sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Algumas Histórias Assustadoras

Eu tenho muita dificuldade de escrever histórias de terror. Não consigo fazer uma história soar assustadora, embora desde pequenininha seja apaixonada por esse gênero de literatura. Mas na minha vida, eu e pessoas próximas de mim já presenciamos coisas bem perturbadoras, e vou contar aqui apenas algumas delas. Para efeito de credibilidade, vou evitar histórias que tratam somente de "presenças" - do tipo "eu estava no quarto quando tive a certeza de que tinha alguém atrás de mim, mas quando me virei não tinha nada" - porque essas realmente têm milhares de explicações, incluindo a possibilidade de seu cérebro estar se divertindo às suas custas. A pessoa que ler tem todo o direito de acreditar ou não, e de procurar a explicação que quiser para isso - eu mesma acho muito engraçada as hipóteses sobrenaturais, enquanto está de dia e não estou sozinha. Talvez os acontecimentos deixem de ser tão assustadores quando escritos, ou talvez eu seja péssima para escrever esse tipo de coisa e não consiga assustar ninguém, mas vou tentar passar para quem ler o mesmo que eu senti na ocasião. Bons sonhos.

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Por muitos anos, nós moramos em uma casa que tinha algo estranho. Não sei dizer que "algo" era esse, e me recuso a chamar a casa de mal-assombrada, mas tinha alguma coisa muito errada ali. Durante todo o tempo em que ficamos ali, eu, meus pais e minha irmã testemunhamos diversos acontecimentos estranhos, mas nunca falamos sobre isso - meus pais, para não assustarem eu e minha irmã, eu e minha irmã, porque éramos muito pequenas e tínhamos medo de falar sobre isso. Só quando nos mudamos e alguém comentou alguma coisa sobre o assunto foi que cada um começou a contar sobre o que tinha visto, e foi aí que percebemos que todos nós tínhamos passado pelas mesmas coisas.
Uma dessas coisas aconteceu durante a noite. Meu pai estava deitado na cama, lendo um livro. Era cedo ainda. Ele sentiu minha mãe deitar na cama, mas ela só deitou e ficou parada, sem falar nada. Ele se virou para ela e viu... Nada. Não tinha ninguém ali.
Muito assustado, ele se levantou e foi para o banheiro, onde estava minha mãe. Perguntou se ela tinha estado no quarto, e ela disse que não. De acordo com minha mãe, meu pai estava pálido. Isso porque ele não tinha apenas tido a impressão de ter alguém no quarto; ele tinha ouvido a pessoa entrar e sentido a cama se mexer quando a pessoa se deitou. Ele não tinha dúvida nenhuma de que tinha alguém ali, até se virar e não ver ninguém.

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De novo naquela casa. Antes de fazermos a reforma - nós fizemos uma reforma total na casa e isso fez as coisas estranhas ficarem muito mais estranhas - ao lado da casa tinha uma área de serviço e, por falta de espaço interno, a mesa de jantar ficava nessa área, ao lado da janela da sala. Um dia, minha mãe estava vendo tv na sala, comigo e com minha irmã, e estava perto da hora de meu pai chegar do trabalho. Ela viu pela janela, de canto de olho, alguém passar ao lado da mesa, e pensou que fosse meu pai, pois ele sempre entrava pela porta da cozinha. Só para deixar claro, a janela estava fechada e era daquele tipo de vidro que tem umas ondulações, então ela só viu um vulto mesmo. Quando ela olhou para a janela de frente - porque antes ela estava olhando para a tv - o mesmo vulto, vestindo roupas claras, passou de novo, voltando. Ela achou estranho, mas pensou que meu pai podia ter precisado entrar pela porta da sala, e abriu a porta. Não havia ninguém. Nem na porta, nem no jardim, nem na área, nem em lugar nenhum. Meu pai só chegou vários minutos depois.

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Essa é bem antiga e aconteceu com meu tio. Ele e meu pai estavam sozinhos na casa da minha avó - não tenho certeza se eles ainda eram solteiros ou só estavam visitando - e meu pai estava na sala, vendo tv, enquanto meu tio estava no banheiro. Quando meu tio foi para a sala e viu o meu pai, ficou muito pálido. Preocupado, meu pai perguntou o que tinha acontecido, mas ao invés de responder, meu tio olhou de novo para o corredor por onde tinha acabado de passar. Quando voltou a olhar para a sala, estava dez vezes mais pálido, parecia realmente que ia desmaiar. Demorou muito para que ele conseguisse explicar o que tinha acontecido.
O que aconteceu foi o seguinte: ao sair do banheiro, meu tio viu alguém sentado em uma das cadeiras da mesa da copa, e achou que era o meu pai. Quando chegou na sala e viu que meu pai estava ali, ele levou um susto, e voltou para ver se não tinha sido só impressão. Só que a pessoa continuava ali, sentada na mesma cadeira, e se balançando, de costas para ele. De acordo com meu tio, apesar de estar de costas essa pessoa parecia o meu bisavô, e ele tinha o costume de se balançar na cadeira daquela forma. Ele havia morrido há algum tempo, nessa época.

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Essa foi comigo, naquela casa "estranha". Eu já era adolescente. Estava sozinha em casa, vendo televisão - se não me engano, era um jogo das olimpíadas - e estava de dia. Eu estava lá feliz e contente, torcendo e pulando igual uma doida, quando de repente ouvi ou senti algo, não me lembro direito. Mas tive a impressão de que tinha alguém no quarto. Eu me recusei a olhar para o corredor, disse a mim mesma que parasse de inventar coisas e continuei vendo o jogo. Mas aí eu vi um vulto - sempre é um vulto... - passar entre o meu quarto e o dos meus pais. Olhei para o corredor em direção aos quartos, e isso fez eu sentir algo muito ruim, mas deixei por isso mesmo e voltei para a sala, sabendo que o simples fato de "sentir" algo não queria dizer que existisse alguma coisa ali.
Nessa época, um gato chamado Tom tinha nos adotado, e quando meus pais não estavam em casa eu deixava ele entrar e ir dormir no tapete ou embaixo da cama. Como de costume, ele entrou, espiou para a sala, eu dei oi para ele e ele foi para o quarto dos meus pais, provavelmente para dormir. Eu fiquei na sala. Pouquíssimos minutos depois, eu tive de novo aquela sensação ruim, só que dessa vez foi uma coisa horrorosa, eu tinha a certeza absoluta de que tinha alguma coisa no quarto, e antes que pudesse ir ver, o Tom deu um miado que mais parecia um guincho e saiu disparado para fora de casa, como se tivesse um monstro o perseguindo. Sem pensar duas vezes eu saí correndo também, e quando dei por mim estava no portão. Olhei para a casa e procurei sinais de algo errado, mas não havia nada, só aquela maldita sensação estranha que não parecia ser coisa da minha cabeça, porque o Tom sentira também - ou vira, quem vai saber. Muito assustada, eu saí de casa e fiquei na rua, sentada na calçada, até meus pais chegarem.

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Eu e minha irmã sempre dormimos no mesmo quarto. Um dia, eu acordei de madrugada e, ao me virar, vi meu avô abaixado ao lado da cama dela. Ele havia morrido já há algum tempo. Estava escuro, eu via mais um vulto do que qualquer coisa, mas sei reconhecer o vulto do meu avô. Enquanto eu olhava, ele olhava para a minha irmã, e de repente olhou para mim. Eu cobri a cabeça com o lençol, disse a mim mesma que estava sonhando e dormi de novo.
No dia seguinte, pensei que tinha sido só um sonho. Mas logo de manhã, minha irmã me disse que tinha sonhado com o vovô. Ela não deu detalhes do sonho, mas nem precisava - ou nós dois tivemos o mesmo sonho, ou não tinha sido um sonho. Gosto de pensar que a segunda opção era a certa, mesmo que na hora eu tenha sentido medo.

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Essa é para fechar com chave de ouro.
Era um dia de semana, e minha irmã estava em casa com meus pais. Naquela época, eu estava morando em uma republica e só ia para casa no fim de semana, por isso não estava com eles.
Era por volta das dez da noite, e todos estavam se preparando para ir dormir. Minha irmã, como sempre, resolveu lavar a louça do jantar antes de dormir, e por isso foi para a cozinha. Estava lá, lavando a louça tranquilamente, quando mamãe entrou na cozinha. Ela não viu mamãe nem ouviu ela dizer nada, mas sabia que alguém tinha entrado, e os movimentos que fez - andando até perto do armário, se aproximando dela e depois indo para o armário de novo - eram típicos de mamãe. O que minha irmã não sabia era que mamãe estava no quarto e papai no banheiro, logo, teoricamente, não deveria ter ninguém na cozinha. Mas ela tinha certeza absoluta que era nossa mãe, por isso não se virou para confirmar. Mas a "pessoa" ficou bastante tempo parada no canto, sem se mover, e então saiu sem falar nada, o que era estranho. Minha irmã disse "mãe?", e como não obtivesse resposta, ela se inclinou para trás e espiou pela porta da cozinha, na direção da copa, esperando ver alguém.
Ela viu, sim. Mas não era minha mãe ou meu pai. Era um homem, parado no canto da copa, ao lado da mesa. Estava olhando para algum lugar indefinido, parecendo pensativo. Era um homem absolutamente comum e muito real, e minha irmã ficou longos segundos parada, olhando, tentando entender. A primeira coisa que ela pensou não foi em uma aparição, e sim em um ladrão que tivesse entrado na casa. Mas então o homem olhou para ela, e quando percebeu que ela o via - foi essa a impressão que ela teve - ele a olhou com um ar de "o que você está olhando?". Quase imediatamente, ela teve a sensação de que ele estava desaparecendo, como se estivesse sumindo. Foi nessa hora que ela saiu correndo.
De acordo com ela, nunca a distância entre a cozinha e o quarto foi tão grande. Em um primeiro momento, ela tentou correr, mas travou; só na segunda tentativa ela conseguiu correr. De acordo com meus pais, quando ela chegou no quarto, ela estava branca como se tivesse visto um fantasma - e aparentemente tinha, mesmo - e claramente em pânico. Mas não quis, de jeito nenhum, dizer o que tinha acontecido. A primeira coisa que meu pai pensou foi que tinha algum bicho na cozinha - minha irmã tem pânico de insetos, principalmente de borboletas. Mas quando ele quis ir ver, ela ficou repetindo "não vai lá!", em desespero. Meu pai foi mesmo assim, mas chegando lá, não havia nada. Ele olhou todos os cômodos da casa, embora não soubesse exatamente o que estava procurando, mas não encontrou nada em lugar algum. Minha irmã estava completamente em pânico, e não quis contar nada para eles naquele dia. Só quando eu cheguei, no dia seguinte, ela me contou a história e eu a recontei para os meus pais. Durante meses ela ficou muito assustada com aquilo, e não podia entrar em um cômodo sozinha ou ouvir um barulho desconhecido, que já entrava em pânico. Só depois de bastante tempo ela conseguiu passar a falar disso mais ou menos sem problema, embora fique sempre muito incomodada.
Alguns fatos sobre o ocorrido: apesar disso ter acontecido de noite, todas as luzes da casa estavam acesas. Até ver a aparição, minha irmã não estava com medo, e nem sequer pensava em fantasmas, tanto que a primeira coisa que ela pensou foi que o homem era um ladrão. Todas as janelas e portas da casa estavam trancadas, e o bairro em que morávamos era muito tranquilo, então não só era impossível alguém ter entrado e saído tão rápido, como era extremamente improvável que alguém fosse fazer isso. O homem não era ninguém conhecido, nem sequer parecido com alguém que a gente conhecesse ou tivesse ouvido falar. Por outro lado, minha irmã teve uma imagem vívida da pessoa, como se fosse alguém "sólido", e não um fantasma ou aparição. Por fim, minha irmã é muito medrosa e nunca teve vocação para atriz, portanto a probabilidade de que ela tivesse não só inventado a história, como simulado a crise de pânico e seu evidente medo durante os meses seguintes, é mínima.
É isso. Pensem o que quiserem a respeito. Aceito sugestões e explicações.