terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Amor

"Não existe o amor, apenas provas de amor".
Essa frase é de uma música dos Titãs. Quando eu era adolescente, eu adorava essa música. E gostava só por causa dessa frase.
Eu nunca fui muito romântica. Pelo menos não no sentido convencional. Eu sonhava, claro, com um príncipe encantado. Hoje ainda sonho que um dia o Bono de vinte anos atrás vai bater na minha porta, montado em um cavalo branco, e vai me pedir em casamento (meu deus, seria ridículo). Mas romântica de ficar suspirando pelos cantos, nunca fui.
Na época em que essa música fez sucesso, eu estava apaixonada por um menino um ano mais velho que eu. Nessa época, um ano era muita coisa: eu via ele como um homem adulto, embora ele tivesse uns dezesseis anos. Mas ao mesmo tempo tinha desenvolvido um conceito muito prático sobre o que é o amor: nada. Amor não existia, pelo menos não na minha cabeça. O que existia era uma mistura de sentimentos de atração, posse, carinho e dezenas de outros, que resolvíamos juntar em um sentimento só, o qual expressávamos das formas mais ridículas possíveis. Não existe o amor; existem provas de amor.
A palavra "amor" surge, com todos os seus significados, muito mais cedo na vida das meninas do que dos meninos. Meninos também amam, mas de uma forma primitiva. Meninas não: muito novas, elas já amam da mesma forma que vão amar quando forem adultas - a única diferença é que uma criança de cinco anos não tem a menor idéia do que fazer em relação a esse sentimento. E eu, mesmo não sendo uma "menina" típica - muitas vezes era confundida com um menino - também tenho lembranças antiquíssimas de estar apaixonada por alguém.
A lembrança mais antiga que tenho é de quando tinha dois anos. Eu estava andando em frente de casa, provavelmente sem o consentimento de minha mãe, e estava admirando os meninos na rua. Tinha um garoto - que não vou dizer o nome aqui porque ele pode ler esse blog e vai ficar com vergonha - por quem eu era completamente apaixonada. Ele era mais velho, praticamente um adulto - tinha uns sete anos - e eu podia gastar horas do meu dia apenas vendo ele. Gostava de correr atrás dele, fazia qualquer coisa para tocar nele. Gostava de ver ele e os outros meninos sem camisa. Com dois anos, eu morria quando via um menino sem camisa. Achava que não tinha nada mais bonito do que o corpo de um homem. Claro que não desenvolvia os pensamentos dessa forma: ficava apenas empolgada e pulando como uma louca quando algum menino maior, mais forte e sem camisa tentava me bater, e me segurava, me fazia cair... Eu era forte e muito alta em comparação às outras crianças da minha idade, então encontrar um menino mais forte do que eu era algo que me fascinava.
O tempo passou, eu cresci mais ainda. Continuei - continuo - achando que não existe nada mais bonito do que um homem alto, forte... Tá, vou parar. Vamos voltar para o amor.
Com dezesseis anos, eu era apaixonada por um professor. É quase uma regra que as alunas do ensino médio se apaixonem pelo menos uma vez na vida por um professor. Esse não era o mais bonito, nem o mais alto, muito menos o mais forte; mas era tudo o que eu queria, e eu amava ele. Inventava músicas para ele, mandava poesias para ele. Mas, apesar de me adorar e ser meu amigo, ele nunca quis nada comigo. Pensando nisso hoje, acho que foi uma coisa boa. Eu era muito criança na época, muito mais do que devia ser.
Recentemente, mexendo em umas coisas antigas, eu encontrei um caderno que usava como diário aos doze anos. Ali estava escrito, embaixo de uns rabiscos que parecem ser tentativas de fazer um desenho: "eu ia pedir 'me ajudem pelo amor de Deus', mas lembrei que não acredito nem no amor, nem em Deus".
Impactante, claro, principalmente vindo de alguém de doze anos que não deveria nem saber formular essa frase. Não me lembro de por que escrevi, não me lembro nem de ter escrito. Não sei por que eu queria pedir ajuda, também. Mas a frase, apesar de ser bastante forte, é muito exagerada. Eu realmente pensava assim naquela época. Eu odiava tudo e todos, as pessoas hipócritas que defendiam o amor quando na verdade tudo o que queriam era sexo, os mais hipócritas ainda que fingiam acreditar em Deus quando era mais do que óbvio que só lembravam de Deus quando era do interesse deles. Coisas como essa podem fazer borbulhar a cabeça de uma criança.
Há muito tempo atrás, quando eu fiz a primeira versão desse blog, eu escrevi um texto chamado Um Pouco Sobre o Amor, onde eu falo sobre o amor (não diga...), mas envolvendo várias coisas que estavam passando por mim naquela época. Não é exatamente meus pensamentos sobre o que é o amor: é mais uma coletânea de coisas que eu queria dizer a uma pessoa, em uma forma quase poética. Mas é um bom retrato do que se passava dentro de mim há quase quatro anos atrás.
Faz muito tempo que não me apaixono por ninguém. Muito tempo mesmo. É um pouco frustrante, isso. É divertido estar apaixonado e agir como um idiota sempre que vê aquela pessoa. Por outro lado, minha vida anda melhor assim. Não tenho tantos problemas quanto tinha antes, não me magôo mais tão facilmente.
Para amar alguém, você tem que estar disposto a se magoar. Quanto mais você gosta da pessoa, maior a chance de que ela te machuque. Você tem que saber perdoar, também. Eu tenho muitas dificuldades com isso. Perdoar é para almas elevadas, e não tenho certeza se sou uma delas.
E continuo achando que não existe amor.

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Esse texto é uma coletânea de pensamentos escritos em três épocas diferentes do ano de 2010.