quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Ignorância Sem Fim

Eu conheço uma variedade enorme de pessoas. Pessoas cultas e pessoas sem estudo. Pessoas inteligentes. Pessoas com gostos de todos os tipos. Pessoas de várias religiões e que torcem para diferentes times. Pessoas muito jovens e pessoas muito velhas.
Sou bastante flexível em relação a pessoas. Sei me adaptar de forma a seguir a linha de raciocínio e de comportamento de quem quer que seja. E mesmo assim, as vezes fico chocada com as atitudes que o ser humano é capaz de ter em determinadas situações.
De vez em quando, nas redes sociais, surgem boatos. Normal, fofocar é parte da essência do ser humano. Dar palpites no que não lhe diz respeito também. Eu achava que isso parava aí, mas não. Percebi que a arte de se ofender com o que não lhe foi dirigido e ofender aqueles a quem não têm direito também fazem parte disso que chamam de humanidade.
Primeiro, aconteceu comigo mesma, aqui nesse blog. Como todos sabem e como o título diz, eu sou atéia e este é um lugar onde tenho todo o direito de escrever sobre ateísmo como bem entender. Se eu quisesse realmente dizer o que penso sobre religião e religiosos, eu teria todo o direito. Só que eu não faço isso, porque seria muito agressivo. E mesmo assim, as pessoas não medem palavras para criticar aquilo que elas chamam de "desrespeito".
Houve uma vez que eu recebi quinze, nada menos do que QUINZE emails relativos a essa postagem, inclusive de pessoas que conheço pessoalmente; e suspeito que posso ainda receber mais. Pessoas já me fizeram ameaças de que eu iria sofrer eternamente no inferno se não acreditasse em deus. Já falaram inúmeras atrocidades tão inventivas que nem me lembro mais. Já disseram que o fato de eu ser atéia era "uma afronta intolerável a todos os cristãos, que seguem as leis de Nosso Senhor Jesus Cristo".
A maioria eu não respondi nem permiti que fosse publicado aqui.
Eu não tolero ignorantes.
Outro exemplo, esse muito recente, é relativo aquele boato imbecil duvidoso sobre o novo filme de Renato Aragão (informações aqui). As reações foram dignas dos famosos fanáticos do Oriente Médio, e não duvido nada de que, se não houve nenhum atentado contra o pobre homem, foi porque ele tem se cuidado muito bem. Vi pessoas normais e supostamente boas dizerem coisas como "com Cristo não se brinca, pois a vingança do Senhor será terrível", "tinham que prender alguém que sonha em fazer algo assim", e outras bobagens do gênero.
Renato Aragão respondeu.
Ele ainda consegue tolerar ignorantes.
Outra coisa absurda que presenciei recentemente: diversas brigas, via facebook, por causa do resultado de um jogo de futebol. Briga online por causa de futebol. Coisas do nível de "ofendeu o flamengo ofendeu minha família", "flamenguista bom é flamenguista morto", e por aí vai. Não eram apenas uma brincadeira entre amigos: testemunhei uma pessoa quase ir às lágrimas de ódio devido a um comentário sobre o time dela.
Eu não disse nada a respeito.
Eu não converso com ignorantes.
Há algum tempo, eu tentava muito conversar sobre religião com pessoas conhecidas. É algo que sempre gostei. Tentava explicar meu ponto de vista, e entender o do outro. Quando a pessoa começava a se alterar, mesmo sem eu ter dito nada que justificasse isso, eu ficava muito espantada.
Hoje não me espanto mais.
Eu não me espanto com nada que venha de uma pessoa ignorante.

* * * * *

Eu poderia continuar este post eternamente, mas acho que o recado já foi entendido. Se não foi, eu não me importo; não há argumentos contra o pensamento obstinado de uma pessoa ignorante.
Estou escrevendo isso porque vi diversas coisas recentemente que deixaram minha fé nas pessoas ainda mais abalada. E volto a repetir o que disse naquele polêmico post: se existir um deus e ele for como essas pessoas falam - vingativo, mesquinho, mau - eu não o quero. Mas eu não acredito nesse deus nem em deus algum.
Ameaças como "você vai para o inferno" não têm significado para mim, já que não acredito em céu e muito menos em inferno.
E perguntas como "você consegue ser feliz sem deus?" não fazem sentido seu imbecil querida pessoa. Você consegue ser feliz sem Buda? Sem Iemanjá? Sem o Mostro de Espaguete Voador? Então por que eu não conseguiria ser feliz sem o deus cristão? Pense.
Se bem que se quem estiver lendo isso for uma pessoa ignorante, a palavra "pensar" não vai fazer muito sentido.

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O melhor time do mundo é o Fluminense.

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A religião mais próxima da verdade que já vi é esta aqui.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Uma Questão de Tamanho

Eu sempre fui relativamente alta. Como conheço muitas meninas mais altas do que eu, hoje eu não tenho tanto a sensação de ter uma altura privilegiada; mas nem sempre foi assim.
Quando eu era bem pequena, por volta dos três anos, eu era a mais alta das meninas e talvez mais alta do que os meninos também. Tinha a altura de uma criança dois anos mais velha do que eu, o que é muita coisa. Naquela época isso era muito bom: eu podia bater nos meninos, podia humilhar os menores, e o único comentário sobre a minha altura que já tinha ouvido era "olha que menina alta". Mas os anos foram passando e meu tamanho foi aumentando, e os comentários passaram a ser bem diferentes.
Dos seis aos nove anos eu me mudei muito, então não consigo me lembrar exatamente dos meus amigos da época, e nem sei se havia algum comentário negativo sobre o fato de ser alta. Sei que continuava a ser a mais alta da turma. Inclusive, eu tinha várias amigas mais velhas, e eu também era mais alta do que elas. Mas a partir dos dez anos nós finalmente nos fixamos em um lugar (mais ou menos), e as coisas começaram a ficar claras para mim: eu era alta demais e isso não era necessariamente algo bom.
E não era bom mesmo. Para começar, eu sempre tinha sido violenta, e na pré-adolescência piorei. Minha altura me dava uma grande vantagem em relação às outras crianças. Pra completar, além de alta eu era muito inteligente (isso não é um auto-elogio, é uma constatação), e coloque altura + inteligência em uma criança com uma personalidade difícil e ela inevitavelmente se achará superior a todo o resto da humanidade.
Me lembro de que, quando eu tinha doze anos, a professora mediu todas as crianças na aula de educação física, e ia falando em voz alta as alturas conforme media. Foi mais ou menos assim:
-- Maria, um metro e trinta e cinco; Ana, um metro e quarenta; Gabriela, um metro e quarenta e dois. - e isso se seguiu, mantendo mais ou menos esse padrão de altura, até chegar a mim - Vitoria, um metro e cinquenta e três.
Isso eu tinha doze anos. Lembro dos "ooooo's" de espanto quando a professora revelou minha altura. Na turma inteira só havia uma pessoa - um menino - que também tinha essa altura, e ninguém era maior do que eu. Confesso que eu fiquei rindo bobamente por uma semana, de pura felicidade: eu sempre tinha desejado ser a pessoa mais alta do mundo, e meu sonho estava se realizando. Isso compensava até mesmo...
Até mesmo os comentários imbecis que eu era obrigada a ouvir desde os dez anos, de pessoas que achavam que eu era bem mais velha do que eu realmente era. Uma vez, aos dez ou onze anos, eu estava brincando em um parquinho quando uma mulher veio até mim e disse: "você não se acha grande demais pra brincar igual a uma criança? Vai ajudar sua mãe em casa!". Outra vez eu estava pulando e cantando com uma amiga minha pela rua, quando ouvi umas pessoas comentando "que ridículo, uma moça agindo igual a uma criança". Sem contar que eu só sabia andar correndo, e ria e falava muito alto (como uma criança mesmo, afinal eu ainda era criança), e as pessoas ficavam me olhando e murmurando coisas possivelmente negativas.
Tudo isso era muito irritante, mas eu continuava querendo ser alta. Um dia seria maior e mais forte do que todos os meninos do mundo e poderia bater em todos eles.
Aí um ano se passou, e eu mudei de escola. Eu tinha treze anos agora, e novamente nós fomos medidos durante a educação física. O procedimento se repetiu:
-- Joana, um metro e cinquenta; Paula, um metro e sessenta e dois. - dessa vez havia uma variação maior de alturas, mas se eu não me engano, a maior das meninas não tinha mais do que um metro e sessenta e cinco - Vitoria, um metro e setenta e três.
Minha reação foi gritar um "O que????", acompanhada em coro por metade dos alunos. Era impossível! Nenhum ser humano cresce vinte centímetros em menos de um ano! Mas eu tinha crescido. E por um lado fiquei muito feliz, mas por outro lado...
Por outro lado...
Por outro lado, eu já não queria tanto poder bater em todos os meninos. Na verdade, quando eu via um menino bonito e menor do que eu, me dava uma certa melancolia. De repente, eu me peguei murmurando para o nada coisas como "ok, já tá bom, não preciso crescer mais não". Mas já era tarde. Pouquíssimas amigas minhas chegaram perto de ficar tão altas quanto eu (fora a Luli, que já tem dois metros e as vezes acho que ainda está crescendo).
Para o meu consolo, eu parei de crescer nessa idade e hoje ainda tenho mais ou menos um metro e setenta e três (ou setenta e dois, depende da régua). E um fenômeno curioso ocorreu: na mesma época em que atingi minha altura máxima, as pessoas pararam de me achar mais velha e passaram a achar que eu tinha menos do que a minha idade. Isso porque eu cresci mas não criei corpo nenhum, então parecia uma criança comprida (ou um cabo de vassoura, se acharem a definição mais clara). Não melhorei muito nessa questão e acho que já perdi as esperanças de ter mais curvas do que uma régua.
Mas pelo menos eu não preciso de um banquinho pra alcançar a prateleira mais alta.

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Sim, eu faço bullying com os baixinhos até hoje.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Abre a Porta, Motorista!

Eu estava com minha família no ponto em frente ao shopping. Estávamos conversando sobre a vida, o universo e tudo o mais, quando meu pai reclamou que não vendiam algum tipo de comida no shopping (acho que era caldo de cana ou algo parecido). Eu argumentei:
-- Claro que não vão vender esse tipo de coisa aqui. O shopping é voltado para pessoas de uma classe mais alta, e mesmo que vendesse isso aqui, seria um preço bem maior do que o normal.
Mal eu terminara de falar isso, e um ônibus parou do nosso lado. Pessoas começaram a descer, e antes que todas saíssem, o motorista fechou a porta, bem na hora que uma mulher saía com uma criança. A porta bateu em cheio na criança, que começou a chorar loucamente. Todas as pessoas do ônibus começaram a gritar para que o motorista abrisse a porta, e ele, obediente, abriu. Abriu e fechou de novo assim que a mulher desceu, prendendo outra mulher que descia logo atrás. Os gritos recomeçaram, com redobrada força, e quando o motorista voltou a abrir a porta, uma mulher desceu gritando para quem quisesse ouvir: "abre a porta, seu filho da p..." e daí começou uma sequência de xingamentos que devem ter exigido uma imaginação fantástica, e que não reproduzirei aqui porque meu pai lê este blog. Além de xingar o motorista, ela xingou também as pessoas que olhavam a cena, xingou o mundo por existir, e concluiu com um "esse motorista tinha era que levar uma bala no meio da cara", seguido de mais uma série de palavrões. E seguiu para o shopping, sob os olhares disfarçados (ou nem tanto) de todas as pessoas na rua.
-- Realmente - disse meu pai - o shopping é frequentado por pessoas de uma classe mais elevada.
E eu não tive o que dizer.

* * * * *

Eu havia pegado um ônibus expresso, que não parava em nenhum ponto depois do aeroporto. O ônibus estava lotado, e havia um grupo de estudantes fazendo uma bagunça enorme. Todo mundo estava um pouco incomodado, mas uma mulher se exaltou e levantou do seu banco (que foi imediatamente tomado por outra pessoa), indo até o motorista. Seguiu-se um breve diálogo:
-- Motorista, esses estudantes estão me incomodando!
-- E o que a senhora quer que eu faça?
-- Eu não sei, chama a atenção deles!
-- Eles não vão me ouvir.
-- Se você não for fazer nada, então abre essa porta que eu quero descer!
-- Eu não posso abrir a porta, esse ônibus só para no terminal.
-- Não me interessa! Abre essa porta que eu quero descer! Para esse ônibus! Motorista, para esse ônibus!
E começou a fazer um escândalo tão grande que até os estudantes pararam para olhar. O motorista, depois de uns cinco minutos ouvindo os gritos histéricos da mulher, parou o ônibus. Mas não em um ponto de ônibus, e sim na esquina de uma rua escura onde havia vários travestis fazendo programa. A mulher olhou para o motorista, incrédula:
-- Eu não quero descer aqui, eu quero descer num ponto de ônibus!
-- Ou desce aqui, ou desce só no terminal.
Hesitante, a mulher saiu do ônibus, bem no meio de um grupo de travestis. Em volta, havia alguns homens muito suspeitos, que a olharam de forma ainda mais suspeita. Alguns passageiros riam da mulher, e um estudante colocou a cabeça para fora da janela, gritando:
-- Aê dona, tu não queria descer num ponto? Então, tu desceu! Desceu num ponto de prostituição!
Todos no ônibus começaram a rir. A mulher seguiu pela rua, assustada, e obviamente arrependida de ter descido. Alguns travestis mexiam com ela, e então o ônibus seguiu e eu não a vi mais. Não sei se conseguiu chegar viva em casa.

* * * * *

Novamente, eu havia pegado um ônibus expresso. E no meio do caminho, uma mulher se deu conta de que havia pegado o ônibus errado, e quis descer.
-- Eu não posso parar aqui. - disse o cobrador - Você vai até o terminal e lá pega outro ônibus.
Mas a mulher parecia não conseguir entender esse raciocínio, porque entrou em desespero total:
-- Mas motorista, eu tenho que descer aqui! Eu não posso ir pra Jacaraípe, é muito longe! Me deixa descer motorista! Por favor, me deixa descer!
E começou a chorar e espernear como uma criança de cinco anos. O motorista e o cobrador trocaram um olhar e, provavelmente com medo de que a mulher se matasse ali por causa dele e ele fosse demitido, o motorista disse:
-- Tá bom, tá bom, eu vou deixar você naquele ponto ali.
-- Mesmo? - a mulher ainda chorava - Obrigada motorista, você é muito bom, Deus te abençoe, muito obrigada...
O motorista parou o ônibus, e ela ficou repetindo agradecimentos enquanto descia, e continuou agradecendo até que o ônibus fosse embora e ela sumisse de vista.

* * * * *

Quando o ônibus parou no ponto antes do que eu iria descer, eu já me levantei, como sempre fazia. Assim que ele começou a andar novamente, eu dei sinal para descer. Outro rapaz também se levantou, e ficamos na beira da porta, esperando que o ônibus parasse. Mas o ônibus passou direto pelo ponto, e eu e o rapaz gritamos:
-- Ei motorista, eu dei sinal! Para aí, abre a porta!
O motorista parou, mas ao invés de abrir a porta, começou a discutir:
-- Po, vocês dão sinal em cima do ponto, como é que vocês querem que eu pare assim?
-- Mas eu dei sinal lá atrás! - eu disse, convencida de que aquele motorista bebera alguma coisa antes de entrar no ônibus - Você que não viu.
-- Deu nada!
-- Deu sim. - disse o rapaz que estava comigo - E abre logo essa porta!
Reclamando, o motorista abriu a porta. E o cobrador disse, enquanto a gente descia:
-- Pessoal nervosinho, credo.
Me deu vontade de voltar e dizer que a única pessoa que se alterara ali fora o motorista, que afinal era um idiota por não conseguir nem ver que alguém apertara a campainha do ônibus, e que se ele não parasse naquele ponto, ele só pararia muito mais para a frente e eu teria que andar quase trinta minutos para voltar. Mas não voltei, apenas segui para a aula, pensando naquilo.

* * * * *

O ônibus virou na rua que ia para o terminal de Carapina, como sempre, e imediatamente uma senhora bem velhinha se levantou, desesperada:
-- Ah, motorista, eu peguei o ônibus errado! Ah, meu Deus! Abre a porta, motorista, eu peguei o ônibus errado! Onde eu estou, que lugar é esse? Eu não conheço isso aqui, ah, meu Deus!
-- Calma, senhora. - disse o motorista - A senhora pode descer no terminal de Carapina e lá pegar o ônibus para o lugar certo.
-- Não, motorista, eu não conheço esse terminal, não conheço nada aqui, ah meu Deus, e agora? Estou perdida, e agora? Abre a porta, motorista!
-- Mas senhora - disse o cobrador - se você não conhece esse lugar, se descer agora vai se perder. Se a senhora for até o terminal de Carapina, é só a senhora falar com o fiscal para aonde você quer ir, e ele vai...
-- Não, não, eu não conheço esse lugar, abre a porta, abre a porta...
Nisso a mulher já estava na beira da porta, só faltava começar a bater nela com a bengalinha que usava. Os outros passageiros também tentavam convencer a mulher de que era mais seguro que ela fosse para o terminal, mas não adiantava. Então o motorista, sem ter outra opção, abriu a porta, e a mulher desceu.
-- Ah meu Deus... - ela dizia enquanto descia - Que lugar é esse, eu não conheço esse lugar, o que que eu faço agora...
E foi andando sem rumo, até entrar em uma rua mais para a frente e sumir de vista.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Sobre Alguns Trechos Estranhos do Gênesis

AVISO: este é um post que fala sobre religião, escrito por uma pessoa ateísta. Se você é religioso e prefere não ter contato com opiniões diferentes da sua, não leia. Não houve intenção de ofender nenhuma religião, crença ou pessoa. Se mesmo assim alguém ler e se ofender, sinto muito mas não é culpa minha e nem me importo, ok? =)

Obs: os trechos foram tirados de uma das bíblias católicas que eu possuo, e como existem dezenas de edições da bíblia, podem haver diferenças significativas na tradução.

Eu leio a Bíblia, por vontade própria, desde criança, e a entendo mais do que muitas pessoas religiosas (inclusive, conheço pessoas religiosas que nunca a leram). E em praticamente todos os livros existem passagens que são bastante estranhas, seja por serem engraçadas, absurdamente inverossímeis, ou simplesmente escritas de forma peculiar. Aqui estão cinco passagens do Gênesis que eu considero bem estranhas, e alguns comentários sobre elas, na ordem em que aparecem no livro. Avisando logo que eu tenho um senso de humor bem peculiar, logo coisas que para mim são curiosas ou engraçadas podem não o ser para muitas pessoas. Divirtam-se (ou não).

1 - A criação de Eva
Então o Senhor Deus mandou ao homem um profundo sono; e enquanto ele dormia, tomou-lhe uma costela e fechou com carne o seu lugar. E da costela que tinha tomado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher, e levou-a para junto do homem. “Eis agora aqui, disse o homem, o osso de meus ossos e a carne de minha carne; ela se chamará mulher, porque foi tomada do homem.” Por isso o homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne. O homem e a mulher estavam nus, e não se envergonhavam.
(Gênesis 2, 21-25)

Essa é uma das metáforas mais bonitas da bíblia, mas também é muito engraçada a forma como foi escrita. Primeiramente, a pergunta das perguntas: por que uma costela, meu Deus? Se o homem foi criado do barro, pra que pegar um pedaço do próprio homem para criar a mulher? Isso, na minha visão, é claramente uma forma de dizer que a mulher existe para completar o homem. Não tenho a menor ideia do porquê do autor ter achado a costela uma parte adequada para se criar uma mulher.
Outra parte que, pelo menos na tradução (não sei se o original é igual) ficou muito estranha: primeiro se diz que "... o Senhor Deus fez uma mulher...". Logo em seguida, o homem declara "... ela se chamará mulher, porque foi tomada do homem.". O que? Primeiramente, o texto já identifica o ser criado como "mulher" antes de Adão nomeá-lo, logo ele está dando um nome que já existia? Ou isso é apenas uma falha da tradução? Ou o autor não encontrou uma forma melhor de escrever esse trecho (pouco provável)? Seja como for, ficou bem estranho. Já a afirmação de Adão é uma das melhores que já li na bíblia: ela se chamará mulher, porque foi tomada do homem. Ahhhhhhh claro! Tudo faz sentido. Imagino Adão sentado no chão, olhando para aquele ser ligeiramente diferente dele próprio, e pensando "Que nome dou para isso? Deixa eu pensar, ela veio da minha costela... Eu sou um homem... Homem... Costela... Já sei! Mulher! Ela vai se chamar Mulher!". Cara, se mais alguém além de Adão conseguir associar as palavras costela e homem ao nome "mulher", está em um nível de evolução mental muito diferente do meu. E eu me lembro de pensar isso desde a primeira vez que li, lá pelos dez anos de idade.

2 - Deus se arrepende de ter criado o homem
O Senhor arrependeu-se de ter criado o homem na terra, e teve o coração ferido de íntima dor. E disse: “Exterminarei da superfície da terra o homem que criei, e com ele os animais, os répteis e as aves dos céus, porque eu me arrependo de os haver criado.”
(Gênesis 6, 6-7)

Essa parte deveria fazer qualquer cristão se envergonhar profundamente e desejar que o autor esteja neste momento ardendo no fundo do inferno. Cara, se Deus existe, de acordo com os cristãos e demais religiosos que acreditam em alguma coisa parecida (muçulmanos etc), ele é um ser supremo infinitamente superior a nós, algo de uma dimensão muito acima da nossa. "Arrependimento" não é algo que deve constar em seu vocabulário. Se acreditarmos que os fatos narrados nesse capítulo aconteceram, Deus pode ter tido muitas razões, compreensíveis ou não, para ter destruído a humanidade, mas arrependimento não foi uma delas, e dizer que ele teve o "coração ferido de íntima dor" é tocante, mas não acho que se aplique nem mesmo a um deus fraquinho tipo os da Grécia, quanto mais a um deus onipotente e tantos outros oni's quanto o dos cristãos.
Para completar, em um aparente acesso de raiva, Deus resolve destruir não só o homem, como todos os outros animais que criara. Ou seja, um faz e todos pagam. Esse é o tipo de coisa que faz os ateus e agnósticos perguntarem que tipo de Deus é esse, tão humano. Me parece que o autor apenas tentou encontrar uma causa sobrenatural para uma catástrofe que de fato ocorreu. Estranho é que esse trecho tenha sido aceito na versão final de uma bíblia que se propõe a mostrar um Deus perfeito.

3 - Noé faz uma oferenda a Deus
E Noé levantou um altar ao Senhor: tomou de todos os animais puros e de todas as aves puras, e ofereceu-os em holocausto ao Senhor sobre o altar. O Senhor respirou um agradável odor, e disse em seu coração: “Doravante, não mais amaldiçoarei a terra por causa do homem porque os pensamentos do seu coração são maus desde a sua juventude, e não ferirei mais todos os seres vivos, como o fiz. Enquanto durar a terra, não mais cessarão a sementeira e a colheita, o frio e o calor, o verão e o inverno, o dia e a noite.”
(Gênesis 8, 20-22)

Macabro. Noé faz um holocausta como oferenda para Deus, e Deus "respira um agradável odor" e fica tão feliz que jura nunca mais repetir uma punição como o dilúvio. É bizarra a forma como a satisfação de Deus diante do holocausto é descrita. Acho que essa é a primeira (mas de forma alguma a única) menção a um tipo de Deus sanguinário ao extremo e que aprecia sacrifícios. É graças a esse tipo de conceito de Deus, que permeia toda a Bíblia (em especial o Antigo Testamento), que o livro O Evangelho Segundo Jesus Cristo  foi escrito.

4 - A Torre de Babel é destruída
Depois disseram: “Vamos, façamos para nós uma cidade e uma torre cujo cimo atinja os céus. Tornemos assim célebre o nosso nome, para que não sejamos dispersos pela face de toda a terra.” Mas o senhor desceu para ver a cidade e a torre que construíram os filhos dos homens. “Eis que são um só povo, disse ele, e falam uma só língua: se começam assim, nada futuramente os impedirá de executarem todos os seus empreendimentos. Vamos: desçamos para lhes confundir a linguagem, de sorte que já não se compreendam um ao outro.” Foi dali que o Senhor os dispersou daquele lugar pela face de toda a terra, e cessaram a construção da cidade. Por isso deram-lhe o nome de Babel, porque ali o Senhor confundiu a linguagem de todos os habitantes da terra, e dali os dispersou sobre a face de toda a terra.
(Gênesis 11, 4-9)

Fantástico! Então os cristãos acreditam que a culpa de todo o desentendimento entre os homens é de Deus, certo? Deve ser, porque é isso o que diz a Bíblia. Deus viu que os homens estavam se organizando, teme que no futuro eles tenham planos que o desagradem e que ele não conseguirá impedir, e por isso faz com que eles falem línguas diferentes e os espalha. Bem estranho isso. Deus temendo os homens? Quer dizer que se os homens se unissem, conseguiriam fazer coisas que Deus não conseguiria impedir? Seria isso mais uma falha de raciocínio do autor? O curioso é que a explicação que sempre ouvi para isso, de que Deus teria punido os homens por eles terem tentado construir uma torre que chegue ao céu, não faz o menor sentido. Primeiro porque não é isso o que a Bíblia diz, segundo porque em nenhum outro momento Deus diz que era proibido tentar chegar ao céu.

5 - Sodoma e Gomorra

Mas, antes que se tivessem deitado, eis que os homens da cidade, os homens de Sodoma, se agruparam em torno da casa, desde os jovens até os velhos, toda a população. E chamaram Lot: “Onde estão, disseram-lhe, os homens que entraram esta noite em tua casa? Conduze-os a nós para que os conheçamos.” Saiu Lot a ter com eles no limiar da casa, fechou a porta atrás de si e disse-lhes: “Suplico-vos, meus irmãos, não cometais este crime. Ouvi: tenho duas filhas que são ainda virgens, eu vo-las trarei, e fazei delas o que quiserdes. Mas não façais nada a estes homens, porque se acolheram à sombra do meu teto.” Eles responderam: “Retira-te daí! – e acrescentaram: Eis um indivíduo que não passa de um estrangeiro no meio de nós e se arvora em juiz! Pois bem, verás como te havemos de tratar pior do que a eles.” E, empurrando Lot com violência, avançaram para quebrar a porta.
(Gênesis 19, 4-9)

Eu sempre achei esse texto de um humor negro incrível. Primeiramente, pelo exagero: todos os homens da cidade, dos mais novos até os mais velhos, cercam a casa para tentar estuprar os anjos. Imagine a cena de uns quinhentos homens, com idades variando dos doze aos, sei lá, duzentos anos (diz a bíblia que eles viviam muito naqueles tempos), tentando desesperadamente invadir uma casa para estuprar dois estrangeiros que estão lá dentro (eles não sabiam que eram anjos). Ou a situação sexual ali estava bem desesperadora, ou esses anjos eram de uma beleza inimaginável (se bem que ambas as hipóteses ainda são insuficientes para tornar o cenário plausível). Segundo, Lot, para salvar os anjos, faz uma proposta bem legal para os homens da cidade: deixaria que eles estuprassem suas duas filhas virgens, se eles deixassem os anjos em paz. Rapaz, com um pai desses, quem precisa de inimigos? Resumindo o pensamento dele, dois estrangeiros (anjos ou não) são mais importantes e têm mais valor do que suas duas filhas. Pai exemplar esse. Toda a cena é bastante cômica, se imaginarmos uma multidão de homens desesperados por sexo tentando invadir uma casa atrás de dois indivíduos, enquanto Lot tenta de todas as formas segurá-los. Deus devia estar se divertindo bastante assistindo a tudo isso.

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Resolvi escrever um pouco mais sobre religião, principalmente sobre temas que converso muito com amigos meus. Esse dos trechos curiosos da bíblia já rendeu muitas discussões divertidas pessoalmente.
Este post me deu um trabalho inimaginável, mas felizmente acho que o resultado final ficou razoavelmente bom. Tentarei manter um nível bom em todas as postagens futuras.

domingo, 12 de agosto de 2012

Alguns Pensamentos Sobre Confiança

Seria interessante se as pessoas realmente entendessem o significado daquilo que elas acham que sabem. Por exemplo, todo mundo sabe que confiança é algo que demora anos para se construir mas é destruído em segundos. Mas as vezes acho que ninguém tem a menor ideia do que isso significa.
As pessoas não entendem que quanto mais a gente confia em alguém, mais fácil é ser decepcionado por ela. E se você decepcionar essa pessoa, ela nunca mais confiará em você. Nunca mais, sabe? Aquela expressão geralmente associada à morte. A confiança morreu, acabou, nada que você faça vai fazê-la voltar.
É claro que o perdão existe, e é até (assustadoramente) comum. Mas perdoar não faz com que a confiança seja restabelecida. Nada faz com que a confiança seja restabelecida. Segredos já não serão compartilhados, intimidades já não serão completamente permitidas. As vezes existe até uma névoa de confiança ao redor, mas a confiança verdadeira, profunda, que existia antes, jamais voltará a existir.
E escrever isso me faz pensar que a traição é uma coisa muito estranha. Não para quem traiu, mas para quem foi traído. O conceito de traição não deveria existir. Afinal, se você confia em uma pessoa, você deve assumir o risco de que essa pessoa não fará jus a essa confiança - o que acontece na maioria das vezes. Então, se uma pessoa te traí, não deveria gerar exatamente decepção, e sim um sentimento de que "ok, os seres humanos não tem jeito mesmo". Mas não, as pessoas choram, fazem escândalos, se matam, só porque a outra fez aquilo que era esperado que ela fizesse. Eu acho que devemos ficar muito gratos quando alguém não trai nossa confiança, porque isso é bastante raro.
Lembrando sempre que, só porque alguém não soube de uma traição, não quer dizer que ela nunca foi traída.
Apesar de estar dizendo isso, é claro que eu já confiei em algumas (poucas) pessoas. Mas a cada vez que conto um segredo para alguém, eu tenho plena consciência de que essa pessoa pode resolver compartilhar esse segredo. Não que isso importe para mim. A única coisa que vai acontecer é que eu nunca mais vou compartilhar nenhum segredo com ela, mas não acho que isso fará falta a qualquer um dos dois.

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Comecei a escrever esse texto porque estava chovendo, mas o sol surgiu e estragou meu momento melancólico. Talvez por isso o texto não tenha ficado muito bom. Eu preciso de uma certa melancolia para escrever bem, ou ter algum fato engraçado para relatar. Infelizmente não posso relatar nenhum dos fatos engraçados que aconteceram comigo nos últimos dias, mas garanto que eles existiram e foram bem divertidos.

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Fazia quase cinco meses que eu não publicava nada. Isso não significa que eu tenha feito algo de útil nesse período, e sim que preciso urgentemente aprender a otimizar meu tempo. E meu cérebro. Estou com três ideias muito boas de textos, mas não consigo passar do primeiro parágrafo.