a comida preferida deles, vendo os filmes que eles adoram. Com o tempo, vamos enjoando disso, até o ponto em que tudo o que eles amam se torna insuportável para nós. E vamos procurar gostar de coisas que sejam o mais distante possível daquilo que eles gostam. Isso faz mais sentido.
Um exemplo prático. Meus pais gostam de música popular, música sertaneja e algumas românticas. Existem uma ou outra desses estilos que eu gosto, geralmente por me trazerem lembranças da infância. Mas eu gosto de rock. E, como é de conhecimento geral (se você não sabia, fique sabendo agora) eu amo U2. Amo é pouco. Eu sou louca pela banda U2. Se um dia tivesse filhos, eles iam crescer ouvindo U2.
Conheço uma menina (não tão menina) que também é louca por U2 e tem dois filhos, um de treze e outro de onze anos, se não me engano. Os filhos dela odeiam U2 e gostam de axé. Sem brincadeira. Eles não suportam U2. E não posso culpá-los. Nem poderia culpar meu filho se ele odiasse U2 (mas o mataria se gostasse de axé). A pobre criança cresceu ouvindo a mesma banda em quase todos os momentos da vida dela, vendo a mãe se descabelar por causa do Bono, sendo obrigada a ficar acordada até tarde pra ver um especial do U2 que ele não queria ver. É claro que vai se encher e não vai querer ver U2 nunca mais na sua frente.
Claro, às vezes os filhos são quase uma cópia dos pais. Mas geralmente são pessoas que, naquele assunto específico, não têm uma personalidade. É aquele tipo de pessoa que, se ler no jornal “Prefeito é Ladrão”, vai falar “é verdade!”, e se no dia seguinte estiver no mesmo jornal “Viva o Prefeito”, vai gritar “viva!”. São pessoas que absorvem opiniões alheias – às vezes sem perceber – e acreditam que aquelas são suas opiniões também. Vejo esse tipo de gente aos montes por aí.